Polícia realiza reconstituição de ação policial em que dono de barraca na Praia de Iracema foi morto

Familiares e testemunhas afirmam que o jovem, que tinha contra si um mandado de prisão em aberto expedido pela Justiça do Pará, foi baleado e morto mesmo algemado pela Polícia Militar. O soldado investigado alega que o tiro foi disparado de forma acidental

Escrito por Messias Borges , messias.borges@svm.com.br
Jovem foi morto com um tipo durante uma abordagem da PM no calçadão da Praia de Iracema
Legenda: Jovem foi morto com um tipo durante uma abordagem da PM no calçadão da Praia de Iracema
Foto: Arquivo pessoal | Reprodução/Instagram

O episódio em que um proprietário de uma barraca foi morto em uma abordagem policial na Praia de Iracema, em Fortaleza, foi reconstituído, em uma Reprodução Simulada dos Fatos, realizada pela Polícia Militar do Ceará (PMCE), entre a noite da última quinta-feira (6) e a madrugada desta sexta (7).

A reconstituição aconteceu no mesmo lugar e horário onde Taian Costa, de 27 anos, foi morto por um disparo efetuado pelo soldado Erick Nery de Oliveira, que estava de serviço pelo Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas (BPTur): o calçadão da Praia dos Crush, no bairro Praia de Iracema, às 23h30. O caso aconteceu no dia 12 de março deste ano. O policial alegou, na investigação, que o tiro foi disparado de forma acidental.

A Reprodução Simulada dos Fatos foi marcada pela Polícia Militar do Ceará, para instruir um Inquérito Policial Militar (IPM) que investiga o caso. Policiais que participaram da abordagem, peritos da Perícia Forense do Ceará (Pefoce), outros investigadores e advogados que representam as partes participaram do evento, que durou cerca de duas horas. A área foi isolada, para não haver interferência da população.

O soldado Erick Nery foi afastado pela Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos da Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) no dia seguinte à morte do proprietário da barraca. Um processo administrativo também foi aberto contra o policial militar.

Familiares de Taian Costa e testemunhas da abordagem policial afirmaram que a Polícia Militar agiu de forma abusiva e que o jovem foi baleado após "ficar nervoso", se desvencilhar dos policiais e tentar fugir. Segundo a versão, Taian foi baleado mesmo algemado.

O advogado Walisson dos Reis Pereira, que representa a família de Taian e acompanhou a Reprodução Simulada dos Fatos, afirmou que o evento foi importante para esclarecer fatos do que aconteceu naquela noite, na Praia dos Crush. Segundo o advogado, o suspeito será ouvido pelos investigadores na próxima semana.

Espero que a Justiça seja feita da melhor forma, que haja uma punição devida ao policial, dando a ele o direito da ampla defesa e do contraditório. Esperamos que ele seja excluído da Corporação e seja levado a júri popular, por homicídio qualificado - por motivo torpe, recurso que impossibilitou a defesa da vítima e omissão de socorro."
Walisson dos Reis Pereira
Advogado da família da vítima

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Ao ser questionada sobre a ocorrência, a Polícia Militar do Ceará narrou, em nota, que o dono do quiosque foi baleado com um disparo em razão de tentar tomar a arma de um agente de segurança. 

Taian Costa fazia parte de um grupo de jovens abordados pelos policiais, na Praia dos Crush. Eles estariam na posse de uma pequena quantidade de droga, que foi apreendida pela Polícia.

Durante a consulta de antecedentes criminais dos abordados, foi verificado por meio do sistema da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops) que Taian tinha um mandado de prisão em aberto por roubo, expedido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Pará.

Apesar de ter sido afastado pela CGD e responder ao Inquérito Policial Militar, o soldado Erick Nery de Oliveira recebeu apoio institucional da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) e da Polícia Militar do Ceará, ao ser recebido pelo secretário-executivo da Secretaria, Angelo Filardi, e pelo comandante Geral da PMCE, coronel Klênio Savyo, seis dias depois da abordagem policial com morte.

Também estiveram presentes no encontro o tenente-coronel Ozeás, o capitão Maximiano e a Tenente Michelly - todos pertencentes ao BPTur. Uma fotografia da reunião foi publicada em perfil da PMCE, na rede social.

Em depoimento à investigação, o soldado Erick Nery contou que entrou em luta corporal com o suspeito, que tentou puxar sua arma, momento em que ocorreu o disparo acidental.

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