Entenda o que é e como funciona uma franquia

O especialista Leonardo Lamartine, diretor regional da Associação Brasileira de Franquias (ABF) no Nordeste, explica os detalhes do segmento para quem pretende investir

Legenda: É importante que o investidor faça uma análise criteriosa que inclui conhecer a fundo o sistema de franchising – que traz muitos benefícios, mas também obrigações.
Foto: Banco de Imagens

Quando uma pessoa pensa na palavra franquia, imediatamente pode imaginar um grande restaurante, uma lanchonete internacional ou uma loja de grife, que, apenas com a força de sua marca, alcança um faturamento alto todos os meses. Certamente pode ser um bom negócio tornar-se um franqueado, porém, os bons resultados só virão com muito trabalho e investimento. Além disso, é possível fazer parte de uma rede de franquias, não necessariamente de grande porte, pois há diversas opções de segmento no mercado.

Essas e outras orientações são básicas para quem pretende ingressar nesse ramo, que apresenta bons índices nos últimos anos no Brasil. “No Nordeste, o mercado de franquias faturou R$ 5,7 bilhões no primeiro trimestre de 2020, o que representa um aumento de 2% no faturamento da região frente ao mesmo período anterior”, comenta Leonardo Lamartine, Diretor Regional da Associação Brasileira de Franchising (ABF) no Nordeste.

Nesta entrevista exclusiva ao Vem Empreender, Leonardo Lamartine traz mais detalhes a respeito do segmento e explica de que forma os empreendedores podem conseguir melhores resultados ao entrar para o ramo de franquias.

Diário do Nordeste: De que forma podemos definir uma franquia?
Leonardo Lamartine: Franquia é um sistema de venda de licença no qual o franqueador (o detentor da marca) cede, ao franqueado (o autorizado a explorar a marca), o direito de uso da sua marca, patente, infraestrutura, know-how e direito de distribuição exclusiva ou semiexclusiva de produtos ou serviços. Esse franqueado, por sua vez, investe e trabalha na franquia e paga parte do faturamento ao franqueador sob a forma de royalties. Eventualmente, o franqueador também cede ao franqueado o direito de uso de tecnologia de implantação e administração de negócio ou sistemas desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante remuneração direta ou indireta, sem ficar caracterizado vínculo empregatício.

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Diário do Nordeste: Quais são as diferenças (conceituais e de funcionamento) de uma franquia para outros tipos de negócios?
Leonardo Lamartine: A franquia oferece um modelo de negócio testado, produtos ou serviços prontos, suporte e treinamento da franqueadora, acesso a uma marca reconhecida, ao poder de compra da rede e ações de marketing, dentre outros. Com isso, vêm também algumas responsabilidades, principalmente a necessidade de seguir padrões e regras, reportar dados à franqueadora, cumprir obrigações contratuais e contribuir com as taxas devidas. Em tese, no negócio próprio, o empresário tem mais liberdade e até agilidade para tomar algumas decisões, mas deve fazer tudo isso sozinho, sem ter acesso à experiência e aos recursos de uma rede. De acordo com o objetivo particular, o empresário deve fazer a ponderação de qual formato se encaixa melhor para ele. Porém, ressaltamos que o modelo de franquias traz muitas vantagens para quem está abrindo seu primeiro negócio, tanto que a taxa de mortalidade é muito inferior à de negócios isolados.

Diário do Nordeste: Quais são os tipos de franquias existentes?
Leonardo Lamartine: O sistema de franquias é muito amplo e inclui os mais variados segmentos e valores. O mercado possui cerca de 2,8 mil redes franqueadoras, que variam de R$ 2 mil a R$ 40 milhões. A ABF divide as marcas em 11 segmentos.

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Legenda: Leonardo Lamartine: em 2020, o mercado nordestino ampliou em 7% o número de redes, atingindo o patamar de 955 marcas ativas na Região.
Foto: Divulgação

Diário do Nordeste: Como o interessado pode escolher o melhor tipo de franquia?
Leonardo Lamartine: O principal conselho para o futuro empreendedor é, acima de tudo, a autoavaliação. É analisar se há uma identificação com o tipo de negócio a ser investido. Nesta hora, honestidade com si mesmo é tudo, pois muito mais do que poder aquisitivo para iniciar o negócio, é preciso afinidade e dedicação para mantê-lo.

