Dar à luz na terra da luz

Escrito por Elba Aquino , elba.aquino@tvdiario.tv.br

O nascimento de um filho é um momento sublime. Transcende o palpável, o explicável. Quando se escolhe esperar que o ciclo se feche e o bebê, envolto pela força do instinto natural, siga o caminho fisiológico do nascimento, se tem não apenas um parto, mas uma história sem roteiros e determinações. Os acontecimentos se sucedem de uma forma que fica difícil temporizar.

O desejo de ser mãe sempre fez parte de mim. Gerar uma vida e viver a maternidade era quase inerente à minha existência. E a gravidez veio como algo que estava escrito. Tinha que acontecer. E o exame positivo redesenhou o meu destino. Para o meu filho, escolhi o parto humanizado. Queria, de fato, sentir aquele momento da forma mais natural possível.

E aconteceu numa noite de sábado como tantas outras, tirando o fato de estar na véspera de completar as 40 semanas de gestação. A orientação médica foi clara: caminhe, se distraia e torne a espera leve. Assim fiz. Depois de longas horas de caminhada, meu filho sinalizou que a hora de nascer estava próxima. Ao perceber que a bolsa havia estourado, fui invadida por uma calmaria profunda. Não é o que se espera de uma mulher prestes a parir.

Seguimos para a maternidade cruzando as ruas de Fortaleza. O trânsito de um sábado depois de 22h era tranquilo. A viagem seguiu caminhos que eu havia percorrido incontáveis vezes, mas o meu olhar enxergava além. Noite e luz. Tempo e espera. Movimento e introspecção. Os contrastes iam se misturando aos sentimentos.

A maternidade estava lotada e decidimos buscar outro local. Novamente, seguimos pelas ruas de Fortaleza. De novo, as luzes da cidade enchiam meus olhos e eu enxergava os caminhos de forma diferente. Pensava que as pessoas que me apoiariam naquele momento sublime também estavam cruzando ruas e avenidas, esperando o sinal verde.

A chegada, dessa vez, foi tranquila. Com a equipe que escolhi para nos acompanhar nesse momento, esperei conhecer a vida que havia sido gerada no meu ventre. A opção pelo parto humanizado me fez compartilhar esse momento com pessoas sensíveis, que me deram o suporte importante e necessário. Meu desejo era claro: queria que meu filho sentisse amor e acolhimento quando abrisse os olhos para o mundo.

As temidas dores do parto começaram depois de 2h da madrugada e, verdadeiramente, não consigo mensurar, em tempo real, como senti passar as 3 horas até o nascimento. Mas são claras, na minha memória, a corrente de amor, a sensação de segurança e força que me dominou. Agulhas de acupuntura em pontos estratégicos, massagens, respirações, orações e água. Sim, o meu parto foi na água. Não estava planejado, mas foi onde me senti confortável.

Concentração, o aperto forte nas mãos, o corpo e a mente trabalhando juntos. Uma hora, a sala de parto estava cheia: dola, fotógrafa, médicos, enfermeiros, família. Mas, no instante seguinte, naquele momento sublime, éramos apenas eu e ele. Mãe e filho, em plena conexão, trabalhando juntos pela vida em nome do amor. Às 5h22, ele nasceu e eu renasci. Começava ali um novo capítulo da minha história que seria escrito a quatro mãos.

Já se passaram 2 anos desde aquele 9 de julho de 2017. Cresço junto com ele. Minha opção foi oferecer alternativas para que meu filho descubra o mundo, os próprios potenciais e abrace a felicidade. Crio com apego, uso a empatia, observo, acompanho e conduzo. Sento no chão, seguro a mão, me perco e me encontro nele e com ele. Hoje, quando cruzamos ruas e avenidas, nas nossas rotas diárias, costumo conversar sobre os cenários e sobre as luzes da cidade.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.