Curta mostra racismo na infância

Escrito por Redação ,
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Exibição no Dragão do Mar compõe as mostras competitivas do 19º Cine Ceará, que prossegue até o próximo dia 4

O preconceito racial na infância e o resgate da auto-estima são os temas enfocados no curta-metragem “Pode me chamar de Nair”, exibido na tarde de ontem no Centro Cultural de Arte e Cultura Dragão do Mar, como parte das mostras competitivas do 19º Cine Ceará. Com 20 minutos de duração, a película mostra a história da pequena Nair, uma menina negra da periferia da cidade que usava um boné como forma de disfarçar os cabelos crespos que lhe rendiam pilhérias e apelidos colocados pelos coleguinhas.

Com uma linguagem leve e permeada com uma alta dose de bom-humor, a história se desenrola a partir da perda do boné da garota. “Eu diria que a história mostra como a partir da perda do boné Nair encontra sua identidade”, lembra o diretor, Déo Cardoso, 32 anos.

No curta-metragem, a criança, que é apontada como “negra pixaim” ou “cabelo de bombril”, sai em busca do boné com o qual tentava esconder uma das características de sua negritude. No meio do caminho, esbarra com uma modelo, também negra, bela e de cabelo também “pixaim”.

No diálogo, que ocorre em um ponto de ônibus, a modelo, Laila, uma jovem e exótica estudante, convence a menina de sua própria beleza. Cabelo, pele, olhos, lábios ... tudo é realçado na conversa das duas. Ora com toques, sorrisos ou mesmo com maquiagem que a moça passa na criança.

Desse encontro, surge uma nova Nair. As cenas seguintes exibem uma criança negra, que caminha alegremente entre os coleguinhas, enquanto o tão sonhado boné, já reencontrado, é deixado para trás, no asfalto. Enfim, Nair vive uma nova etapa de sua vida, de aceitação de si mesma.

O roteiro despertou a atenção do público, que lotou o Cine Unibanco Dragão do Mar a tal ponto de a atriz mirim Maria Nadiezia Ferreira Apolinário, 11 anos, residente na comunidade Olinto Arruda, assistir ao curta sentadinha no chão. Detalhe: a garota era a protagonista e chegou um pouco atrasada porque estava do lado de fora dando entrevista para o Diário do Nordeste.

Contente com a recepção do público, Maria Nadiezia Apolinário ou simplesmente Nair, como é conhecida em sua comunidade, mostrou desinibição e até confessou que passou a gostar mais de sim mesmo após a realização do filme.

O curta-metragem foi produzido pela Gente Nossa Filmes, explica a produtora executiva Tamylka Viana, uma alagoana formada em publicidade.

Segundo ela, a decisão de produzir um trabalho cinematográfico que retratasse o racismo partiu de inúmeras queixas recebidas das próprias crianças negras. “A nossa preocupação foi fazer um filme de linguagem fácil, mas que propiciasse uma reflexão positiva e elevasse a auto-estima”, ressaltou.
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