Processo que apura homicídio durante rebelião em centro socioeducativo de Fortaleza é desmembrado
O crime aconteceu em junho de 2018, dentro do Centro Educacional Cardeal Aloísio Lorscheider (Cecal). As vítimas foram agredidas com "cossocos", pedras e barras de ferro
O processo que tramita no Judiciário cearense para apurar um homicídio e uma tentativa de homicídio dentro do Centro Educacional Cardeal Aloísio Lorscheider (Cecal) foi desmembrado. Quase três anos após a rebelião com desfecho trágico, os réus pelo crime permanecem presos e aguardando o julgamento, que segue sem data para acontecer. A decisão foi publicada no Diário da Justiça na última semana.
O jovem Anderson Claudejano Abreu Andrade, conhecido como 'Bodó', morreu devido ao motim que teve origem na disputa entre facções rivais dentro do Centro Educacional. Consta nos autos que ele e outro adolescente foram surpreendidos enquanto almoçavam e agredidos com "cossocos" (facas artesanais), pedras e barras de ferro. A segunda vítima sobreviveu aos ferimentos. Ainda na data do fato, a reportagem apurou que um socioeducador foi mantido refém.
A decisão foi proferida pela 5ª Vara do júri da Comarca de Fortaleza. Para desmembrar o processo, a juíza levou em consideração o número excessivo de réus na ação penal e objetivou não prolongar a prisão provisória. Ao todo, são 14 acusados pelo crime ocorrido em junho de 2018.
Quem são os acusados
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Ariano Bruno Ferreira Feitosa
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Dom Juan Ferreira de Lima
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Fabrício Pimenta de Mesquita
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Jorge Luiz de Lima
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Iuri Araújo Pereira
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Antonio Renato Façanha Martins
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Manuel Luiz Mota Félix
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Herbson Nascimento da Silva
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Vinícius de Oliveira Justiniano
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Lucas Pereira Oliveira da Silva
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Francisco Edson Pereira do Nascimento
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Alex Sousa Ribeirto
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José Thiago de Carvalho Moreira
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Daniel Marcondes Moraes Ferreira
Denúncia
De acordo com a denúncia ofertada pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) em julho de 2018, no dia 6 de junho do mesmo ano, por volta do meio-dia, começou a rebelião no Cecal.
Os envolvidos foram presos em flagrante e as prisões convertidas em preventiva já na audiência de custódia. Se destaca que a manutenção das prisões dos réus é pela gravidade da conduta delituosa.
Em local de confinamento, surpreenderam as vítimas com agressões aliadas aos motivos que aparentemente o determinaram, ao que parece, em razão de rivalidade entre facções criminosas, demonstrando sua periculosidade social e a necessidade de se acautelar a ordem pública, notadamente por serem dados à práticas delitivas graves, o que por si só exclui a aplicação das medidas cautelares, por não serem adequadas ao presente caso praticado com extrema violência contra a pessoa"
A denúncia foi recebida pelo Poder Judiciário ainda no mês de julho de 2018, e os acusados pronunciados em janeiro de 2019. Já em junho de 2020, dois anos após o fato, ficou designada a sessão de julgamento no Tribunal Popular do Júri, agendada para acontecer em setembro de 2020. Devido à pandemia, a sessão não foi realizada.
Na época, a Defensoria Pública do Ceará alegou não encontrar condições de realizar o julgamento nas condições do contexto da pandemia "tendo em vista possíveis problemas técnicos durante o interrogatório dos réus por videoconferência e o fato de o julgamento se alongar por muitas horas, com o uso de máscara, por demais desconfortável a todos que se fazem necessário a sua presença".
O Judiciário concordou pelo adiamento considerando "o momento de crise mundial, em decorrência da pandemia ocasionada pelo coronavírus". A decisão é que, quando acontecer, o interrogatório dos réus seja feio por meio de videoconferência.