Com pandemia, líderes de várias religiões adaptam ritos de virada do ano em Fortaleza
O banho de mar, costume adotado para purificar o corpo, pode ser substituído por banho com ervas e arroz em casa, segundo orientações de líderes religiosos de matrizes africanas
A chegada de 2021, em Fortaleza, encontrará poucos pés na areia. É que com as restrições sanitárias por conta da Covid-19, os rituais de recepção do novo ano, como o banho de mar e as oferendas à Iemanjá, devem acontecer longe da Praia. Na religião evangélica, apesar dos cultos de passagem se manterem, também há mudanças na passagem do ano. Nas demais crenças, no entanto, quem deseja manter a tradição, pode adaptar os costumes para acompanhar a virada em casa e evitando contato com outras pessoas.
Matrizes africanas
No Centro Espírita de Umbanda São Miguel, no bairro Granja Lisboa, em Fortaleza, a recomendação é de que algumas tradições sejam adaptadas para o ambiente doméstico. No lugar da purificação com o banho de mar, Pai Neto aconselha a limpeza com água de arroz.
“A gente está orientado que o pessoal faça isso em casa, em substituição ao banho de mar. Cada casa tem uma. São 153 terreiros ligados à associação espírita de umbanda do São Miguel. [A limpeza] é para trazer a fartura, saúde e paz", explica o Pai de Santo, vice-presidente Associação Espírita de Umbanda São Miguel.
Segundo o Pai de Santo, o ritual é para proteção e pode ser feito por qualquer pessoa, independente de religião. “Os terreiros têm a imagem de Iemanjá. Quem não tem, pode fazer em um espaço que você considera sagrado. A sala é um local de boas energias para distribuir para o resto da casa. A oferenda quando é feita para Iemanjá deve ser feita em uma mesa como se você tivesse convidando uma pessoa para um ceia. Deve ser feito em uma mesa, nunca no chão, nem muito alto”, pontua.
Banhos purificadores com manjericão ou malvarisco, que proporcionam às pessoas contato com a natureza, são capazes de limpar o corpo e a mente, como também é feito no mar, de acordo com o Babalorixá Leonardo de Oxum, do terreiro Igbase OmiOlá, no bairro Maraponga.
“Além da doença trazer o problema do corpo, a gente vai sair da pandemia com muitas cabeças ansiosas. A pessoa que tem o hábito de tomar banho de mar esse ano vai tomar em casa. Aqueles famosos pulinhos que a gente dá no mar a gente dá em casa. Fecha o olho, imagina um mar bem bonito. A gente recebe do universo aquilo que a gente emana”, acrescenta.
O Babalorixá explica o passo a passo para o banho de ervas. “Você vai fazer a maceração. Meio balde de água, você vai lavar aquelas ervas. Você vai esfregar uma erva na outra com a sua mão até tirar o sumo verde da erva. Fez isso, você vai deixar de molho uns 20 minutinhos. Para a erva ficar mais concentrada, você vai tomar banho da cabeça aos pés. O bagaço da erva pode virar adubo para planta”, diz.
“O ano começa em uma sexta-feira, que é dia de Oxalá. Oxalá representa o ar, o fôlego da vida. Vamos respirar profundamente o ano da virada. Cada filho de santo vai ficar na sua casa. Vou fazer minha virada no meu terreiro com a minha família de Santo. Cada um na sua casa, cada um no seu terreiro”, detalha.
Cultos de Passagem anual
Nas igrejas evangélicas, para evitar o contágio de Covid-19, a orientação é para que não haja ceia coletiva durante o culto de passagem anual. “Quando você bota todo mundo pra comer, as pessoas tem que tirar a máscara, pegar um garfo, e faca. A sugestão dos nossos pastores é a de que façam o culto com mais segurança e com menos possibilidade de contato”, esclarece o Pastor Sandro Fiuza, da comunidade evangélica Verdadeiros Adoradores e também representante da religião no Comitê Covid-19 do Governo do Estado.
“Nós estamos muito preocupados com o futuro. Como as pessoas vão ultrapassar esse período do luto. Entendemos que vai ser uma questão muito difícil. Nossa expectativa é de esperança. O ano de 2020 está acabando. A gente conseguiu sobreviver a esses momentos”, pontua o Pastor.
Remoto
A virada do ano nas 80 sedes da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias no Estado deve acontecer em uma celebração virtual, assim como ocorreu no Natal. “Não faremos as celebrações presencialmente nos nossos templos e capelas. A orientação é que seja feita de forma remota, tanto para o Natal quanto para o Ano Novo. Também pedimos que as famílias devem estar reunidas em casa, apenas com o núcleo familiar mesmo, sem grandes aglomerações”, disse o Setenta autoridade de área-Brasil, Élder Henrique Simplício.
Orações, esperança em dias melhores e cumprimento das medidas de segurança sanitária são fatores que os fiéis da Igreja Católica devem nutrir, como orienta o padre da Misericórdia, Geilson. “A orientação que nós damos é que as famílias procurem confraternizar em suas casas, guardando o distanciamento social, e rezando juntos. As pessoas do grupo de risco evitem aglomerações", acrescenta. Ele indica que os fiéis participem das celebrações transmitidas pela televisão e pela internet.
Quem for às igrejas não pode esquecer do uso da máscara, higienização com álcool em gel e distanciamento entre os religiosos. O padre destaca que o período de fim de ano deve ser de pensamentos positivos e fé em Deus. “Que a Humanidade se volte para o coração misericordioso de Jesus e que crie a devoração de rezar o Santo Terço da Misericórdia, todos os dias às 15h. São muitas mortes, muita tristeza, se não for a misericórdia, o que vai nos consolar?”, questiona.