Internações pediátricas em UTIs por doenças respiratórias sofrem redução de mais de 14%, no Estado

Dados apurados pela reportagem dizem respeito a internações ocorridas durante os oito primeiros meses do ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Especialistas apontam isolamento social como principal causa

Escrito por Redação ,
Legenda: Em 2020, até agora, há redução de internamentos em UTIs pediátricas por doenças respiratórias
Foto: Divulgação

O número de internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) pediátricas, em razão de doenças respiratórias, apresentou redução nos oito primeiros meses de 2020, em comparação com 2019. Segundo especialistas, essa queda tem nas medidas de prevenção a Covid-19, sua principal causa.

Este ano, de acordo com dados da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), na rede estadual de saúde, entre janeiro e agosto foram registradas 219 internações por doenças respiratórias em UTIs. No mesmo período do ano passado foram contabilizadas 256 internações deste tipo, somando assim uma redução de 14,4%.

Para Janaira Fernandes, médica assistente do Ambulatório de Alergia e Imunologia do Hospital Pediátrico Albert Sabin (Hias) e professora do curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará (Uece), a principal causa da redução foi o implantação do isolamento social. "Como você diminuiu o aglomerado nas escolas e creches, as doenças se propagaram menos, as crianças adoeceram menos e por consequência tivemos menos internamentos e agravamentos de quadros", aponta.

A pediatra Aline Muniz também acredita que o isolamento social tenha sido a principal causa dessa redução, e explica que "nos estudos, eles colocam que pacientes que frequentam escolas ou creches e que tem irmãos mais velhos, tem até três vezes mais infecções respiratórias durante o ano. Uma criança tem em média de quatro a seis episódios virais ao ano. Então vamos imaginar, que se ele tem mais três vezes de chance, ele passa de 12 a 24 episódios. Ai a gente acredita, que o fato deles estarem em isolamento, sem ir para o colégio, diminui essa contaminação", explana.  

A dimiuição chama atenção porque aconteceu principalmente durante o primeiro semestre, onde as doenças respiratórias, causadas por infecções sazonais, ficam mais evidentes. "O período de quadro viral, principalmente depois de março até julho, é quando temos a explosão de quadros virais respiratórios, com emergências lotadas e temos até dificuldades de transferir crianças, devido ao grande volume. Esse ano, isso não aconteceu", pontua Aline.

Segundo as especialistas, a faixa etária mais comum do agravamento dessas doenças respiratórias comuns, levando a internações, inclusive em UTIs, são crianças de zero a cinco anos. "Na verdade, a gente entende que quanto menor a criança maior a imaturidade do sistema imunológico, então aumenta as chances de ter contato com o agente infeccioso e desenvolver um forma mais grave da doença, principalmente os menores de cinco anos de idade", pontua Janaira Fernandes.

De acordo com a Sesa, a rede de saúde estadual oferece leitos de UTI pediátrica em quatro hospitais: Hospital de Messejana, Hospital Infantil Albert Sabin, Hospital Waldemar de Alcântara e Hospital Regional Norte.

Redução nacional 

Em cenário nacional também foi notado essa diminuição de casos, é o que diz o estudo promovido pelo Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor). Na pesquisa, dados de 15 hospitais espalhados pelos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Distrito Federal, mostram que as internações pediátricas em UTIs, causadas por infecções respiratórias comuns, apresentaram significativa redução de 80% este ano, em comparação com os três anos anteriores. O estudo foi feito em parceria com a Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva Pediátrica. 

A pesquisa foi realizada com crianças de até dois anos de idade, porque segundo os pesquisadores, é a faixa etária que predomina nas internações pediátricas em UTIs que tenham como causa doenças respiratórias comuns. 

Cuidados que ficam da pandemia

A médica Janaira Fernandes acredita que a incorporação de alguns protocolos de segurança na rotina de todos, daqui para frente, pode ter impacto positivo e manter esses números reduzidos. 

"Na verdade, nós vamos sair da pandemia incorporando algumas rotinas que antes a gente não tinha. Eu acho que essa história da gente lavar mais a mãe, estarmos mais atentos ao uso do álcool em gel, o uso de máscara, que diminui a eliminação de gotículas, porque a gente sabe que essas doenças respiratórias boa parte delas vai ocorrer através de gotículas respiratórias e mãos contaminadas. Esse hábito talvez ajude no controle de infecções", conclui.