Quase 380 mil fortalezenses já estão imunes ao novo coronavírus

Dados preliminares da primeira fase de uma pesquisa realizada pelo Governo do Ceará e pela Prefeitura de Fortaleza indicam que 14,2% da população têm anticorpos contra o novo coronavírus; duas novas fases ainda serão realizadas

Escrito por Nícolas Paulino/Lívia Carvalho/Cadu Freitas , metro@svm.com.br
Ao todo, foram realizados 116.454 testes rápidos em junho
Legenda: Foram realizados 116.454 testes rápidos em junho no Ceará
Foto: Helene Santos

O primeiro levantamento específico sobre a real abrangência da Covid-19 na cidade de Fortaleza apontou que 379.047 pessoas apresentam anticorpos para combater o novo coronavírus, ou seja, em outras palavras, já contraíram a doença e estão imunes. O número representa 14,2% da população da Capital e é uma estimativa segundo dados preliminares da primeira fase do inquérito de soroprevalência.

Divulgada nessa sexta-feira (19), a pesquisa foi promovida pelo Governo do Estado e pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e realizada pela Prefeitura de Fortaleza e pelo Instituto Opnus. A 1ª das três fases do estudo ocorreu entre 2 e 15 de junho na Capital e aplicou questionários em 3.300 habitantes de 39 bairros nas seis regionais.

Cada participante da pesquisa foi sorteado entre os membros de sua família no momento da análise; com eles, também foram realizados testes rápidos para detecção da Covid-19. Contudo, o próprio estudo avalia que há "limitações" por causa da aplicação desse tipo de exame, uma vez que ele detecta a presença do vírus em um intervalo de tempo específico.

Conforme nota técnica da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), publicada no dia 13 de junho, "para ter maior sensibilidade na detecção dos anticorpos, é indicado que o exame seja realizado após o 8º dia contado a partir do início dos sintomas".

Para o secretário da Saúde do Ceará, Carlos Roberto Martins, o Dr. Cabeto, o dado de 14,2% é considerado alto quando comparado a outras cidades do mundo. Wuhan, epicentro da pandemia na China, registrou 10% em estudo similar; em Nova York, foi quase 20%. "Se isso for confirmado mais na frente, significa que um maior percentual dela estaria protegida de novos surtos, pelo menos no curto prazo. Isso não quer dizer que quem não tem anticorpos está sob risco, mas traz um alerta de que ainda precisamos manter o isolamento social e cumprir o decreto", explora.

O gestor informou que um levantamento semelhante está sendo realizado em Sobral, na Região Norte, e Iguatu, no Centro-Sul, áreas que tiveram aumento de registros de novos casos e maior demanda assistencial nas últimas semanas. Em Fortaleza, outras duas fases com mais 3.300 testes rápidos e questionários ainda devem ser efetivadas para corroborar ou refutar os dados.

Barra do Ceará

A pesquisa revelou que, em toda a Capital, para cada caso confirmado, há a estimativa de 12 outras contaminações. A chamada razão de infecções, valor que se aproxima do nível de subnotificação.

Enquanto a média em Fortaleza é de 14,2%, o bairro com maior número de contaminações, segundo o estudo, é também o mais atingido até o momento pela pandemia. Na Barra do Ceará, o índice vai a 23,5%.

O bairro da orla, caracterizado por grande adensamento populacional e vulnerabilidade social, foi o que teve maior número de mortes pela Covid-19, de acordo com a Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza (SMS). Até às 10h, de ontem (19), foram 117. Os bairros vizinhos, Cristo Redentor e Pirambu, apresentaram 68 e 40 óbitos, respectivamente, e dividem um índice de soroprevalência de 21,5%.

Na Regional I, os anticorpos contra o coronavírus foram encontrados em 20,3% dos participantes da pesquisa. A Regional IV, em segundo lugar, teve média de 15,4% de soroprevalência, com destaque para os bairros Itaperi e Serrinha, com 19,5%. Nas Regionais de III a VI, o percentual variou de 14,2% a 14,8%. O menor índice foi registrado na Regional II, com 7,1%. Meireles e Aldeota, os bairros com maior índice de desenvolvimento humano da cidade, registraram apenas 4% de soroprevalência.

