Jovens representam 13% do eleitorado de Fortaleza e exigem representatividade nas esferas públicas

Conhecer a necessidade da juventude da capital cearense embasa políticas públicas mais acertadas para o combate às desigualdades sociais

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
Legenda: Liniane Santos integra o eleitorado jovem da Capital. Para ela, a escolha de representação hoje passa por políticas mais inclusivas
Foto: Thiago Gadelha

Estão aptos a participar da escolha dos novos representantes da Prefeitura e da Câmara de Vereadores de Fortaleza, nas eleições deste domingo (15), 240.615 jovens entre 16 e 24 anos, 13,21% do eleitorado da Capital, conforme as estatísticas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) atualizadas neste mês de outubro. São mulheres (125.918) e homens (114.697) com olhares plurais sobre desafios antigos da cidade, e que apostam no diálogo para vencer a falta de oferta de infraestrutura básica nas comunidades, as desigualdades de gênero, de cor e de classe. Tendo como exigência a representatividade, os grupos jovens esperam por ampliação de acesso à educação, descentralização dos serviços públicos, melhores condições sanitárias e de moradia, além de opções culturais e de lazer.

A professora Celecina Veras Sales, do Departamento de Estudos Interdisciplinares da Universidade Federal do Ceará (UFC), avalia que os candidatos ainda precisam dar maior atenção ao eleitorado juvenil em Fortaleza.

"Os jovens têm muitos grupos organizados, a juventude tem vários movimentos ligados às igrejas, aos partidos e aos movimentos sociais, que têm setores de juventude e a grande demanda é que ela seja ouvida e seja pensada nas suas necessidades básicas, não só de trabalho e formação, mas de lazer".

Tais espaços são produtores de ideias e reivindicações relevantes ao desenvolvimento da cidade. Assim, indica a especialista, os futuros gestores precisam ampliar formas de diálogo com os jovens para implementar políticas voltadas para seus anseios.

Hoje, quando a apuração das urnas mostrar os novos gestores, começa outra fase com o potencial de transformar a realidade da periferia de Fortaleza. É no que acredita Caio Oliveira, 18, na sua primeira participação como eleitor em um pleito.

"O que eu acho mais necessário que tenha investimento hoje, em Fortaleza, são políticas relacionadas à educação, esporte e à cultura. Acredito que esses meios são os quais nós vamos conseguir uma mudança efetiva na sociedade, dar mais acesso aos instrumentos transformadores para conseguir diminuir esse contraste social que a gente tem hoje em Fortaleza", observa o jovem artista.

Caio espera ver moradores da periferia ocupando cargos públicos para uma administração mais eficiente da cidade. "Quando começou a pandemia a gente veio com aquela noção de que essa era uma doença que não escolhia classe, que não fazia diferenciação entre as pessoas, mas a gente foi entendendo que os contrastes que existem na nossa cidade aumentaram".

Legenda: Caio Oliveira espera ver moradores da periferia ocupando cargos públicos, como aposta para políticas mais eficientes
Foto: Thiago Gadelha

Com essa percepção, o jovem encontra forma de contribuir por meio do voluntariado em escola de dança, rede de distribuição de alimentos e em organizações sociais em prol da educação. "A gente ainda vê nossas escolas públicas em uma situação em que os alunos estão evadindo cada vez mais porque não têm acesso à internet para fazer aulas online. Enquanto isso, vemos escolas particulares com aulas retornando e agenda mais organizada, academias de dança de maior estrutura já retornando", ressalta.

Cenário que contribui, como avalia Caio, para uma reflexão dos próximos gestores sobre as reais - e diversas - necessidades de Fortaleza. "A pandemia ensinou que a gente precisa deixar desavenças de lado e criar uma unidade para combater a falta de acesso à saúde, o avanço da pandemia e combater a desigualdade social que é muito grande", conclui.

Perfil representativo

Renovar os ocupantes da gestão municipal passa por dar uma imagem condizente com o perfil da população da capital cearense, como acredita a estudante de História, Sandy Alves, 22. "Já faz um tempo que a gente percebeu que o Legislativo não tem a nossa cara. Eu, como uma mulher negra, quero pessoas em que eu me reconheça lá dentro. Vejo uma variedade muito grande de vereadores, estou muito feliz com isso, vejo propostas muito novas, candidaturas coletivas, para apressar essa representatividade".

Sandy vive no bairro Conjunto Ceará e percebe as diferentes estruturas de moradias - algumas de tamanho reduzido e com muitas pessoas - em que se evidencia a necessidade de políticas habitacionais. Além disso, ela vê o crescimento de pensamentos conservadores e o aumento da ostensividade na segurança pública como lógicas não eficientes para o bem-estar da juventude. Espaços de troca de conhecimento e debate contribuem para busca de alternativas.

"Desde 2013 as redes (sociais) estão dando luz às pautas sociais, em forma de discordância ou concordância. É uma forma introdutória a algumas questões, vários intelectuais compartilham textos no Instagram e no Facebook, dão respostas urgentes à conjuntura pelo Twitter. Mas tem eventos culturais, como as batalhas de rap, acontecendo por aí que agem de forma mais direta na construção de um pensamento mais crítico em relação à realidade", acrescenta.

Informação é poder

Formação de boa qualidade está relacionada diretamente à melhora das condições de vida e, por isso, se torna relevante pensar em políticas públicas de educação que ampliem a chegada de jovens ao ensino superior. "Eu sou uma menina negra de periferia, mas eu compreendo que estou num lugar à frente das minhas vizinhas, por exemplo, que não tiveram acesso à universidade. Eu considero o direito à educação, à universidade pública, algo fundamental para a gente ter um combate à pandemia", contextualiza a mestranda em Serviço Social, Liniane de Cássia Santos, 27.

Garantir conexão com a internet é um passo para alcançar pessoas sem orientação de como evitar os prejuízos da pandemia porque "a gente está num patamar de desigualdade social que incide, também, sobre acesso a informações básicas". Moradora do Bonsucesso, Liniane passou a conhecer sobre a própria realidade e as desigualdades que se arrastam, e permanecem evidentes em Fortaleza.

"Acesso à saúde básica, no meu bairro, a gente não tem estrutura mínima nesse sentido. Eu só tive uma visita de agente comunitário de saúde uma vez desde que a pandemia começou e o isolamento social foi estabelecido", relata. "Quando a gente vê os dados dessas que estão morrendo, no mundo inteiro, elas têm um perfil porque isso é histórico", acrescenta.

Diálogo aberto

Liniane acredita ser o momento de dar espaço para candidatos abertos ao diálogo e de ideias progressistas. "Além de serem eleições municipais de gestores mais próximos da população, que estão no lugar do poder e da política mais próximos da execução e da garantia dos direitos básicos, a gente sabe que uma eleição e um projeto político são determinantes para a vida de quem elege essas pessoas".

240,6 mil
jovens entre 16 e 24 anos estão aptos a participar do pleito de 2020 em Fortaleza, cerca de 13% do eleitorado da Capital

Celecina destaca a importância da criação de secretarias estaduais e municipais voltadas para o tema. "A gente não pode generalizar a juventude, a gente discute muito que a juventude é múltipla e diversa. Nós vemos que as redes sociais têm sido um grande veículo de comunicação e de campanha, mesmo antes da pandemia. Tanto para fake news, destruindo pessoas, como pensando de uma forma positiva. Então, as redes sociais são lugares importantes para a juventude se informar e se formar", reflete.

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