Presidente do BB fica no cargo, mantém enxugamento e reacende debate sobre privatização
Ajustes devem ser feitos apenas na parte do pacote que prevê o fechamento de agências
Ameaçado de demissão pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na última semana, o presidente do Banco do Brasil, André Brandão, permanecerá no cargo, de acordo com membros do governo.
Foco do atrito com o Planalto, a reestruturação do banco será mantida, sem mudanças no plano de demissão voluntária –que continua disponível no sistema interno dos funcionários. A principal justificativa para a manutenção do programa é que ele traz incentivos e tem adesão voluntária.
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Ajustes devem ser feitos apenas na parte do pacote que prevê o fechamento de agências. Segundo relatos, é possível que haja uma revisão de parte das unidades que seriam fechadas, com substituição por outras.
Privatização
Auxiliares do ministro Paulo Guedes (Economia) afirmam que o desfecho do caso é um sinal positivo para uma eventual privatização do banco, plano desejado pela equipe econômica, mas que sofre com resistência do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
A avaliação é que manter o BB competitivo, rentável, com as contas ajustadas e sem interferência política pode abrir caminho para uma oportunidade de venda da instituição no futuro.
A revisão das agências que serão fechadas para se manter o atendimento bancário em pequenos municípios é uma atitude que membros do governo esperam dos administradores do banco e é citada, inclusive, como uma medida de bom-senso.
Isso porque fechar postos de atendimento em cidades menores é um tipo de iniciativa que gera críticas de prefeitos e estimula reações de parlamentares. Tanto o Planalto como a equipe econômica vêm sendo cobrados.
Contexto político
O momento é delicado porque Câmara e Senado estão em campanha eleitoral para a escolha de suas respectivas presidências. Na Câmara, o Planalto decidiu apoiar o candidato Arthur Lira (PP-AL) em uma disputa que segue indefinida.
Também é mencionada uma necessidade de se aprimorar a comunicação entre o banco e o governo em propostas que podem soar como sensíveis, mas que têm fundamentação técnica para a empresa.
De qualquer forma, mesmo com uma eventual reanálise, a essência do plano de enxugamento não deve sofrer grandes alterações.
Nos planos do Ministério da Economia para uma privatização do BB, o time de Guedes defende que as políticas de governo no setor bancário tenham como foco a Caixa Econômica Federal, com microcrédito, pagamento de benefícios, auxílios e outros serviços, e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para operações mais estruturadas e de longo prazo.
Membros da pasta afirmam que o país é bem servido pelas instituições de varejo do setor privado, e registra um forte crescimento da abrangência dos bancos digitais.
A privatização do BB é defendida por Guedes, enquanto Bolsonaro não quer ver o assunto discutido em seu mandato. Em reunião no Palácio do Planalto em maio de 2020, o ministro reiterou sua posição pela venda.
"BNDES e Caixa, que são nossos, públicos, a gente faz o que quer. Banco do Brasil a gente não consegue fazer nada e tem um liberal lá. Então tem que vender essa porra logo", afirmou Guedes em reunião ministerial do dia 22 de abril. A fala está em vídeo gravado pelo Planalto e tornado público pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
O então presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, defendeu no encontro a venda do banco. Mas Bolsonaro vetou o assunto. "Isso aí só se discute, só se fala isso em 2023, tá?", disse o presidente da República.
O processo de fritura do presidente do BB começou na semana passada, após a divulgação do plano de enxugamento.
Medidas
A cúpula do banco já via necessidade de mudanças na estrutura, mas o desenvolvimento do programa de reestruturação só foi adiante após a posse de Brandão.
O programa de demissão voluntária pode levar à saída de até 5 mil funcionários. Mas o fechamento de agências, que gerou insatisfação entre parlamentares e suas bases políticas, foi tratado como o estopim para a irritação do presidente.
Membros do governo afirmam que o anúncio veio em momento ruim porque poderia atrapalhar as negociações para a eleição do comando do Congresso. Além disso, argumentam que o país passa por uma alta nas taxas de desemprego e que o programa de enxugamento poderia se tornar mais uma pauta negativa para o governo.
Bolsonaro chegou a determinar a demissão de Brandão, mas foi convencido a recuar por Guedes e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.