Diário do Nordeste: Antes de decidir abrir uma franquia, o que o interessado deve saber?
Leonardo Lamartine: Antes de escolher uma marca, é importante que o investidor faça uma análise criteriosa que inclui conhecer a fundo o sistema de franchising – que traz muitos benefícios, mas também obrigações. O segundo passo é conhecer em profundidade o segmento em que se quer atuar, o público-alvo e a área geográfica de atuação. O terceiro é estudar com cuidado as informações fornecidas pela rede, especialmente a COF – Circular de Oferta de Franquia. Inclusive, recentemente entrou em vigor o novo marco regulatório do setor, que prevê um grau de transparência maior por parte da franqueadora. É preciso ficar atento a estes detalhes. Conversar com franqueados e ex-franqueados é outra abordagem importante, pois fornece detalhes da operação cotidiana. Outra dica importante é fazer uma avaliação ampla, que abranja aspectos financeiros, de concorrência e de riscos externos. Por fim, antes de fechar, recomendamos levar o contrato de franquia para um advogado especializado, uma vez que se trata de um compromisso de longo prazo e com muitos detalhes importantes envolvidos.

Diário do Nordeste: Onde o interessado pode conseguir mais informações sobre franquias, antes de decidir por abrir o negócio?
Leonardo Lamartine: A ABF possui um portal oficial com informações das marcas associadas, números dos segmentos e outras informações para o interessado no sistema de franquias. Além disso, a ABF oferece cursos e palestras para que o empreendedor possa conhecer profundamente o sistema e fazer uma avaliação sobre o tipo de negócio que irá se dedicar. Temos como objetivo a formação e o constante aprimoramento de profissionais que atuem no setor.

São os 11 segmentos de franquias, de acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF): Alimentação; Casa e Construção; Comunicação; Informática e Eletrônicos; Entretenimento e Lazer; Hotelaria e Turismo; Limpeza e Conservação; Moda, Saúde, Beleza e Bem Estar; Serviços Automotivos; Serviços e Outros Negócios; e Serviços Educacionais.

Diário do Nordeste: Como está o mercado para as franquias no Brasil e no Nordeste?
Leonardo Lamartine: Com a pandemia, o sistema de franquias foi um dos mais impactados. Mas, uma recuperação gradual começa a se desenhar de forma mais nítida no horizonte do mercado brasileiro. De acordo com um estudo da ABF e da empresa de pesquisas AGP, o setor registrou, em julho, pelo segundo mês consecutivo, uma redução nas perdas de faturamento. Em junho, a queda média no faturamento das franquias foi de 30,1%, menor do que os 41% em maio e os 48,2% em abril. A reabertura da economia em alguns Estados, a elevação das unidades em operação e o maior desenvolvimento de outros canais de venda a partir do digital são as principais causas desta recuperação. Em junho, assim como na pesquisa anterior, em todo o País os segmentos de Entretenimento e Lazer, e Turismo e Hotelaria continuam a ser os mais afetados, enquanto Saúde, Beleza e Bem-Estar, Serviços e Outros Negócios, e Serviços Educacionais apresentaram quedas menores de, respectivamente, 1%, 7% e 23%. Assim como em outros mercados e a economia de forma geral, os estudos da ABF/AGP indicam que essa trajetória tende a se manter nos próximos meses. Os dados regionais são do primeiro trimestre de 2020.

Diário do Nordeste: Na sua visão, abrir uma franquia também pode significar mais credibilidade para o empreendedor – visto que muitas delas são marcas já consolidadas no mercado?
Leonardo Lamartine: Sim. Ao ingressar em uma rede, o franqueado tem acesso a produtos e serviços formatados e experimentados, sistemas de TI e gestão, a uma marca reconhecida, a uma rede de fornecedores credenciados e uma série de padrões visuais para embalagens, comunicações e para o ponto de venda. Além disso, ele tem acesso ao conhecimento e experiência do franqueador, que também treina e capacita sua rede. Logo, trata-se de um ambiente muito mais preparado e favorável, tanto para o empreendedor de primeira viagem como para profissionais com alguma experiência – tanto que o índice de mortalidade de franquias, cerca de 5%, é bastante inferior ao de empresas isoladas. De forma que, sim, começar uma franquia é mais vantajoso para iniciar um negócio – inclusive, costuma ter uma implantação mais rápida –, mas é importante que o empreendedor tenha em mente que todo esse benefício também traz obrigações, como respeitar os padrões da rede e reportar resultados, dentre outros.

Saiba mais

Associação Brasileira de Franchising (ABF)

Sebrae: Como funciona o sistema de franquias