Ocupação de enfermarias cai, mas de UTIs fica acima de 80% em maio
Média de preenchimento dos leitos comuns foi de 70%, e vagas de alta complexidade ficaram 84,8% ocupadas no mês, nas redes pública e privada; Índice de UTIs precisa se consolidar abaixo de 85% para retorno de atividades
Os dígitos que contabilizam a presença da Covid-19 no Ceará já impactam, figuram entre os três maiores do Brasil, e seriam ainda maiores se não fossem as contaminações subnotificadas. Muitos casos sequer são notificados, enquanto outros tantos, mais graves, chegam aos leitos de internação em enfermarias e UTIs: que, apesar de discreta queda da demanda, continuam com índices altos de ocupação, principalmente na rede pública. De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), a ocupação das UTIs precisa estar abaixo de 85% para retorno de atividades.
O Ceará ultrapassou a marca de 38 mil casos confirmados de Covid-19, nessa sexta-feira (29), com 38.395. Do total, 2.859 já evoluíram para óbitos, resultando numa taxa de letalidade de 7,4% no Estado. Outros 25.858 casos constam como recuperados. Em Fortaleza, são 21.705 confirmações, 1.877 mortes e 14.317 pacientes que tiveram alta ou estão curados do novo coronavírus. Os dados foram atualizados pelo IntegraSUS, da Sesa, às 17h53 de ontem.
Nesse contexto, os leitos de alta complexidade ainda têm sido os mais demandados, como apontam dados disponíveis no IntegraSUS. A taxa média de ocupação das vagas de UTI no Estado durante o mês de maio, considerando públicas e privadas, foi de 84,8%. Se analisados os dados separadamente, a média de preenchimento das vagas em UTIs de hospitais privados e filantrópicos foi de 80,4%; já nos públicos, no período entre 1º e 28 de maio, o índice chegou a 88,3%.
Pico
O pico da ocupação das UTIs neste mês ocorreu no dia 22 de maio, quando mais de nove a cada dez vagas estavam ocupadas (90,95%). Observando só a rede privada, o maior índice também foi alcançado no dia 22, com 89% dos leitos preenchidos. Nas vagas públicas, o pico foi atingido dia 24, com 94,7% ocupadas. Na média geral, a taxa que indica a demanda por leitos de UTI em todo o Ceará só ficou abaixo de 80% em seis dos 28 dias observados, todos na primeira quinzena. A menor ocupação média foi registrada no dia 9 de maio: 73,7%.
A necessidade de leitos de enfermaria, contudo, tem apresentado redução, ainda que discreta, tanto em hospitais privados como públicos. Após um pico registrado no dia 14 de maio, quando 76,7% das vagas estavam ocupadas por pacientes de Covid-19, a média de ocupação oscilou até cair, chegando a pouco mais de 62%, no dia 28 deste mês. Observando apenas a rede privada, o pico de lotação foi no dia 17, com 79% das vagas preenchidas. Nas enfermarias públicas, o maior número foi alcançado antes, dia 14, com 76,5% de ocupação.
A taxa de ocupação de leitos de UTI no Estado é um dos quatro critérios que vão condicionar o retorno gradual das atividades econômicas e sociais no território cearense, junto ao número de internações, de óbitos e às particularidades territoriais. Conforme o secretário da Saúde do Ceará, Carlos Roberto Martins Sobrinho, Dr. Cabeto, "é preciso haver redução progressiva na ocupação de leitos de UTI em 14 dias, ficando em torno de 85% pra menos de taxa de ocupação". Serão considerados nessa conta os leitos específicos de Covid-19 - cerca de 2,3 mil, dos quais 680 são de UTI, segundo a Sesa.
De acordo Dr. Cabeto, embora a demanda de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) seja maior, a média a ser levada em consideração para o avanço da flexibilização inclui leitos tanto de unidades públicas como de privadas, porque "entende-se o sistema de saúde como um todo". "Isso é uma das coisas que essa pandemia mostrou: a necessidade de entendermos os sistemas público e privado conjuntamente, e como vamos atender a sociedade naquela região. Então, quando falamos de ocupação, é a média global da nossa região de saúde", pontua.
Parâmetro
Para acompanhar esse indicador, considerado um dos mais importantes para monitorar o sistema e impedir um novo colapso diante da pandemia, a Pasta vai "usar como parâmetro o número de atendimentos na porta de entrada dos leitos graves, que são UPAs, emergências e postos de saúde". O titular da Sesa alerta que é fundamental que as medidas de prevenção - como isolamento social, uso de máscaras e atenção à higiene pessoal e de superfícies - sejam mantidas, para que não haja aumento de casos diários e impedimento da reabertura das atividades.
"Temos quatro fases para essa flexibilização econômica, e uma que antecede, essa de transição iniciada dia 1º. Nessa primeira fase, estamos usando só critérios assistenciais, porque é experimental. Depois de sete dias, vamos observar a redução do tempo médio de ocupação das UTIs, de pacientes internados e de casos novos. Isso precisa ser consistentemente adequado, precisa haver redução consecutiva nos 14 dias que antecedem a próxima fase. Se um indicador não se enquadrar, não passamos à fase seguinte", sentencia Dr. Cabeto.
Quanto ao número de óbitos, o secretário afirma que a obtenção do resultado do exame de pacientes que morreram sob suspeita de Covid-19 tem sido priorizada, para que o número real seja acompanhado de forma mais eficaz. "Já sabemos que há um platô e uma tendência de redução. Na semana passada, de 100 exames, 80 davam positivo. Hoje, dos 100, 50 dão positivo. Dá pra ter ideia de que essa média está caindo", estima.
Atendimento precoce
Para o infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Anastácio Queiroz, apesar das medidas preventivas, os casos do novo coronavírus "vão continuar ocorrendo", mas é necessário atentar ao atendimento precoce, para que não se estrangule a capacidade dos leitos. "O fundamental é que a gente estabeleça uma rotina de atendimento, que se trate as pessoas cedo, para evitar que parem no hospital. Não há dúvidas de que tratamento precoce evita internamento em enfermarias, UTI e, assim, os óbitos", avalia.
Outro fator decisivo, como destaca o Dr. Anastácio, é a manutenção da rede criada de forma emergencial, mesmo após a pandemia. "Os leitos privados, daqui pra frente, darão conta da população que vai adoecer. A questão é que um percentual grande da população ainda não tem imunidade, vai continuar exposta. Temos que continuar orientando as pessoas. Se deixarmos os leitos que estão hoje para Covid, vai dar conta", opina o infectologista.
Segundo Dr. Cabeto, a estrutura de novas UTIs criada no interior do Estado, por exemplo, deve ser mantida, "era um plano já em execução para fortalecer o desenvolvimento regional, só precisamos apressar". É preciso, porém, "otimizar o gasto público" para sustentar a rede.