Pitaguarys incendeiam comércio de posseiro

Escrito por Redação ,
Legenda: Os índios incendiaram a churrascaria Brisa do Lago e a casa do posseiro Cícero Nobre após uma série de conflitos que está sendo intermediado pela Funai
Foto: Silvana Tarelho
Os índios Pitaguary cansaram de esperar. Querendo tranqüilidade e a desocupação de suas terras, no Santo Antônio do Pitaguary, em Maracanaú, a comunidade partiu para ações concretas contra o posseiro Cícero Nobre, que vinha sendo pivô de conflitos na região. Nas primeiras horas de ontem, cerca de 200 índios atearam fogo na churrascaria Brisa da Serra e na casa do posseiro. Também queimaram palco, pista de dança e 15 palhoças existentes no empreendimento. Tudo estava construído em área de açude aterrada ilegalmente.

A ação foi encorpada por membros de outras tribos - Tapeba, Tremembé e Jenipapo Kanindé - que estavam no local, há duas semanas, realizando trabalhos de conscientização junto aos pitaguarys. Os líderes das tribos queriam identificar quantos dos 1.800 índios da localidade estavam “do lado” de Cícero Nobre.

De acordo com Dourado Tapeba, coordenador da Articulação dos Povos Indígenas no Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), tudo estava sendo feito para evitar atitudes drásticas como a de ontem, mas, agressões realizadas contra um membro da comunidade, domingo passado, motivaram o incêndio.

Ele conta que, depois do índio ter sido espancado a pauladas por homens de Cícero Nobre, a comunidade revoltada reuniu-se e, posteriormente, deu um prazo de 48 horas para o posseiro desocupar a área. “Ele já tinha saído, mas, estava ‘enrolando’ para tirar as coisas daqui. A comunidade cumpriu sua palavra e tocou fogo”, disse. Dourado acrescentou que todos os pertences do posseiro foram retirados antes da ação.

Para o cacique Pitaguary Francisco Daniel, mesmo com a destruição da churrascaria, a tranqüilidade não está garantida na área indígena de 1.735 ha, visto que ainda comporta 118 posseiros. Mas, admite que a saída do “cabeça” dos conflitos pode diminuir o número de ameaças enfrentadas. Para ele, a permanência dos companheiros das outras tribos é fundamental para impedir retaliações.

Segundo Alexandre Abreu, chefe local substituto da Fundação Nacional do Índio (Funai-CE), todo acompanhamento será dado para garantir a integridade física e moral dos índios. Informou que a comunidade avisou previamente que iria tomar a atitude do incêndio, o que foi oficialmente comunicado à Polícia Federal para as devidas providências. “É preciso entender e respeitar que eles são outro povo, com suas próprias leis. Precisamos garantir o respeito a decisão da comunidade”, disse, informando que um relatório do incidente já foi enviado à sede da Funai em Brasília.

Os pitaguarys necessitam de doações de alimento para manter os companheiros das outras tribos, pois eles deixaram tudo em suas terras, inclusive o sustento. Doações podem ser enviadas à Pastoral Indigenista da Arquidiocese de Fortaleza.

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