Macron visita Javier Milei e tenta 'conectar' presidente da Argentina às prioridades do G20
Presidente francês visitou Argentina as véspera da reunião do G20, que ocorre no Brasil
O presidente da França Emmanuel Macron se reuniu neste domingo (17) em Buenos Aires com o presidente argentino, Javier Milei, em uma tentativa de conectar o sul-americano às pautas do G20.
Após uma homenagem simbólica às vítimas da ditadura militar argentina (1976-1983), especialmente as francesas, Macron visitou a Casa Rosada, sede da presidência argentina, onde foi recebido por Milei.
O argentino é acusado de revisionismo por seus críticos em relação ao período da história do país sul-americano.
Ele também é cético do aquecimento global e retirou a Argentina da conferência sobre mudanças climáticas da ONU (COP29) em Baku, na última semana.
Especula-se também sobre a possível saída do Acordo Climático de Paris, algo que Trump fez durante seu primeiro mandato (2017-2021).
Macron chegou à Argentina no sábado (16) e ambos os líderes se reencontrarão na cúpula do G20 no Rio de Janeiro, na segunda e terça-feira.
“Vamos falar sobre nossos interesses comerciais, sobre nosso comércio, sobre a defesa da nossa agricultura e dos nossos agricultores”, disse o presidente francês no TikTok, a bordo do avião que o levava a Buenos Aires.
“Nem sempre pensamos da mesma forma sobre muitos temas, mas é muito útil debater”, disse o chefe de estado francês.
O governo francês espera, portanto, conseguir "conectar o presidente Milei às prioridades do G20”. Também busca convencer o ultraliberal a não agir sozinho em questões climáticas.
Paris também pretende aprofundar as relações econômicas com a Argentina, especialmente no setor de metais críticos, já que o grupo minerador Eramet acaba de inaugurar uma mina de lítio no país sul-americano.
"Não os esqueceremos"
Antes da reunião na Casa Rosada, Macron e sua esposa Brigitte prestaram homenagem aos quase 20 franceses desaparecidos e assassinados durante a ditadura argentina na Igreja da Santa Cruz, hoje um memorial da resistência.
“Não os esqueceremos”, disse Macron a familiares das vítimas, que conversaram com o presidente, contaram suas histórias e agradeceram por sua visita à igreja.
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Em dezembro de 1977, 12 pessoas, incluindo várias fundadoras das Mães da Praça de Maio e as freiras francesas Léonie Duquet e Alice Domon, foram sequestradas, torturadas, assassinadas e jogadas ao mar após se reunirem nesta igreja.
Milei e sua vice-presidente, Victoria Villarruel, defendem a teoria de que aquele episódio da história argentina foi uma guerra na qual ambas as partes tiveram igual responsabilidade.
O governante e a vice também relativizam o número de desaparecidos. A ditadura levou ao desaparecimento de 30.000 pessoas, segundo organizações de direitos humanos.
Acordo com o Mercosul
Macron também aproveita a viagem pela américa do sul para justificar a posição contrária ao acordo de livre comércio entre União Europeia e Mercosul.
Na França, agricultores e políticos temem que um possível tratado de livre comércio aumente a disponibilidade de carne latino-americana na Europa e provoque a concorrência desleal de produtos que não estão sujeitos às rigorosas normas ambientais e sanitárias vigentes na Europa.
Em Buenos Aires e no Rio, Macron se fará porta-voz darejeição. Alemanha e Espanha, por outro lado, são favoráveis à assinatura do tratado.
O francês insistirá que Paris rejeita o texto do acordo e exigirá que sejam incluídas disposições para o respeito às normas de fiscalização, bem como ao Acordo de Paris sobre o clima.