Abrigos de animais também sentem o efeito da crise durante a pandemia da Covid-19
Além da queda no número de doações, os responsáveis pelos abrigos também observaram um aumento no número de abandono de animais
Os efeitos da crise causada pela pandemia do novo coronavírus não chegou apenas nos humanos, mas também nos animais. Abrigos que acolhem animais em situação vulnerável e abandonados, tem sofrido com a mudança de rotina, a diminuição de doações e o baixo número de adoções durante a pandemia do novo coronavírus. O Abrigo São Francisco relata que só realizou uma adoção durante esse período, já o Abrigo São Lázaro sofre com superlotação do local.
Ao longo desses quatro meses de isolamento social, necessário para conter a disseminação da Covid-19, o representante do Abrigo São Lázaro, Apollo Vicz, conta que a pandemia impactou muito na rotina do abrigo. “Nós não temos condições de pagar ninguém para trabalhar no abrigo, então os voluntários são essenciais. Com a pandemia, os voluntários pararam de vir para o abrigo, por questão de segurança. Hoje só contamos com nove voluntários e a gente sabe que é pouco para dar conta de mais de mil animais”, relata.
O abrigo já tem cerca de 1.200 animais e todos os dias recebe chamadas para resgate de novos animais. “A gente limpa de 10 em 10 minutos, tem animal para dar remédio, tem animal para fazer curativo, tem que levar cães para passear, então esse foi o maior impacto”, detalha a rotina quase impossível de ser cumprida apenas por 9 voluntários aptos a estarem no local.
A fundadora do abrigo para animais Lar Tin Tin, Viviane Lima, também sentiu essa mudança na rotina, já que sem o voluntariado ela realiza todos os serviços no abrigo sozinha, desde limpeza do local até higiene dos animais. “Além disso, mudou até as idas ao veterinário, que ficou restringido os horários, ficando difícil até para uma emergência”, aponta. O lar que acolhe animais com necessidades especiais, como animais amputados, com câncer ou com alguma doença crônica, hoje abriga 350 cães, 3 ovelhas e 1 cavalo.
Doações
A dificuldade para manter esses animais tem se tornado maior, a medida que a pandemia se prolonga é isso que Viviane conta. “Teve uma queda enorme [em doações]. Também teve movimentos, como lives que doaram ração, a partir que os meses foram passando, foram caindo muito o número de doações. Mas doação financeira, que a gente usa pra pagar clínica, aluguel, remédio, teve uma queda de 80%”.
“Hoje a gente tá precisando de tudo. Ração, material de limpeza, curativo, doação financeira, porque a gente tem dívidas nas clínicas, tudo”, frisa Viviane Lima, responsável pelo Lar Tin Tin.
O aumento nas necessidades e a queda nas doações é algo em comum entre os abrigos. “As doações caíram financeiramente e a gente precisa muito de ajuda. A nossa conta na clínica [veterinária] ta 30 mil reais, complicou muito nessa parte financeira. Além disso tem a ração, sai em torno de mil reais diários, porque são mais de mil animais, então são 300 quilos de ração por dia”, aponta o representante do Abrigo São Lázaro.
A voluntária e social media do Abrigo São Francisco, Beatryz Ketlyn, também sentiu essa queda no número de doações, tanto que há uma semana o abrigo chegou a postar nas redes sociais que estava sem ração. “Infelizmente muita gente tem receio de doar, então teve uma baixa no número de doações. Só os cães consomem 50 quilos de ração, por dia. Os gatos, que comem em menor quantidade, chega a cerca de 100 quilos por semana. Além disso a demanda por remédio subiu bastante”, conta. O local abriga 170 cães e 30 gatos, em sua maioria, animais adultos ou idosos.
Queda de adoções
Devido a mudança de rotina, por conta da quarentena, e a paralisação de atividades que reunisse muitas pessoas, como as que o Abrigo São Francisco promovia para a população conhecer seus animais, o número de adoções também sofreu uma grande queda. “Antes era muito difícil fazer adoções, assim então, ficou quase impossível. Estão muito fracas, tem muita gente que procura, depois desiste. A procura aumentou, mas o nível da adoção mesmo, fez cair”, enfatiza.
“Muita gente vem atrás de adoção, mas elas querem um padrão. Elas querem um filhote, um animal peludo, um animal de uma raça específica, mas a gente não tem isso, porque estamos aqui para trabalhar com vidas”, destacou Beatryz.
Como consequência dessa queda nas adoções, e essa preferência por um estereótipo de animal, Apollo conta que o Abrigo São Lázaro passa por um momento de superlotação. “A gente precisa muito realizar adoções, porque o abrigo já não está mais recebendo, está muito lotado. E isso é muito complicado pra gente, porque todos os dias, o dia inteiro, tem mensagem sobre cachorro abandonado, cachorro maltratado e a gente não pode acolher sem espaço, sem condições”, pontua.
Aumento no abandono
Também foi observado, por quem trabalho diariamente com animais, um aumento no abandono durante esses quatro meses de pandemia. “Sim, o nível de abandono aumentou, porque existem muitas pessoas que são ignorantes, com pouca informação e estavam achando que os animais transmitiam o novo coronavírus, e isso não é verdade”, lamenta Apollo.
“Inclusive aumentou não só na rua, aumentou no abrigo mesmo, estão deixando lá em frente ao abrigo e infelizmente não temos como saber quem foi. Inclusive, essa semana abandonaram uma cachorrinha em frente ao abrigo, e ela está com câncer, então a gente já começou o tratamento dela. Aumentou demais o abandono”, pontua. A jovem também destaca que o lar não está com capacidade a continuar abrigando, mas observando casos assim, acabam acolhendo.
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