CPI independente é a que busca toda a verdade

Cada um dos membros dessa CPI carregará nos ombros um grave dever moral

Escrito por Eduardo Girão ,
Senador Eduardo Girão
Legenda: Senador Eduardo Girão foi eleito em 2018
Foto: Agência Senado

Desde o início de meu mandato, escolhi a independência como postura a ser adotada diante do governo Bolsonaro. Em algumas ocasiões, votei a favor do governo, por julgar que a proposta em questão era positiva ao País. Em outras, votei contra, pois considerei que a orientação do Planalto estava equivocada. Fiz isso, por exemplo, ao votar contra a indicação do agora ministro Kassio Nunes Marques para o Supremo Tribunal Federal e também quando atuei pela derrubada do decreto presidencial que flexibilizou o porte de armas no Brasil.   

Com esse fato devidamente exposto, reforço aqui o que tenho defendido nas últimas semanas junto aos meus colegas, e que, felizmente, foi ouvido pelo presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco: a única CPI realmente justa para apurar denúncias de irregularidades envolvendo recursos federais para o combate da Covid-19 é aquela que siga o dinheiro por onde quer que ele tenha passado, ou seja, União, estados e municípios.   

Apresentei o requerimento pela CPI ampla em 2 de março, muito antes da fala do presidente sobre o tema e antes da base governista mostrar interesse de adesão, fato que só ocorreu devido à mobilização popular.

Portanto, tenho independência o suficiente para defender que a administração federal seja investigada com rigor, mas restringir o alcance da CPI apenas à esfera federal seria buscar, de propósito, somente parte dos fatos, gerando mero palanque político.   

Essa opção ignoraria as evidências de mal-uso de verbas públicas que vieram à público com dezenas de operações da Polícia Federal nos últimos meses, relacionados a contratos suspeitos, superfaturamento, entre outras ilegalidades praticadas em estados e municípios, com dinheiro federal destinado ao combate contra a pandemia.

Uma delas, a Operação Dispneia, investiga o prejuízo de R$ 25,4 milhões na compra de respiradores pelo município de Fortaleza. Nesse caso, a suspeita é de desvio de recursos e crimes envolvendo licitações para aquisição de equipamentos respiradores.   

Por fim, agora, com o escopo da comissão definido, é hora de trabalho árduo por justiça ampla e busca por verdade. Cada um dos membros dessa CPI carregará nos ombros um grave dever moral. Não temos o direito de falhar. 

Eduardo Girão
Senador, do Podemos, titular da CPI da Covid