Bonequeiras do Cariri terão peças expostas em Portugal
As dez artesãs, com idade entre 25 e 70 anos, trabalhavam todos os dias, por cerca de 3 a 4 horas
Crato. Das sombras das mangueiras para a Europa. A trajetória do grupo de mulheres artesãs deste Município, no Cariri cearense, evidencia o sucesso de suas criações. Formado há 17 anos, o grupo popularmente conhecido como "Bonequeiras do Pé de Manga", fabrica bonecas de pano, de variados modelos e tamanhos. Essas peças serão expostas, no próximo sábado, dia 22 de julho, na Feira Nacional de Artesanato de Vila do Conde (FNA 2017), que acontece na Região Metropolitana do Porto, em Portugal.
A ideia de confeccionar as bonecas surgiu quando a psicodramatista Elisete Leite Garcia, residente no Estado de São Paulo, pediu que sua prima, Gertrudes Leite de Oliveira, encomendasse dez bonecas para serem destinadas ao Sudeste. Segundo Elisete, por meio das bonecas poderia se reconstruir o mundo adulto da autoestima, valorização da sexualidade, papéis sociais, sonhos, conflitos, bloqueios e saúde, dentre outros.
"Procuramos nas feiras do Crato e foi difícil encontrar alguém que fabricasse, até que localizamos uma única senhora. Só que depois as encomendas da minha prima Elisete cresceram e a demanda já não estava sendo atendida", recorda Gertrudes, que mais tarde fundaria o grupo. "Fui até a comunidade e perguntei quem sabia costurar e quem estaria disposta a confeccionar as bonecas".
Origem
O nome do grupo é didático. As dez artesãs, com idade entre 25 e 70 anos, trabalhavam todos os dias, por cerca de 3 a 4 horas, embaixo de uma grande mangueira, localizada no Bairro São Miguel, na zona urbana do Crato. Daí surgiu o nome "Bonequeiras do Pé de Manga". Hoje, porém, o trabalho é feito individualmente, conta Gertrudes. "Não existe mais o pé de manga", brinca. "Fazemos os trabalhos em casa mesmo e depois juntamos tudo. Quando recebemos alguma grande encomenda, nos reunimos na casa de alguém", diz.
As bonecas de pano são feitas de uma forma simples, em que partes do corpo são confeccionadas em tecido, podendo o enchimento ser feito com diversos materiais, como palha, chumaços de algodão e panos. "A simplicidade tem que estar presente. Há muito tempo, as crianças só tinham esse divertimento e elas eram feitas bem simples, portanto, a gente optou por manter da mesma forma", explica Gertrudes. Cada boneca leva de 1h a 2h para ficar pronta e, por mês, as artesãs confeccionam cerca de 400 unidades. "Quando temos alguma feira ou um grande pedido, esse número pode duplicar", explica a artesã.
Em 17 anos, as artesãs já acumulam 90 personagens que remetem à cultura local. "As mais procuradas são o Bando do Lampião, a Nordestina, a Família, e o Padre Cícero", pontua Gertrudes. O preço varia entre R$ 6 e R$ 13. Tudo que é produzido é comercializado nas feiras livres e eventos culturais na região e exportada para grandes centros, como São Paulo e Belo Horizonte, além de países como Espanha, México, Alemanha, Equador e Venezuela.
A renda líquida com a venda é dividida entre as integrantes do grupo. Apesar do sucesso, Gertrudes conta que ainda não é possível viver exclusivamente do artesanato. "Nos últimos dois anos, a produção cresceu bastante e, consequentemente, a renda também. Se continuar assim, nos próximos anos, algumas artesãs já poderão se dedicar exclusivamente à confecção de bonecas de pano", projeta a cratense. Segundo as "Bonequeiras do Pé de Manga", em quase duas décadas de trabalho, já foram produzidas mais de 18 mil unidades.
"Quando recebemos a notícia de que as bonecas seriam expostas em Portugal, foi uma honra muito grande para todos nós. É muito importante e gratificante para nós levar o artesanato do Cariri para a Europa. Estamos ansiosas, mas bastante felizes", comemora Gertrudes.
Segundo ela, a linha de produção que, apesar de simples, já atende a um "bom padrão de acabamento", vem tendo um cuidado ainda maior. "Todas as bonecas são feitas com muito carinho. Mas essas possuem um peso maior, por isso, as artesãs se dedicam ainda mais", acrescenta. As bonecas a serem expostas na Feira remetem à cultura local. "Terá Lampião, o Sertanejo, Padre Cícero, a Família Nordestina, enfim, aqueles personagens que representam a nossa cultura", finaliza.
Feira de Artesanato
Com o intuito de levar toda a beleza do trabalho feito a mão além-mar, o Ceará participa da FNA 2017, na Região Metropolitana do Porto (Portugal). O Estado representará o Brasil como País convidado da 40ª edição do evento, realizada no período de 22 de julho a 6 de agosto.
O estande "Artesanato do Ceará - Mãos que fazem história" exibirá, em terras lusitanas, o que há de melhor e mais original na produção artesanal cearense. A promoção é do jornal Diário do Nordeste, com realização do Governo do Ceará. A Prefeitura Municipal de Fortaleza, por meio da Secretaria Municipal de Turismo de Fortaleza (Setfor), está apoiando o estande. A primeira-dama do Estado, Onélia Leite de Santana, confirmou presença na solenidade de abertura.
Quem assina a curadoria da exposição é a Central de Artesanato do Ceará (Ceart). Foram selecionados, pela estilista Angélica Freitas, produtos que têm prioritariamente identidade cultural, expressando valores estéticos tradicionais, com qualidade e alto padrão de técnica. Além da mostra, a Ceart levará à Vila do Conde duas artesãs cearenses, Ana Maria Silva (renda de bilros) e Maviniê Mota (areia colorida), que demonstrarão, ao vivo, seus talentos.
O convite da Câmara Municipal de Vila do Conde e da Associação para Defesa do Artesanato e Património de Vila do Conde, promotores da FNA, surgiu após conhecerem o livro "Mãos que fazem história - a obra e a arte de artesãs cearenses" (Editora Verdes Mares, 2012), de Cristina Pioner e Germana Cabral. As jornalistas, ao lado da fotógrafa Marília Camelo, integram a equipe organizadora do estande e lançarão a obra durante o evento.
Mais informações:
Feira Nacional de Artesanato de Vila do Conde - Portugal
Data: 22 de julho a 6 de agosto
Site: www.fna.vconde.org
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"Confeccionar as bonecas é muito mais do que apenas buscar o lucro. É uma terapia para todas nós. Foi algo que começou de forma despretensiosa, mas que está crescendo cada vez mais e isso nos deixa orgulhosas"
Ana Tereza Luna
Artesã
"Primeiro, o resgate cultural. Confeccionamos peças que eram utilizadas como brinquedos há muitas décadas. Segundo, o simbolismo e a representatividade cultural e, por fim, a parte financeira"
Gertrudes Leite de Oliveira
Artesã