Semelhanças entre sintomas podem confundir diagnósticos
Sarampo, catapora e rubéola, apesar de serem transmitidas por meio de vírus, têm características próprias
Começa com febre, dor de cabeça, tosse e mal-estar geral, depois aparecerem pintinhas vermelhas por todo o corpo. E aí a dúvida: é sarampo, catapora, rubéola ou simples virose?
Foi assim com o filho de 2 anos de Tereza Bezerra, moradora do Caça e Pesca, e com mãe e filha (Maria e Juliana, nomes fictícios das duas, que pediram para não serem identificadas), da Cidade 2000. No primeiro caso, tudo não passou de um susto, e o garoto estava com uma virose. No segundo, as duas tiveram diagnósticos, com exames (prova e contra-prova) do Laboratório Central do Estado (Lacen) positivos para sarampo.
A coordenadora da Unidade Básica de Saúde Rigoberto Romero, na Cidade 2000, Maria de Lourdes Pereira Rodrigues, conta que quando elas chegaram no posto com todos os indicativos do sarampo, foi necessário isolar a área e todos na unidade colocaram máscaras. "Tomamos as providências para que não houvesse perigo de contaminação por mais alguém que estava no posto", informa ela.
As ações, afirma, são fundamentais não só nos casos suspeitos de sarampo, como também de rubéola e catapora. Enfermidades que, segundo especialistas, são transmitidas por gotículas da respiração, tosse ou ambiente infectado e podem permanecer no ar por até 15 dias antes mesmo do aparecimento dos sintomas. Então, nada de receitas caseiras, é preciso ir ao médico.
Vacinação
Somente a vacinação protege contra essas enfermidades. Desde 2013, o Ministério da Saúde introduziu a vacina tetra viral, que protege contra sarampo, caxumba, rubéola e varicela (catapora), na rotina de vacinação de crianças entre 6 meses e 2 anos de idade que já tenham sido vacinadas com a primeira dose da vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola).
O que difere uma da outra é que no caso do sarampo, inicia-se febre alta e placas ásperas avermelhadas pelo corpo após o quinto dia de contaminação. Na catapora, após febre moderada, em 24 a 48 horas, as manchas dão lugar a pequenas bolhas que causam coceira. Já na rubéola, as manchas se iniciam no pescoço, estendendo-se para tronco, pernas e braço.
Em todos os casos, reafirma o infectologista Anastácio Queiroz, é necessário procurar um médico. "É necessário se alimentar de forma saudável, beber bastante líquidos e fazer repouso. Geralmente, o tempo médio de repouso é de seis a dez dias para eliminar o risco de contágio". No caso específico do sarampo, o médico faz um alerta. "É preciso mais agilidade por parte das secretarias municipais de saúde no combate à doença", afirma.
Para ele, os 32 casos confirmados neste ano no Ceará já são, por si só, motivos para uma campanha mais eficaz e a realização de bloqueios nos locais onde são notificados os casos. "Os exames devem ter os resultados mais rápidos, assim como a ação por parte dos agentes de saúde e do poder público, objetivando envolver a comunidade, porque sem ela, não podemos combater o avanço", aponta.
Para o vírus do sarampo o único reservatório é o homem. É transmitido diretamente de pessoa a pessoa, por meio das secreções nasofaríngeas, expelidas ao tossir, espirrar, falar ou respirar. O período de incubação se dá, geralmente em dez dias (variando de sete a 18 dias), desde a data da exposição até o aparecimento da febre, e cerca de 14 dias até o início do exantema.
Cuidados
As crianças até 6 meses de idade não podem ainda tomar a vacina, no entanto, as mães que não comprovem que já tiveram a doença ou não são imunizadas, são obrigadas a receber a dose.
Por isso, Janaína Visqueira da Silva procurou, nesta quinta-feira, a Unidade Básica de Saúde Rigoberto Romero. Mãe de João Gabriel, de 5 meses, não sabia se já tinha tido sarampo ou se vacinado. "Em casos assim, a recomendação é vir ao posto e tomar a vacina, pois ela pode contrair a doença e passar para o filho por meio da amamentação", declarou a coordenadora Maria de Lourdes.
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informa que, para evitar a disseminação do sarampo, realiza o bloqueio vacinal nos casos notificados, varreduras (visitas domiciliares com aplicação de vacina), além de campanhas educativas, intensificação da vacina nos 93 postos de saúde da Capital, entre outras medidas que compõem o plano de ação de Fortaleza.
CE registra 720 casos de sarampo
O Ceará registrou 728 casos confirmados de sarampo em 31 municípios cearenses, do dia 25 de dezembro de 2013, início do surto da doença, até a última sexta-feira, 13 de fevereiro. Os dados são do último boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde do Estado (Sesa).
Do total, 200 são em crianças menores de 1 ano de idade, dos quais 71 ocorreram em pessoas com menos de 6 meses de idade. Este número representa 35,55% dos casos em menores de 1 ano.
Tendo em vista esse percentual expressivo, os pais não podem esquecer que o compromisso com a saúde das crianças começa cedo. Portanto, os especialistas da área indicam que quando as crianças completam 6 meses é preciso levá-las às Unidades Básicas de Saúde para serem imunizadas.
No aniversário de 1 ano, precisam ser vacinadas novamente com a tríplice viral. Quando tiverem 1 ano e 3 meses, devem ser vacinadas de novo. Desta vez, com a tetra viral, que protege contra o sarampo, rubéola, caxumba e catapora.
De acordo com o Município de Fortaleza, a maioria dos casos segue pulverizada em bairros das Secretarias Regionais II, V, VI, como no caso do Grande Bom Jardim, Vicente Pinzón, Cais do Porto, Jangurussu, Barroso, Granja Portugal, Conjunto Esperança, Cidade 2000 e Parque São José.
Saiba mais
Sarampo
Quais os sintomas?
Caracteriza-se por febre alta, acima de 38,5°C, exantema maculopapular generalizado, tosse, coriza, conjuntivite e manchas de Koplik.
Como se transmite?
É de quatro a seis dias antes até quatro dias após o aparecimento do exantema. O período de maior transmissibilidade é dois dias antes e dois dias após o início do exantema.
Como tratar?
Não existe tratamento específico. É recomendável a administração da vitamina A em crianças acometidas pela doença, a fim de reduzir a ocorrência de casos graves e fatais. O tratamento profilático com antibiótico é contraindicado.
Lêda Gonçalves
Repórter