Março de 2020 é o segundo mais chuvoso dos últimos 33 anos

Com 272,9 milímetros acumulados, o segundo mês da quadra chuvosa só ficou atrás do ano de 2008, quando, em igual período, a Funceme registrou acumulado de 332,5%. As chuvas garantiram aporte nos açudes, beneficiaram a agricultura, mas também trouxeram estragos para mais de 10 cidades do CE

Escrito por André Costa/Honório Barbosa , regiao@svm.com.br
Legenda: Intensas chuvas possibilitaram recarga nos açudes e beneficiaram a agricultura
Foto: Foto: Marciel Bezerra

Março de 2020 entrou para a história. As chuvas que caíram ao longo do mês passado bateram recordes pluviométricos no Ceará. Com o acumulado de 272,9 milímetros, este foi o segundo março mais chuvoso dos últimos 33 anos, ficando atrás apenas de 2008, quando a Funceme registrou precipitações de 332,5 mm. A média histórica para o período é de 203,4 milímetros.

Esta não foi a única expressiva marca alcançada no segundo mês da quadra chuvosa. As volumosas chuvas garantiram recarga hídrica aos principais açudes cearenses. No acumulado, a Cogerh registrou aporte de 2,43 bilhões de metros cúbicos nos 155 reservatórios monitorados pelo órgão. Em igual período do ano passado, este índice foi de 680 milhões de metros cúbicos.

Esse resultado positivo não advém, no entanto, somente das chuvas de março. A significativa recarga hídrica deve-se a dois fatores primordiais. Primeiro, a regularidade das chuvas. Nos três primeiros meses deste ano, as chuvas ficaram além da média histórica. Cenário semelhante só foi anotado em outras seis oportunidades nos últimos 33 anos. Destas, o trimestre inicial de 2020 foi o mais chuvoso, com acumulado total de 607 milímetros.

O segundo fator preponderante foi a boa distribuição desses eventos. Não é produtivo que as chuvas se concentrem apenas em dadas regiões como historicamente acontece no Ceará. Em 2020, portanto, tem chovido de forma que beneficia todas as macrorregiões cearenses. O resultado desta equação é a cheia nos açudes do Estado. Até ontem (31), 33 estavam sangrando.

O cenário é positivo ante os sucessivos anos de estiagem registrado de 2012 a 2018. Mas, para o diretor de Operações da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh), Bruno Rebouças, ainda é preciso cautela. Ele reconhece que o aporte atual dá segurança hídrica para a maioria das regiões, mas mostrou preocupação com a Bacia do Banabuiú, responsável pelo abastecimento de importantes cidades, como Quixadá. "No início do ano, estava com 6.1% e agora está com 7.1% e isso ainda nos dá um alerta".

Garantia Hídrica

Na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), onde vivem mais de 4,1 milhões de pessoas, o retrato ainda não é de completa tranquilidade. Segundo estimativa da Cagece, para segurança hídrica por um período de dois anos, é necessário, em média, acumulado de 1,7 bilhão de metros cúbicos nos reservatórios.

Hoje, Castanhão e Orós acumulam, juntos, cerca de 1 bilhão de m³. A tríade Pacoti, Gavião e Riachão soma 450 milhões de m³. Juntos, totalizam 1,45 bilhão. "Para segurança hídrica da RMF faltam 250 milhões de metros cúbicos, e vamos chegar lá", pontuou, otimista, Hélder Cortez, diretor de Operações da Cagece. Ainda conforme ele, grandes cidades do interior como Iguatu, Icó, Crateús e Tauá já "têm segurança de abastecimento por dois anos".

Aumento do consumo

Cortez ressalta, porém, que é preciso prudência na utilização da água. Ele cita que o consumo, a partir da segunda metade do mês de março, deve crescer devido às medidas de isolamento social. O governador do Estado, Camilo Santana, suspendeu, na semana passada, a taxa de contingenciamento para 221 mil domicílios que estejam dentro dos padrões básico e popular. Conforme avaliou o Chefe do Executivo, com mais pessoas em casa o consumo tende a subir.

Para atender tal demanda, a Cagece aumentou a vazão de água em todo o Estado. "Tivemos que ampliar em 330 litros por segundo a oferta de água em Fortaleza, e em 5% para o interior", explicou. Diante disso, o diretor de Operações da Cagece sugeriu o uso consciente da água.

"Ainda não saímos totalmente da zona de insegurança, embora a expectativa de continuidade da chuva seja boa, precisamos economizar água", finalizou Cortez.

Alegria no campo

O agricultor tem motivos para sorrir. A chuva, para ele, representa prosperidade. Jonas Marques dobrou de dois para quatro hectares a área de plantação na localidade de Mundo Novo, zona rural de Cedro. "A colheita vai ser muito boa", prevê. Ele não é o único a aproveitar as boas precipitações. O presidente da Ematerce, Antônio Amorim, estimou que a safra de milho será boa em todo o Estado, embora não tenha estimado números. "Ainda é cedo para apresentar números da safra de grãos, mas tudo leva a crer que será uma das melhores", disse. "Outro setor que será beneficiado é o da apicultura porque há muita floração no campo", acrescentou.

Ainda nesta semana, o IBGE vai concluir e divulgar a pesquisa de amostragem sobre previsão de safra para 2020. A expectativa dos técnicos agrícolas é de que ocorra uma das maiores safras dos últimos 12 anos.

Estragos

Apesar de todos esses benefícios para agricultura e reservatórios, houve espaço também para os estragos. As chuvas de março trouxeram uma série de transtornos a pelo menos 12 cidades cearenses. Hidrolândia, no Noroeste do Estado, foi a que sofreu o maior impacto. Por lá, mais de 500 famílias ficaram desalojadas. Uma senhora, identificada apenas como "Dona Mocinha", que havia se afogado durante a enchente, faleceu no último domingo (29), após quatro dias internada. Em Tarrafas, no Sul do Estado, o canoeiro Antônio Teixeira morreu ao tentar atravessar uma passagem molhada.

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