Curiosidades da Copa: entenda a polêmica dos cortes de cabelo da Seleção Argentina para a Copa de 98

Entenda o que técnico Daniel Passarella quis fazer

Escrito por Vladimir Marques , vladimir.marques@svm.com.br
Legenda: O astro argentino Gabriel Batistuta jogou a Copa de 98 "cabeludo", mesmo com o pedido do treinador Passarela
Foto: AFP

Cortes antes de uma Copa do Mundo são geralmente traumáticos, com jogadores tendo seus sonhos de disputar um Mundial desperdaçados por lesões. Mas há 24 anos, a Argentina teve polêmicos cortes antes da lista para a Copa de 1998 na França por outros motivos: cortes de cabelo.

O responsável por toda polêmica foi o técnico Daniel Passarella, que proibiu o uso de brincos, cabelos longos e tiaras pelos jogadores.

Técnico da seleção desde 1996, Passarella, proibiu homossexuais, impôs exames para detectar drogas e resolveu que os cabeludos cortassem os cabelos: ''Os jogadores se distraem com os cabelos grandes. E as tiaras são perigosas', disse ele, à imprensa argentina.

Craques como Coudet, Ortega e Batistuta, acataram a decisão do chefe e apararam seus cabelos. Mas dois astros se negaram: Redondo e Caniggia.

Redondo e Passarella bateram boca de 1995 a 1997. Para o jogador, ser convocado e pedir para cortar o cabelo era uma coisa. Não ser convocado por conta da cabeleira, outra. Até o presidente Carlos Menem alimentou os debates: ''A decisão de Passarella é tática. O cabelo é despiste''. O ''E você? Cortaria ou não?'' ardia em Buenos Aires. Redondo não cortou. Entre a Copa de 1998 ou os cabelos, preferiu os cabelos e disse não ao Mundial da França.

A história com Caniggia foi mais longa. Encarador nos microfones como em campo, El Pájaro (o pássaro, pela velocidade) destruía defesas e o técnico da seleção: ''É absurdo, não posso concordar com exigências assim. Sou como Sansão''.

Caniggia começou 1996 vivendo sua melhor fase. Cansava de fazer gols pelo Boca e desabafar: ''Estou jogando mal, não? O cabelo me atrapalha. Estou cego''.

Quem tomou seu partido foi Maradona. De volta à Argentina em 1995, pintou parte do cabelo como protesto pela postura de Passarella, antigo desafeto.

'Passarella ergueu a Copa de 1978 graças aos gols de Kempes, mais cabeludo que Cristo. A história do futebol argentino se escreve com cabelo comprido. Minha melhor fase foi quando tinha tanto cabelo que parecia de capacete, tipo o Fangio.'' 

Brigas

A brigas só diminuíram quando Passarella perdeu o filho de 18 anos, em desastre de carro. Maradona imediatamente baixou o tom e tirou a faixa colorida da cabeça. Menos inflexível, o técnico recebeu Caniggia em sua casa e aceitou convocá-lo, mas por fim o atacante ficou fora do Mundial de 1998, também por lesão.

Perto do Mundial, e precisando de um terceiro goleiro, Passarella pediu para o assistente Gallego conversar com Scoponi, do Newell´s, outro notório cabeludo: ''Só corto meu cabelo se você emagrecer 30 quilos'', foi a resposta.

Os soldados de Passarella caíram nas quartas-de-final daquela Copa: 2 a 1 para a Holanda, com o gol decisivo, dos mais lindos da história, aos 44 minutos do segundo tempo. A Argentina pegaria o Brasil na semifinal. Passarella x Zagallo.

Fernando Redondo ficou fora

Fernando Redondo manteve o cabelo longo como uma marca registrada ao longo de toda a carreira no futebol. Mesmo quando o então técnico da seleção argentina, Daniel Passarela, quis obrigá-lo a cortar. Em entrevista ao jornal La Nación, de Buenos Aires, o ex-volante deu detalhes da situação.

"Ele me chamou e nos reunimos no hotel Palace de Madri. Me pediu para cortar o cabelo e eu lhe disse que não faria, E me disse, me lembro das palavras, que a seleção estava acima dos homens e dos nomes, e iria revisar se necessitava me convocar", declarou Redondo.

"Quando isso saiu na imprensa, ele declarou que na realidade a questão do cabelo havia sido um tema secundário, que não havia me convocado porque eu não queria jogar pela esquerda, uma mentira gigante. E, a partir daí, não houve volta atrás para mim", contou.

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