Por segurança, ciclistas optam cada vez mais por pedalar em grupo

Além da socialização, usuários buscam companheiros de treino ou lazer para minimizar risco de assaltos ou acidentes. Acúmulo de experiência deve ser levado em conta antes de trafegar em rodovias de fluxo veicular mais intenso

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Av. Washington Soares é apontada pelos ciclistas como uma das vias de maior risco devido ao fluxo intenso
Foto: Natinho Rodrigues

Usuário vulnerável do trânsito, acima apenas dos pedestres na hierarquia de responsabilidades estabelecida pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB), o ciclista tende a buscar maior espaço e ficar sempre visível nas vias na tentativa de impor mais respeito sobre modais maiores e mais potentes. No entanto, usuários veteranos de Fortaleza apontam que a inexperiência na atividade pode ser um fator de risco para acidentes.

José Rogério de Farias, organizador de pedaladas do grupo Ciclo Adventure Fortaleza há 15 anos, percebe maior adesão às bikes nos últimos cinco. "Antes da pandemia, a ciclofaixa de lazer tinha de 3 mil a 4 mil pessoas aos domingos", observa. No entanto, ele defende a necessidade de se ganhar prática antes de arriscar passeios em CEs ou BRs, consideradas mais perigosas pelo fluxo rápido de veículos.

"Quando você está numa CE, só existe ciclovia no meio da rodovia. Se é um grupo de 30, 40, 50 pessoas, com carro de apoio, você pode usufruir da faixa da direita e tem batedores orientando, mas se for sozinho ou em pequenos grupos, tem que ser experiente para perceber a distância que o carro vem junto com a velocidade dele", analisa.

Rogério acredita que a prática apenas recente da professora Julita Medeiros, atropelada numa estrada do Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza, no último dia 13 de agosto, pode ter contribuído para o acidente. Ela havia começado a pedalar com o marido cerca de um mês antes do sinistro fatal.

Precauções

A CE-040, onde a professora morreu, encabeça a lista de rodovias com mais acidentes com ciclistas em 2019: foram 10, de acordo com o Departamento Estadual de Trânsito (Detran-CE). Em seguida, vieram a CE-060, com sete casos, e a CE-187, com seis.

A técnica em informática Luanny Costa, 28, que utiliza bike desde os 15, aderiu aos passeios coletivos porque, além de considerar a bicicleta um modal mais prático, barato e menos poluente, ajuda a minimizar a sensação de insegurança percebida ao pedalar sozinha. Os trajetos do bairro Parque Araxá à Beira-Mar variam de 18 km a 20 km, ida e volta, e são percorridos por cerca de oito pessoas.

"Em grupo, a gente se sente mais segura até mesmo por assalto, visibilidade, e não fica tão vulnerável. Um vai conversando com o outro e sempre tem um condutor na frente", relata Luanny.
Para ela, os ciclistas também devem obedecer ao regramento do trânsito. "Bicicleta exige atenção, mas vejo gente andando de fone de ouvido ou querendo ultrapassar de qualquer jeito. Se não existir parceria, acaba dificultando", pontua.

Contudo, pedalar em grupo não é garantia total de segurança. No dia 28 de junho, Rafael Vitor Simeão, 35, morreu após ser colhido por um carro na CE-085, em Caucaia. Ele pedalava com um grupo de amigos. Outro homem foi atingido, mas sobreviveu.

Para o organizador Rogério de Farias, quem quer iniciar as pedaladas deve sempre usufruir de ciclovias e ciclofaixas, utilizando também equipamentos de proteção. Ao fazer transições em vias mais movimentadas, o ideal é descer e empurrar o modal; se possível, em faixas de pedestres. "É melhor obedecer àquela máxima: parar, olhar e escutar. Para quem tem experiência, a mesma coisa", recomenda.

Monitoramento

O Detran-CE declara que realiza campanhas e blitze educativas para ciclistas sobre a conduta segura que devem ter no trânsito, orientando ainda motoristas, pedestres e motociclistas sobre a convivência segura entre eles.

Já a PRF-CE garante que presta apoio para minimizar a acidentalidade em eventos de ciclismo em grupo. Caso um time queira realizar um passeio que implique tráfego em rodovia federal, "pode ser feita uma solicitação com 30 dias de antecedência para a PRF através de ofício, que viabilizará para que o evento ocorra nas condições mais seguras possíveis", indica.

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