Tribunal do Crime: membro da GDE que matou garota de programa após ela agredir a irmã adolescente vai a júri
Caio é multidenunciado e acusado de ser 'soldado' da facção criminosa
Acusado de integrar a facção criminosa Guardiões do Estado (GDE) na função de 'soldado matador' e participar do assassinato de uma garota de programa, Caio de Lima Gois, o 'Layon', deve sentar no banco dos réus no próximo dia 27 de janeiro, a partir das 9h. Os jurados são populares, decididos por sorteio, no dia do julgamento.
De acordo com a denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE), o 'Tribunal do Crime' da facção ordenou a morte da vítima Eveline Maria Santos da Silva, após ela agredir a irmã adolescente, em uma discussão familiar sobre quem ficaria responsável sobre os 'afazeres de casa', no bairro Vicente Pinzón, em Fortaleza.
Outros réus pela morte da jovem já foram a julgamento. Em setembro do ano passado, os acusados Edson do Nascimento Romulado, Joanaina Dias Matos e Maria Leudiana da Silva Sampaio Brasil foram julgados. Edson e Maria foram condenados, enquanto Joanaina foi absolvida.
Maria e Edson foram condenados, cada, a cumprir 19 anos e seis meses de prisão
Caio é multidenunciando e também acusado de um crime de grande repercussão no Estado: as mortes do instrutor de surf Davi Silva Sabino, de 22 anos, e do avô dele, Francisco Alexandre Filho, 70, assassinados no bairro Varjota. A reportagem não localizou a defesa do 'Layon'.
Conforme decisão, o réu continua preso porque "permanecem presentes elementos concretos a justificar a imposição da segregação cautelar". O juiz da 5ª Vara do Júri destacou que este réu ainda responde a processos pelos crimes de roubo à pessoa, dano, roubo de veículo, crime contra a administração pública, lesão corporal dolosa, ameaça, porte ilegal de arma de fogo e receptação.
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A DINÂMICA DO CRIME
Eveline foi assassinada no dia 6 de fevereiro de 2021, no Conjunto Alto da Paz II. Conforme a denúncia, os acusados fazem uso de armas de fogo mataram a mulher a mando de Maria Leudiana, a 'Lêudi', que na época tinha função de liderança na facção.
"Sobre as circunstâncias do crime, tem-se que a vítima Eveline era garota de programa e passou a noite anterior ao fato ingerindo bebida alcoólica e fazendo uso de substâncias entorpecentes, na companhia da denunciada Joanaína. Ao chegar em sua residência, na manhã seguinte, a vítima acordou sua irmã, de 12 anos, para que esta ajudasse nos afazeres de casa, o que acabou acarretando uma discussão entre ambas, tendo evoluído para as vias de fato, ocasião em que Eveline agrediu fisicamente o rosto de sua irmã, provocando-lhe um sangramento na boca"
A menina teria ligado para um interlocutor e relatado a agressão. Minutos depois, saiu de casa e foi interceptada por Leudiana, com quem conversou sobre o ocorrido. Segundo a acusação, Leudiana perguntou "à irmã da vítima se ela queria levar a vítima 'pras ideias', referência feita no sentido de levá-la para ser julgada pelo tribunal do crime da facção".
A adolescente teria dito que não, mas Lêudi insistiu e teria ido até a casa de Eveline "para tomar satisfações com a mesma a respeito da confusão entre as irmãs". Com poder de decretar mortes como punição, Lêudi teria ordenado o assassinato.
"Então, após a decisão pela morte da vítima, o grupo acionou a denunciada Joanaína, incumbindo-lhe a tarefa de atrair a vítima para o chamado 'cheiro do queijo'. De fato, dando consecução ao plano, a denunciada Joanaína foi até a casa da ofendida Eveline, tendo-a chamado até o lado de fora, afirmando que tinham umas pessoas que queriam falar com ela. A vítima tinha alguma proximidade maior Joanaína e, muito provavelmente em razão disso, acabou saindo, ocasião em que foi a vítima surpreendida pela ação dos denunciados Caio e Edson, que estavam a pé e de 'cara limpa', aguardando por Eveline. Após trocarem algumas palavras com a ofendida, eles a conduziram forçadamente para a parte detrás do bloco em que residia, onde a executaram com diversos disparos de arma de fogo. Em seguida, eles se evadiram, sendo que toda a ação fora realizada demonstrando total indiferença aos populares que presenciaram a ação"
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VINGANÇA E CRUELDADE
Na data do crime, Caio e Edson estavam de tornozeleiras eletrônicas. Os sinais de GPS confirmaram que eles estavam no local do assassinato. Os investigadores apontam que a dupla tem função de soldado na facção "para a execução das ordens dos chefes. Esses soldados são conhecidos pela crueldade de sua atuação"
O MP destaca que o crime foi cometido por motivação torpe, "tendo os autores ceifado a vida de Eveline após uma briga desta com sua irmã caçula. Em razão deste fato, a ofendida foi submetida ao “tribunal” formado pela facção GDE, os quais decidiram puni-la com a morte pela agressão provocada à sua irmã, uma espécie de vingança ou justiçamento, sendo a punição, consistente na eliminação da própria vida da vítima, absolutamente desproporcional".
A garota de programa foi atingida por 14 disparos, principalmente na região das costas. "As condutas foram marcadas pelas notas da surpresa, da covardia e da insídia, devendo incidir sobre elas a qualificadora consistente na impossibilidade ou dificuldade de defesa da vítima", segundo o Ministério Público.