Homens de 30 anos com baixa escolaridade são principais vítimas de acidentes de trabalho

O perfil foi traçado por um cearense especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho, que lançou um livro sobre o assunto neste sábado (10)

Escrito por Redação ,
Legenda: Anastácio Gonçalves investigou acidentes de trabalho por dez anos para escrever seu livro.
Foto: Foto: Helene Santos

A investigação e análise de mais de 100 acidentes de trabalho, realizadas pelo especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho, Anastácio Gonçalves, resultaram na compilação de 20 histórias publicadas no livro “Foi obra do acaso?”, lançado neste sábado (10) em Fortaleza. O autor traça um perfil das vítimas mais frequentes dos acidentes de trabalho no Brasil: homens na faixa etária de 30 anos, com baixa escolaridade e pertencentes às classes D e E. 

Natural do município de Aurora, no sul do Ceará, Gonçalves trabalha como Auditor-Fiscal do Trabalho há mais de dez anos, perigo em que estudou os casos abordados no livro. Segundo ele, em média, 2.500 pessoas morrem em acidentes de trabalho por ano no Brasil. “O título do livro leva à essa reflexão. Será que [os acidentes] foram obra do acaso ou poderiam ser prevenidos? Prefiro deixar para o leitor tomar essa decisão. Mas, pela minha experiência, a grande maioria poderia ser evitada”, afirma. 

O especialista explica que, durante a investigação, procura-se identificar os fatores que levaram ao acidente, para seja possível preveni-los no futuro, mas fica evidente que o principal responsável pela segurança no ambiente de trabalho é a empresa. "A organização cria um ambiente econômico, e é responsável pelos riscos inerentes a esse ambiente de trabalho. Deve cumprir as normas regulamentadoras e a legislação existente referente à saúde e segurança no trabalho”. 

A perda de trabalhadores do perfil determinado representa impactos não somente às famílias, mas também à sociedade, uma vez que as vítimas estão em uma idade “altamente produtiva”. “É muito duro para as famílias. Primeiro, porque perdem um ente querido. Quando fica mutilado, a esposa, esposo ou os parentes têm que cuidar daquela pessoa, as dificuldades aumentam. Essa é uma parte imensurável dos acidentes de trabalho”, destaca. 

Uma das histórias investigadas que mais marcaram Gonçalves foi a primeira narrada no livro, com o título “Adolescência esmagada”. O conto relata uma parte da vida de um jovem de 17 anos que, devido à condição financeira dos pais, teve que trabalhar para ajudar a família e acabou sofrendo um acidente gravíssimo.  

“Hoje existe um discurso que diz que na infância e na adolescência é bom trabalhar, porque ajuda na formação. Não é verdade. Adolescente tem que estar na escola. Nessa idade, não há preparo físico nem psicológico para o trabalho. É uma mensagem que o livro também traz, nesses casos”. 

Para o Auditor-Fiscal, a nova era tecnológica pode representar um desafio para o acompanhamento de novos casos de acidentes de trabalho, uma vez que modifica o ambiente onde os trabalhadores estão inseridos. Acidentes que ocorrem com quem trabalha em casa - o home office – ou com entregadores ou motoristas de aplicativo acabam não sendo contabilizados, segundo Gonçalves. “Muda totalmente a lógica que temos hoje. Temos que aprender a lidar com isso para proteger essas pessoas”. 

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