Cearenses que moram na Europa contam como se preparam durante a 2ª onda de Covid-19

Itália e França, países que estavam com medidas flexibilizadas, voltaram a apresentar aumento nos casos de Covid-19 e intensificaram protocolos sanitários

Escrito por Redação ,
Legenda: Cearenses contam como está a situação na Europa na 2ª onda de Covid-19
Foto: Arquivo Pessoal

Após o crescimento de casos de Covid-19 no continente europeu, cearenses que moram na região relatam alteração nos planos e maior atenção nos cuidados com a doença após período de flexibilização. Primeira a reduzir as restrições sanitárias, a Europa presenciou crescimento recorde nos casos e voltou a intensificar os protocolos em países, como França, Itália e Alemanha.

A cearense Sabrina Lima, de 38 anos, mora na norte de França com marido português e aponta a atenção da família nos últimos dias. “Aqui em casa estamos redobrando nossos cuidados”. Residente na cidade de Anglet desde agosto de 2020, a pretensão de Sabrina era voltar a trabalhar no começo de novembro. “Ia começar trabalhar fazendo faxina no dia cinco, mas acabei não indo. Eu sou asmática, tenho doenças crônicas. Meu marido pediu para que eu ficasse em casa”, conta.

No entanto, a elevação nas ocorrências acendeu o alerta para o casal. “Nunca vi tanto caso por aqui. Vivemos no norte da França, fronteira com a Espanha. Geralmente, os casos estavam sendo em Paris e nos arredores”, calcula Sabrina. As autoridades de saúde francesas acreditam que, nos últimos dias, entre 40 mil e 50 mil novas infecções têm sido identificadas no país. Com isso, o presidente francês Emmanuel Macron decretou lockdown parcial no último dia 28.

Ainda de acordo com a cearense os casos estão ficando cada vez mais próximos do convívio do casal. “Lá, onde meu marido trabalha, teve um caso e todos tiveram que fazer teste. Isso foi bem tenso. Quando ele chega, coloco as roupas dele automaticamente para lavar com água quente. Acaba gerando medo porque você está em casa, sozinha”, confessa.

Para acompanhar a eficácia das restrições, o Governo francês atualiza as medidas a cada quinzena. “O Macron disse que a cada 15 dias ele iria fazer um avaliação. Se não melhorar, ficará fechado até dezembro”, relata a cearense.

Legenda: Sabrina tem asma e desistiu de um emprego devido ao aumento de casos de Covid-19 na França, onde mora
Foto: Arquivo Pessoal

Dinamarca

Já Carolina Policarpo, estudante cearense de 28 anos, está desde setembro na Dinamarca, após um período de intercâmbio, na Áustria. Ela, que tem marido dinamarquês e se preparava para estabelecer residência em território danês, acompanhou a reação de ambos os países à pandemia. “A princípio foi bem assustador, não sei se era a falta de informação. O Governo da Áustria foi bastante presente com informação, não deixavam a gente no escuro. Aqui na Dinamarca, apesar deles estarem seguindo a mesma linha de conduta da Áustria, a Dinamarca não implementou as máscaras. Eles recomendaram, mas quase ninguém usava”, compara.

Seguindo as recomendações austríacas, a cearense cumpriu a quarentena rigidamente. “Foram 40 dias sem sair de casa nem para ir no supermercado. Fazia um mercantil online para mais ou menos duas semanas e evitava sair de toda forma. Saia com meu cachorro 10 minutos por dia, sempre nos entornos do apartamento. Eu só via a vida passar pela janela”, relembra.

Após o período de restrição, a flexibilização foi comemorada pela estudante, que estava em aulas remotas por conta da pandemia. “Estava fatigada dessa maneira de ensino quando estava na Áustria. Teve um relaxamento muito grande. Os governos consideraram, tanto na Áustria quanto na Dinamarca, que as coisas estavam mais controladas. Ninguém negou que uma segunda onda pudesse vir mas não existia mais aquele medo do começo de tudo”, relembra.

No entanto, em agosto, o governo dinamarquês começou a preparar um maior controle dentro do país. “A gente estava aqui de férias em agosto. O governo dinamarquês decidiu que tinha que usar máscara nos transportes do nada. Para a gente, não mudou nada, mas as pessoas acharam esquisito. Acho
que o Estado já estava em alerta”, recorda.

Isso impactou a rotina da estudante, já acostumada com a flexibilização. “Eu comecei a fazer aulas de dinamarquês. Estava indo presencial estava bem feliz mas agora, em alguns dias, tenho aula remota. Me deixou bem abatida”, confessa a cearense. De acordo com Carolina, a população considera que as medidas do Governo são “quase na hora”.

“O que as pessoas reclamam é que, além deles passaram tudo de repente, as informações estão vindo confusas. Eles reclamam muito que a ministra vai na sexta à noite implementar uma nova medida e já fica valendo no outro dia. Por exemplo, o casamento do primo do meu marido foi cancelado porque a ministra implementou a lei uma semana antes”, conta.

Rita Rodrigues também tem mantido isolamento na Itália, que está em isolamento parcial

Itália

Quando a segunda onda de casos começou a despontar na Itália, a maior preocupação da cearense Rita Rodrigues, de 42 anos, foi com a reinfecção. Ela foi diagnosticada com Covid-19 ainda em abril e teve sintomas leves, parecidos com o de uma dengue.  “Fiquei preocupada. Pensei na hora: ‘se eu já peguei de um modo que não foi forte, uma possível reinfecção viria mais forte? Ele iria me atacar como foi na primeira vez?’”, relembra.

Para evitar a exposição, ela e o marido, um italiano de 53 anos, evitam sair desde que os casos aumentaram no país. “Nunca mais fui em restaurante, nunca mais fui visitar familiares. Minha sogra é de idade e a gente evita visitar. Estamos mantendo todos os cuidados”, aponta a  cearense. O casal trabalha com manutenção de caminhões, o que, segundo a Rita, requer um grande deslocamento dentro da província em que moram.

“Meu marido precisa sair muito. Moramos em Sarno, província de Salerno, e o Governo determinou que para sair de casa e ir para outra região precisa assinar um termo dizendo que não está com Covid”, conta. O “passe de autoresponsabilidade” foi uma das medidas adotadas pela Itália no começo da pandemia, sendo suspenso quando os casos reduziram. “Quando as coisas aumentaram, a gente precisou usar esse termo de novo”, aponta
Rita.

Apesar de atenta às novas restrições e aumento de casos, a cearense confessa estar menos apreensiva do que durante a primeira onda. Ela percebe que parte dos italianos também está menos ansioso com a situação. “Na primeira onda, foi uma surpresa. Fiquei pensando que nunca mais voltaria ao Brasil. Mas agora aquela sensação não tenho mais, estou vendo de uma forma mais leve. Todo mundo sabia que quando voltasse o vírus, iria voltar com toda força. Mas as pessoas estão com menos medo do que antes”, complementa.

O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, determinou no começo da semana que quatro novas regiões da Itália são consideradas, a partir desta semana, como zona vermelha e devem seguir normas mais restritas para barrar a Covid. Anteriormente, o governante decretou toque de recolher em partes do país. “Aqui, ainda não estamos em toque de recolher”, aponta Rita. “Isso só deve começar na próxima semana”.

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