Descarte irregular de lixo provoca inundações

Detritos aglomerados no sistema de drenagem são responsáveis pelos alagamentos nas vias durante quadra chuvosa

Basta chover um pouco mais e a rua onde a vendedora Damiana Alves trabalha fica completamente alagada. Em frente à loja na qual atua, no Centro de Fortaleza, uma boca de lobo repleta de lixo evidencia o motivo do acúmulo de água. "O comércio, aqui, deixa tudo sujo e as pessoas também jogam as coisas na rua. Quando chove, o bueiro entope e cria um alagamento", diz. E não é só a região central da cidade que passa pelo problema. Em toda a Capital, detritos aglomerados no sistema de drenagem são os principais responsáveis pelas inundações nas vias durante o período chuvoso.

De acordo com a Empresa Municipal de Limpeza e Urbanização (Emlurb), no ano passado, foram retiradas 56,32 toneladas de lixo das bocas de lobo de Fortaleza. A falta de conscientização da população sobre o descarte correto de resíduos continua sendo um fator determinante para o acúmulo de sujeira nos bueiros e os consequentes prejuízos. Além dos entulhos jogados diretamente nas valetas, o lixo das ruas é carregado pela água da chuva até a rede de drenagem.

Inundadas

"Se tiver lixo nas ruas e as bocas de lobo entupirem, as ruas ficam inundadas", destaca César Marques, gerente da célula operacional de limpeza da Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos (SCSP). Ao mesmo tempo em que causa transtornos de locomoção por toda a cidade, os alagamentos provocam, ainda, a degradação do asfalto da malha viária da Capital, lembra.

Segundo Marques, o lixo que vai parar nas bocas de lobo também contribui para a proliferação de animais transmissores de doenças e a poluição de canais. "A primeira consequência dessa sujeira é o aumento do número de vetores, como baratas, ratos, escorpiões. Tanto que, antes de qualquer ação de limpeza, é necessário colocar veneno, senão eles vão para as ruas", diz. "A poluição acontece em cadeia. Grande parte da sujeira que vemos nos canais, hoje, é o lixo dos bueiros. Vai das bocas de lobo para as galerias pluviais, das galerias para os canais, e dos canais para os rios", completa o gerente operacional.

O entupimento do sistema de drenagem tem efeitos, ainda, a rede de esgotamento da cidade. Josineto Araújo, diretor de operações da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), afirma que, nas vias onde há problemas de escoamento e constantes alagamentos na época de chuvas, os moradores costumam retirar a tampa de ferro dos poços de visita para ajudar na vazão da água. O hábito, no entanto, é prejudicial à rede. "Quando as pessoas utilizam a rede para escoar as chuvas, superlota a tubulação e acaba a extravasando em outros poços de visitas", explica.

Para tentar amenizar os danos, a Emlurb afirma realizar a limpeza dos bueiros todos os anos conforme a demandas das Regionais. Neste mês, a empresa concentrou o trabalho de remoção do lixo nos bairros Praia de Iracema, Vicente Pinzón e Cidade 2000, áreas onde já foram registrados alagamentos com as primeiras chuvas do ano.

César Marques, da SCSP, destaca, ainda, que o órgão está executando uma operação de limpeza nos canais, riachos e lagoas da Capital, em parceria com a Defesa Civil do município. Até agora, o serviço já foi concluído em 30 canais e outros 20 estão com o trabalho em andamento.

A Emlurb pede, ainda, que a população colabore não jogando lixo nas ruas, canais, lagoas e bocas de lobo. A recomendação é que as pessoas esperem o dia de coleta domiciliar, realizada três vezes por semana em cada bairro, para descartar os resíduos. O lixo deve ser ensacado e colocado na frente das casas próximo ao horário em que o caminhão de coleta costuma passar.

O Sistema Verdes Mares lançou, no dia 1º de fevereiro, a campanha "Lixo, coloque no seu devido lugar". Com duração de dois meses, a iniciativa, que conta com o apoio da Prefeitura, busca conscientizar o cidadão de que a limpeza urbana depende de todos.

Vanessa Madeira
Repórter