PM acusado seguiu vítimas durante dois dias antes de sequestro

A investigação da Delegacia Antissequestro (DAS), da Polícia Civil do Ceará (PCCE), aponta que um policial militar e um comparsa seguiram uma família durante ao menos dois dias seguidos, antes de sequestrarem uma adolescente de 13 anos e exigirem dinheiro da família da mesma para entregá-la. O soldado PM Harthely Guttierry Alves de Oliveira, de 27 anos, foi preso em flagrante, na última terça-feira (10).

O policial já estava afastado da ativa da Polícia Militar do Ceará (PMCE) desde março deste ano, por suspeita de participação no motim da categoria, motivo pelo qual é investigado pela Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD). Mas continua a receber salário normalmente. O titular da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), Sandro Caron, afirma que o suspeito deve ser chamado de "criminoso".

"Nossa política é de valorização dos bons policiais, que são maioria. Infelizmente, algumas vezes, no decorrer das nossas investigações, nos deparamos com esses comportamentos. Uma pessoa que pratica um crime como esse não merece ser chamada de policial. Trata-se, na verdade, de um criminoso", considera o secretário.

Segundo Caron, "uma operação como essa mostra que o próprio Estado trata de depurar as instituições. Seja através de investigações extremamente qualificadas como essa, seja através da Controladoria Geral de Disciplina".

O delegado-geral da Polícia Civil, Marcus Rattacaso, destaca a importância do uso da inteligência cibernética para localizar o suspeito e a vítima, em 22 horas após o crime, e o apoio que a DAS recebeu do Departamento de Inteligência Policial (DIP) e da Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais (Core), da PCCE; e da Coordenadoria de Inteligência (Coin), da SSPDS. De acordo com Rattacaso, a Delegacia Antissequestro tem solucionado 100% dos casos que investiga, nos últimos anos.

O sequestro da garota de 13 anos aconteceu por volta de 21h da última segunda-feira (9), no bairro Parque Genezaré, em Itaitinga, Região Metropolitana de Fortaleza. Dois homens, em um carro e em uma motocicleta, interceptaram outro veículo com avó, mãe e filha e levaram a adolescente no carro de um criminoso, abandonando a moto. A mãe dela ainda tentou fugir, mas um suspeito disparou para cima para assustar a mulher.

Segundo as investigações da DAS, a dupla seguia a família há cerca de dois ou três dias. Antes do sequestro, os criminosos acompanharam o alvo no bairro Barroso, em Fortaleza, até chegar em Itaitinga. Após o rapto, eles começaram a exigir dinheiro da família da jovem para liberá-la. O motivo pela escolha do alvo e o valor cobrado não foram revelados pelas autoridades.

Inteligência

Com uso de inteligência cibernética e outros levantamentos, a Polícia Civil chegou ao veículo utilizado pelo PM Harthely Guttierry, parado em uma estrada, no Município de Pindoretama, realizou a prisão em flagrante e resgatou a vítima, por volta de 19h30 da última terça (10). Com o policial militar, foi apreendida uma arma de fogo, munições, uma algema e uma balaclava.

"A vítima estava com o suspeito. Ela não foi maltratada pelos criminosos, segundo nos relatou. O objetivo dele era realmente a vantagem indevida, o dinheiro. Ele já estava no momento de entregar a criança, e nós estávamos no local para resgatá-la", afirma o titular da Delegacia Antissequestro, Raphael Vilarinho.

O comparsa do PM já foi identificado e é procurado pela Polícia. Conforme as apurações, os criminosos e a adolescente sequestrada passaram por uma pousada em Uruburetama e por uma casa em Aracati, antes da prisão do agente de segurança.

O policial militar foi autuado pelos crimes de extorsão mediante sequestro e disparo em via pública e levado ao Presídio Militar. A CGD informou que determinou a instauração de processo regular para apurar os crimes cometidos pelo militar nesta semana e novo afastamento preventivo em desfavor do servidor.

O soldado PM Harthely Guttierry Alves de Oliveira estava incluso em uma lista de 42 PMs que foram excluídos dos quadros da Polícia Militar do Ceará (PMCE) por deserção, durante o motim da categoria, em fevereiro deste ano. Entretanto, os policiais foram reincluídos à ativa para "responder ao processo dentro da Corporação", segundo a PMCE.