A Primeira Grande Guerra Privada

Escrito por Paulo Avelino , sociedade@paulo.avelino.nom.br

O Ministro do Exterior adentra o gabinete do Czar em agosto de 1914. Curva-se e informa que recebeu uma comunicação do Embaixador da Alemanha. A partir de 19h10 haveria um estado de guerra entre Alemanha e Rússia.  

Essa cena do clássico filme “Nicholas e Alexandra” ilustra como eram as guerras de antigamente. Alemanha contra Rússia; Itália contra Áustria; Brasil contra Paraguai. Estados contra Estados – e cada Estado mobilizava os seus soldados; dava a eles uniformes, armas e alimentação. Os Estados compravam munição e alimentos da iniciativa privada, mas ficava claro quem fazia a guerra – era um Estado contra outro Estado. 

Em artigo recente no jornal britânico “The Guardian”, um veterano britânico da Guerra do Afeganistão revelou facetas pouco conhecidas do conflito (“I served with the Nato mission in Afghanistan – it was a bloated mess” - Servi na missão da Otan no Afeganistão - era uma grande bagunça).  

A Guerra do Afeganistão teve forte presença de empresas privadas. Segundo o artigo, eram cerca de trinta mil pessoas, entre soldados pagos, assessores em diplomacia, na condução da guerra, no policiamento, na inteligência. Funções de Estado, que antigamente se davam entre governos de Estados aliados, se deram por empresas. 

Ainda segundo o artigo, a maioria dos profissionais privados se interessava fundamentalmente por pagar a faculdade dos filhos ou se livrar da hipoteca da casa – pouca ligação tinham com o país em que se matava e morria. E muitos eram pouco qualificados e muito bem pagos. Segundo o articulista, se alguém quiser entender por que o exército afegão desabou em semanas, deve levar isso em consideração. 

Essa privatização dos conflitos ocorre não só de um lado. ISIS, PKK, Al-Qaeda, ISIS-K – nos noticiários bélicos se multiplicam as siglas – que não são Estados, mas organizações. Então temos de um lado empresas privadas contratadas para liderar a luta contra organizações que também não são Estados.  

Precisa-se ver como será a guerra no futuro. Hoje o Mundo assiste ao fim do que poderíamos chamar de Primeira Grande Guerra Privada. Bem diferente daquela em que solenes ministros entregavam declarações solenes a Czares. 

Paulo Avelino 
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