Joe Biden mantém posição sobre saída dos EUA do Afeganistão: 'não fomos lá formar uma nação'

Presidente americano fez discurso no qual afirmou que a missão no País era capturar responsáveis pelos atentados de 11 de setembro de 2001

Escrito por Redação ,
Joe Biden fazendo pronunciamento sobre situação no Afeganistão
Legenda: Presidente dos EUA reduziu período de férias para se pronunciar acerca de movimento adotado pelo país
Foto: Brendan Smialowski/AFP

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, declarou, em pronunciamento na tarde desta segunda-feira (16), que mantém sua posição acerca da retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão, o que acarretou a retomada do poder pelo grupo extremista Talibã

"Nossa missão nunca foi construir uma nação ou criar uma democracia centralizada e unificada", justificou.

O chefe do Executivo estadunidense estava em Camp David, casa de férias dos presidentes norte-americanos, mas reduziu a estada para tratar da crise mais grave desde a sua eleição, em novembro de 2020. A previsão era de que ele permanecesse lá até a próxima quarta (18), porém o Executivo divulgou pronunciamento para esta tarde.

"Fomos até o Afeganistão há 20 anos com metas definidas: capturar quem nos atacou em 11 de setembro de 2001", afirmou Biden. Na missão, segundo Biden, conseguiram acabar com os riscos da organização a Al Queda e chegar a Osama Bin Laden.

A saída militar havia sido acordada pelo governo de Donald Trump. Em setembro de 2020, o republicano iniciou uma negociação com o Talibã, apontando para a retirada das tropas americanas do Afeganistão em 2021. Biden deu sequência às tratativas e, em 14 de abril, anunciou que colocaria fim à operação até a simbólica data de 11 de setembro de 2021. Em seguida, antecipou o prazo para 31 de agosto, o que encorajou o Talibã a avançar rapidamente.

No pronunciamento, o presidente pontuou que a missão deveria ser caracterizada como antiterrorismo, não contrainsurgente. "Temos de nos concentrar nas ameaças de hoje, 2021, não nas de ontem", emendou como pretexto.

"A escolha que tive de fazer, como presidente, foi seguir adiante com esse acordo ou voltar a lutar com o Talibã. Não haveria cessar-fogo após 1º de maio, não havia como proteger nossas forças, não havia como garantir segurança às forças norte-americanas", ressaltou, pontuando manter sua decisão.

"Eu me mantenho firmemente na minha decisão. Depois de 20 anos, aprendi do momento mais duro. Nunca houve um momento certo para retirar as forças americanas."
Joe Biden
Presidente dos EUA

Biden ainda afirmou que os EUA podem conduzir ações contrárias ao terrorismo em vários países, mesmo sem presença militar.

Entre as formas com que o governo pode atuar, destacou, estão a diplomacia e o uso de instrumentos econômicos, além da união internacional em torno do assunto. Ele, porém, frisou a possibilidade de uma resposta "rápida e contundente" caso os americanos sejam atacados.

Interesse de adversários

Joe Biden destacou, no pronunciamento, que adversários do país, como Rússia e China, adorariam que o país continuasse a gastar reservas financeiras no conflito no Afeganistão. Ao todo, já foram investidos cerca de 1 trilhão de dólares na missão.

Queda do governo

No pronunciamento, Biden admitiu que o governo afegão caiu "mais rápido" do que se esperava e destacou o apoio militar americano. 

"Demos-lhes todas as oportunidades para determinar seu próprio futuro. Não pudemos dar-lhes a vontade de lutar por esse futuro", afirmou, emendando com uma crítica: "Americanos não podem se arriscar na guerra se nem os próprios afegãos estão dispostos a lutar".

Ele também criticou a falta de um cessar-fogo, de um acordo ou de qualquer outra garantia de que não haveria mais ataques a partir da data estipulada por Trump para a retirada dos militares americanos.

Biden reconheceu que a decisão será criticada, mas destacou preferir enfrentar críticas do que deixar a decisão da saída do território afegão para o próximo presidente.

Na última vez em que tratou publicamente sobre a situação do Afeganistão, em 10 de agosto, o democrata afirmou que "não lamentava" a decisão de retirar os últimos soldados americanos do território afegão. 

No sábado (14), Biden anunciou, em comunicado oficial, envio de 5 mil soldados para garantir a segurança do aeroporto de Cabul e retirar quase 30 mil americanos e civis afegãos que cooperaram com o exército dos EUA.

Defesa de direitos

Na esteira da retirada das tropas, Biden sinalizou a intenção de priorizar o tratamento das mulheres e meninas sob o regime talibã no Afeganistão. "Continuaremos erguendo a voz pelos direitos básicos do povo afegão, das mulheres e meninas", asseverou, acrescentando que o país age em prol dos Direitos Humanos em todo o mundo.

A Casa Branca informou que o presidente volta ainda nesta segunda à residência de Camp David, afirmou a AFP.

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Oposição a Biden

Os republicanos, até agora calados porque a opinião pública era em maioria favorável à retirada das tropas, investiu contra o governo Biden pelo que considera uma humilhação para o exército dos EUA.

A retirada do Afeganistão, porém, baseou-se quase totalmente em um plano posto em andamento por Trump, que ordenou as negociações com os talibãs. Caso tivesse sido reeleito, a saída inclusive ocorreria antes, a partir de 1º maio de 2021.

Apesar disso, Trump não poupou críticas a seu sucessor. "É hora de Joe Biden, desacreditado, renunciar por ter permitido o ocorrido no Afeganistão", exigiu.

"O resultado no Afeganistão, inclusive a retirada, teria sido totalmente diferente se o governo Trump fosse o encarregado", avaliou, atribuindo a crise ao resultado das eleições presidenciais de 2020.

A Casa Branca, por sua vez, insiste em que o caos em Cabul é, na verdade, a melhor de todas as más alternativas disponíveis — para o governo, pelo menos detém uma guerra impossível de vencer.

"O que o presidente não estava preparado para fazer era entrar em uma terceira década de conflito, incorporando milhares de tropas mais, que era sua única opção", disse o assessor de segurança nacional Jake Sullivan à NBC. "O presidente teve que tomar a melhor decisão possível e a defende".