Azulão estreia neste sábado contra o Ferroviário, no Estádio Morenão
Se o currículo de Otacílio Neto fosse um elenco de futebol, seria possível formar dois times e ainda deixar uma dupla no banco de reservas. Jogador desde os 18 anos, ele defendeu 24 times e, certamente, é um dos atletas que mais atuou em diferentes clubes no mundo. Marca próxima a de Loco Abreu, com 31, feito registrado no Guinness. Na passagem pelo Iguatu, onde está desde 2020, o meia busca grandes resultados no Campeonato Cearense 2022, com início neste sábado (8).
Mas a temporada também é de despedida. Depois de ser multicampeão no Corinthians, conquistar o vice na Sul-Americana pelo Goiás e rodar o país atrás da bola, o “homem gol” avisa: vai se aposentar dos gramados após mais de duas décadas no esporte.
Natural de Orós, cidade a 344 km de Fortaleza, no Centro-Sul do Ceará, saiu jovem do distrito de Sítio Estreito em busca de trabalho em São Paulo. No futebol amador, foi descoberto por Márcio Rocha, que viria a se tornar agente dele por anos. Aprovado no primeiro teste, foi aceito no Ituano. A partir daí, a rota é longa e passa por equipes de todo o país. Entre outras, além do Azulão, o Figueirense, a Ponte Preta, o Timão, onde enfileirou três títulos (Brasileirão Série B 2008, Paulistão e Copa do Brasil 2009) ao lado de Ronaldo Fenômeno e grande elenco. Também o Goiás, quando foi vice da Sul-Americana 2010.
Ao decidir que era hora de ficar mais próximo da família, deixou o Ypiranga (RS). Logo encontrou espaço no Guarani de Juazeiro, Floresta, Barbalha e Horizonte, além do Iguatu. Na conta, acessos e taças com os times cearenses. Ao todo, o meia já defendeu 24 camisas*.
Recorde
O número impressiona por si só, mas também porque se aproxima do recorde do uruguaio Loco Abreu, o boleiro que mais atuou em diferentes clubes no mundo. Foram 31 até a aposentadoria, em 2021. O feito está registrado no Guinness World Records. Perguntado sobre a chance de estar entre os que mais defendeu clubes no planeta, ele diz:
“Às vezes me pergunto se fui um andarilho no futebol. Mas sou grato ao esporte por tudo que me proporcionou. Graças a Deus foram muitas conquistas. Fui agraciado com coisas boas na minha vida e o futebol é uma delas. Deu muitas alegrias a mim, minha família, ao meu pai que era o torcedor número 1. Onde eu estava, podia ser jogando no terrão descalço, ele estava lá torcendo.”
O pai, José Adail, a quem se refere com carinho e saudade, faleceu há oito meses. A dor ainda é latente. Mas ao lado dele, Leidiana Gonçalves, a esposa, parceira de vida há mais de 20 anos, é o apoio. Com ela, dividiu a decisão de terminar a carreira de atleta e planejar o futuro.
“Não é fácil (parar). É uma vida jogando futebol. Espero encerrar deixando um grande legado no Azulão. Tenho admiração pela cidade, pelas pessoas envolvidas no projeto. É um clube que me acolheu. Sou feliz e grato por estar aqui. Penso em continuar no meio. Ainda não defini a função. Alguns falam para eu trabalhar como gestor e outros como treinador. Tenho que avaliar e tomar a decisão correta.”
"Terror de interior"
O clima nostálgico não apaga a ânsia do "homem gol" por mais vitórias. O apelido, aliás, Otacílio recebeu quando atleta do Noroeste de Bauru. Marcou 30 gols na época. O meia lembra ter sido considerado o "terror do interior". Experiente, o mais velho do time contribui não só nas jogadas. O técnico Washington Luís, um dos responsáveis pela retomada do Iguatu à Série A do Cearense em 2022, ressalta o valor do jogador no plantel.
"É um jogador identificado com o clube. Tem rodagem no futebol nacional e contribui muito não só dentro de campo como também com a experiência, na busca de união do grupo, com os exemplos que tem na carreira e passa aos atletas mais jovens."
O objetivo do Azulão na temporada está bem definido: o principal é a permanência da equipe na elite estadual. Depois, é ficar entre os quatro primeiros e garantir vaga em uma competição nacional. Seria uma conquista inédita para a equipe. A estreia no estadual será neste sábado (6) contra o Ferroviário, às 16 horas, no Estádio Morenão. A emoção de entrar em campo se mantém.
“Se não houver mais essa ansiedade, o frio na barriga, é hora de parar. Mas eu ainda sinto essa adrenalina. A gente está na ponta dos cascos aguardando o Ferroviário, pra iniciar esse Cearense e, se Deus quiser, vamos fazer bonito.”