Com relação às estimativas de contaminação. Para cada caso identificado na Regional I, há outros 19 sem notificação; já na Regional II, a proporção é de um para quatro. A soroprevalência de mulheres e homens foi semelhante, mas taxas maiores foram observadas em grupos com maior faixa etária, menor escolaridade e renda e habitações com maior número de moradores.

Mortes por Covid-19 em Fortaleza

Isolamento

O epidemiologista Antônio Lima, gerente da Vigilância Epidemiológica de Fortaleza, reforça a importância do isolamento social, já que as questões imunológicas da Covid-19 ainda não estão muito bem estabelecidas sem o exato conhecimento sobre o comportamento da doença.

"O que está acontecendo no mundo inteiro é que estamos chegando perto de uma descendência sem o que se costuma chamar de imunidade de rebanho, quando 50 a 60% da população apresentam anticorpos. Por isso, há um esforço de elucidar essa questão".

A imunidade de rebanho ocorre quando uma quantidade expressiva da população é atingida. E, por serem tantos infectados, o vírus não consegue mais se disseminar com tanta rapidez, desaparecendo aos poucos. O número, porém, é alto e, segundo essa estimativa, Fortaleza atingiu 1/4 do total da imunidade de rebanho, estimada, atualmente, em 60% da população.

Novos surtos

Por ser uma doença nova, novos surtos não são descartados por Cabeto, assim como tem acontecido em países como a China e na Nova Zelândia, onde já havia uma estabilidade. No entanto, o secretário garante que os responsáveis do Ceará e de Fortaleza têm se munido dos dados diários para acompanhar a evolução da Covid-19 e evitar um possível agravamento.

Para ele, a situação evidencia, portanto, a importância do reforço da testagem e da pesquisa. "Há sim um receio. Estar em flexibilização não quer dizer que a pandemia acabou, estamos acompanhando esses indicadores para que a gente detecte se há mudança no perfil epidemiológico. Com essa pesquisa de situação viral, podemos antecipar pequenos surtos em bairros e regiões específicas", aponta.

"Estamos diante de um plano de flexibilização que vai ocorrer por região de saúde. Cada um é responsável tanto quanto nós para o cumprimento das ações. Vai depender disso poupar o máximo de vidas possível", reforçou Cabeto. "Continuamos em isolamento social, embora tenhamos números animadores com menos casos e menor demanda assistencial", lembrou a secretária municipal de Saúde de Fortaleza, Joana Maciel.

Flexibilização

Desde o dia 1º de junho, o Ceará iniciou o plano de retomada das atividades econômicas, composto por quatro fases e uma de transição, cada uma tem duração de 14 dias para avaliação dos indicadores da saúde. Fortaleza segue na primeira fase até este domingo (21), enquanto o interior do estado permanece na transição.

A decisão da evolução das fases é feita por um comitê técnico a partir dos dados sobre a enfermidade em todo o Estado. Dr. Cabeto explica que, para que haja o prosseguimento, são analisados indicadores fundamentais: redução persistente por 14 dias do número de óbitos; redução persistente da taxa de ocupação e do número de internados em UTI's e enfermarias; e redução do número de infecções ou novos casos.

Covid-19 no Ceará

Em todo o Estado, já foram registrados 90.441 casos da doença, segundo boletim desta sexta-feira (19) divulgado na plataforma IntegraSUS, gerenciada pela Sesa. O número de óbitos chegou a 5.497 e a taxa de letalidade é de 6,1% A capital cearense detém a maior incidência da doença com 32.531 diagnósticos positivos. Além de Fortaleza, Sobral, Caucaia e Maracanaú lideram o número de casos no Estado.

Em 15 e 16 de junho, foram registradas as menores taxas de transmissão desde a detecção oficial da doença no Ceará. O índice foi de 0,73, ou seja, cada grupo de 100 infectados com o vírus pode contaminar outros 73 saudáveis.

O boletim aponta ainda que, até o momento, 65.980 pessoas se recuperaram da doença e que há 58.085 casos em investigação. Ao todo, 214.482 testes foram realizados no Ceará. Os indicadores sobre internações mostram que 69,56% dos leitos de UTI e 46,91% de enfermarias estão lotados.

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