Registros de violência contra idosos aumentam 32,5% de janeiro a maio em Fortaleza
Ainda não há pesquisa que analise a relação do aumento dos casos com a quarentena. No entanto, maior parte das violências acontece em casa
De janeiro a maio de 2020, foram 330 casos de violência contra idosos em Fortaleza denunciados ao Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), por meio da Secretaria Executiva das Promotorias de Justiça do Idoso e da Pessoa com Deficiência. No mesmo período de 2019, o número era de 249 casos. Isso corresponde a 32,5% de aumento no número de denúncias. A quantidade já representa quase metade de todas as denúncias recebidas pelo órgão no ano anterior, que teve 672 casos.
“Os idosos são vítimas da doença (Covid-19) e são vítimas mais uma vez em casa, quando as famílias, ao invés de cuidar, acabam praticando crimes, cometendo tanto omissões em relação ao cuidado, como violência patrimonial e em alguns casos até física”, afirma Eneas Romero, promotor de Justiça e coordenador do Centro de Apoio Operacional da Cidadania (Caocidadania).
De acordo com o promotor, ainda não existe uma pesquisa que analise a relação do aumento dos casos com a pandemia. No entanto, ele explica que a quarentena e o isolamento social tem gerado problemas de saúde mental e estresse, o que pode resultar na violência intrafamiliar. A maioria dos crimes acontecem em casa e são realizados por pessoas próximas à vítima, como parentes, vizinhos ou cuidadores.
A violência patrimonial é uma das principais causas das denúncias, segundo o promotor. Casos de negligência, em que o idoso não recebe alimentação, higiene ou medicamentos de forma adequada, também são bastante observados pelo órgão. Em algumas situações, a falta de cuidados e a apropriação indevida do dinheiro do idoso acontecem juntas.
Eneas também destaca que relações abusivas podem ter se intensificado. Além disso, como os idosos estão impedidos de participar de atividades públicas, corre o risco da violência ficar escondida.
Como denunciar
Para a vice da Comissão dos Direitos da Pessoa Idosa da OAB-CE, Patrícia de Abreu Viana, falta conhecimento dos canais de proteção na população idosa. Ela orienta também que as pessoas próximas de um idoso devem observar mudanças bruscas de comportamento, se está mais retraído, se deixou de comer ou outras diferenças, já que isso pode indicar que algo está errado no tratamento que ele recebe. “Não pode deixar de fazer o contato, mesmo que por videochamada, para verificar se a pessoa está passando por alguma necessidade”, diz. Em caso de suspeita de maus-tratos, é importante tirar o idoso da convivência do agressor.
Os órgãos atendem denúncias por telefone ou de forma virtual, devido a pandemia do coronavírus. Não é indicado que o idoso saia de casa para fazer a denúncia, já que são grupo de risco da doença. O sigilo é garantido. Alguns canais de denúncia são a Delegacia de Proteção ao Idoso e à Pessoa com Deficiência, pelo (85) 31012496 ou por meio do e-mail dpipd@policiacivil.ce.gov.br, a Promotoria do Idoso, pelo (85) 32265886, ou o Disque 100.
Violência Letal
Apesar da maioria das vítimas dos Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs) serem jovens, pelo menos 40 pessoas com mais de 60 anos foram assassinadas no Ceará de janeiro a maio de 2020. Dentre elas, 18 tinham mais de 70 anos de idade. Em 2019, foram 34 idosos vítimas de homicídio no Estado no mesmo período. As estatísticas estão disponíveis no site da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).
Foi solicitado, por meio da assessoria de imprensa do órgão, dados que detalhassem as ocorrências registradas de violência contra idosos nos primeiros cinco meses de 2020 e 2019. As informações não foram repassadas até a publicação desta reportagem.