Capital melhora malha cicloviária, mas soma 47 mortes em 4 anos

Apesar do aumento de 306% da estrutura para ciclistas, só neste ano, 6 deles j vieram a óbito em colisões com veículos automotores. Apenas neste ano, 4.466 infrações foram registradas por desrespeito a ciclofaixas e ciclovias

Escrito por Renato Bezerra/ Bárbara Câmara , metro@svm.com.br
Legenda: Cerca de 2.800 ciclistas trafegam por dia na ciclofaixa da Avenida Domingos Olímpio, onde o desrespeito é frequente
Foto: FOTO: NATINHO RODRIGUES

Por décadas, ciclistas de Fortaleza reivindicaram rotas seguras de deslocamento pela cidade. Trazendo novas perspectivas ao modal, a expansão da malha cicloviária nos últimos anos - chegando a um acréscimo de 306% - garantiu possibilidades e o uso da bicicleta vem se popularizando. O cenário é, de fato, suficiente para manter a segurança dos usuários? Nem tanto.

A imprudência e o desrespeito às regras de circulação viária continuam a engrossar estatísticas, dentre elas, as mortes no trânsito. Entre 2015 e outubro de 2019, 47 ciclistas envolvidos em colisões com veículos automotores perderam a vida em Fortaleza. Somente neste ano, foram registrados seis óbitos. O balanço integra os dados de mortalidade por causas externas da plataforma Integra SUS, do Governo do Estado.

"Eu sou uma vítima do trânsito". Assim, se denomina a técnica de informática Alexandra Popov, 38, usuária ativa da bicicleta na Capital e atropelada três vezes em menos de um ano, mesmo estando em tráfego na Rua Carlos Vasconcelos e Avenida Rui Barbosa, ambas com espaços exclusivos aos ciclistas.

Nos três casos, segundo explica, as ocorrências se deram por motoristas que não respeitaram a sua preferencial enquanto ciclista, gerando a ela diversos prejuízos financeiros e físicos. "A terceira vez foi a mais grave. Quebrei o queixo, cortei a boca. Fiquei três meses parada. Tive que voltar para academia para fortalecer o joelho e o braço. Graças a Deus não morri, mas passar por isso várias vezes em um ano é horrível", comenta.

Outra irregularidade presenciada de forma rotineira, acrescenta, é a obstrução da ciclofaixa por carros estacionados, gerando, também, um risco ao seu deslocamento. "Na Carlos Vasconcelos, já escapei de cinco batidas porque a gente vai desviar e o carro de trás nem sempre respeita", diz.

Alexandra reivindica mais fiscalização, aplicação de leis mais severas nas ciclofaixas e maior conscientização dos motoristas nas ruas da cidade. Enquanto isso, segue pedalando e fazendo o que pode para contribuir. "Eu tenho uma página de ciclistas de Fortaleza e publico bastante sobre isso. Sempre orientando motoristas. Mas não sei o que acontece que eles não têm consciência. É revoltante, a gente não se sente seguro. Vários ciclistas morrem e não acontece nada", lamenta.

As práticas indevidas na malha cicloviaria resultaram no registro de 4.466 infrações entre janeiro e setembro deste ano na Capital, segundo dados da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC). Destas, 4.129 foram por tráfego de veículos automotores em ciclofaixas ou ciclovias e 337 por estacionar nesses espaços. Entre 2018 e 2017, no entanto, as irregularidades caíram 38% e 33%, respectivamente.

O manobrista André Chaves, 30, é um dos cerca de 2.800 ciclistas - conforme dados da AMC - que, por dia, trafegam na ciclofaixa da Avenida Domingos Olímpio, a segunda rota cicloviária mais usada na cidade. Está acostumado, segundo aponta, a dividir o espaço com motociclistas e a desviar de obstáculos, como, por exemplo, carroceiros que deixam o carrinho na via. "Tem lugar que é muito pior, como o Benfica. Lá, é direto carro estacionado em cima da ciclovia. O motorista larga lá mesmo e a gente se prejudica. Eu moro no Pici e perto de casa já fui atropelado. Eu estava passando na ciclofaixa aí um carro foi dobrar à esquerda e esqueceu totalmente da faixa. Entrou com tudo", diz.

Fiscalização

A AMC esclarece que a fiscalização contra as práticas acontece por rotas volantes e por câmeras de videomonitoramento nas rotas que dispõem dos equipamentos. Lembrando que de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), trafegar em ciclofaixa e ciclovia é considerada infração gravíssima com fator multiplicado por três, somando sete pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e multa no valor de R$ 880,41. Já por estacionar nos espaços exclusivos aos ciclistas, a legislação considera infração grave, com o registro de cinco pontos na CNH e multa chega ao valor de R$ 195,23.

Apostando de vez no sucesso do modal, a Prefeitura de Fortaleza tem como meta chegar a 400 km de malha cicloviária até o fim de 2020. O total atual, de 277,2 km, ultrapassa a meta estabelecida pelo Plano Diretor Cicloviário Integrado (PDCI) para 2020, de 236 km, conforme destaca a Secretaria de Conservação e Serviços Públicos (SCSP).

Ainda de acordo com dados da Pasta municipal, novas infraestruturas cicloviárias deverão ser implantadas, nos próximos meses, nas vias: Avenida Jornalista Thomaz Coelho e Rua Angélica Gurgel, em Messejana; na Avenida Pompílio Gomes, no Passaré), Avenidas Duque de Caxias e Padre Ibiapina, no Centro, e na Avenida Mozart Pinheiro de Lucena, no Vila Velha e Quintino Cunha.

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