Júri da Chacina do Curió chega ao 5º dia: sentença deve ser divulgada neste sábado (24)

A sessão foi suspensa às 20h17 dessa sexta-feira (23), após a leitura dos quesitos que antecedem a votação dos jurados

Escrito por Emanoela Campelo de Melo, Messias Borges e Nícolas Paulino , seguranca@avm.com.br
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Legenda: A sessão foi encerrada às 20h17 nessa sexta-feira (23)
Foto: Calvin Penna

O júri da Chacina do Curió chega ao quinto dia consecutivo. Há expectativa que a sessão se encerre ainda neste sábado (24), logo após o colegiado de juízes da 1ª Vara do Júri de Fortaleza divulgar sentença de condenação ou absolvição para os quatro policiais militares, réus no caso.

A sessão foi suspensa às 20h17 dessa sexta-feira (23), após a leitura dos quesitos que antecedem a votação dos jurados. Durante duas horas os magistrados leram cada um dos pontos dos quesitos. Passada a leitura, as defesas dos réus Ideraldo Amâncio, Wellington Veras Chagas, Marcus Vinícius Sousa da Costa e Antônio José de Abreu Vidal Filho impugnaram parte dos quesitos.

A impugnação em comum dos advogados de todos os réus se deu sob alegação que a "quesitação apresentada é genérica e que pode violar plenitude de defesa, bem como pode violar a devida fundamentação das decisões judiciais".

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O advogado Roberto Duarte, que representa o PM Ideraldo Amâncio, pediu ainda que no documento fosse trocado o verbo 'concorrer' por 'participar', se referindo à acusação do Ministério Público do Ceará (MPCE) que Amâncio tenha envolvimento nas 11 mortes ocorridas na Grande Messejana, em novembro de 2015.

O MP não concordou com as impugnações e por meio do promotor de Justiça, Luís Bezerra Neto, disse que os quesitos estavam bem redigidos.

Às 20h17, Marcos Aurélio Marques Nogueira, presidente do colegiado e titular da 1ª Vara Júri, suspendeu a sessão, ainda sem a decisão de negar ou acolher os pedidos feitos pelas defesas.

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Legenda: Mães das vítimas ficaram emocionadas no 4º dia do júri
Foto: Calvin Penna

DEBATES

A manhã e a tarde dessa sexta-feira (23) foram marcadas pelos debates entre acusação e defesa. Ainda pela manhã, houve muita comoção para familiares das vítimas assassinadas, quando o MP mostrou vídeos do socorro às pessoas baleadas na Chacina do Curió. Familiares que estavam na plateia se emocionaram e deixaram o salão do júri.

As imagens de câmeras de rua mostram vários jovens estirados no chão ou sendo socorridos em carros, muitos deles baleados - e já mortos.

Veja as alegações da participação de cada réu, segundo os promotores:

  • PM Wellington Chagas: estava com o veículo com placas adulteradas, segundo câmeras do Detran; e apresentou depoimentos controversos (em um deles, o PM disse que não desceu do carro e em outro, afirma que desceu);
  • PM Marcus Vinícius - teve seu carro identificado por perícia, seguindo o comboio de carros que estariam sendo utilizados na Chacina, e mudou de versão durante a investigação (disse antes que o carro não era dele e, em juízo, que o veículo era dele, mas que não participou dos crimes)
  • PM Antonio Abreu Filho - também estaria com veículo adulterado; dados da ERB (Estação Rádio Base) mostraram que o celular dele estava na região da Grande Messejana. Ele negou, em depoimento inicial, que não estava no local; em juízo, confirmou que estava, mas prestando solidariedade à família do soldado Serpa;
  • PM Ideraldo Amâncio - único réu que alegou estar em casa, mas foi depor com um veículo igual a outro filmado na região dos crimes, com placa adulterada. O MPCE também contesta o vizinho do PM, que disse em depoimento em 2017 que não viu Ideraldo em casa naquela noite, mas no julgamento alegou que viu - ocasião pela qual o Órgão pediu que o mesmo respondesse por falso testemunho perante a Justiça, o que foi negado.

Em seguida, o MP defendeu a prisão dos acusados, ou seja, que eles não recorram em liberdade caso haja sentença a favor da condenação.

O QUE DIZ A DEFESA?

A defesa de cada réu teve cerca de 40 minutos para se manifestar. Eles alegaram não haver provas suficientes quanto à autoria das mortes ou mesmo negaram a autoria.

“Não há provas de quem fez o quê. Não tem imagem nem reconhecimento de ninguém que tenha feito alguma coisa, nem foram feitas as perícias que deveriam ter sido feitas”, disse ao Sistema Verdes Mares o advogado Walmir Medeiros, membro da defesa do PM Marcus Vinícius.

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Legenda: Centenas de pessoas acompanham o júri presencialmente
Foto: Fabiane de Paula

Talvane Moura, advogado do PM Ideraldo Amâncio, também crê na absolvição do cliente. “Ele estava em casa no dia do ocorrido e nada fez. Quem praticou esse delito merece reprovação adequada e justa, mas não é o caso dele”, garante.

Julgamento: veja resumo dia a dia

1º dia (20/06)

No primeiro dia de sessão do Júri, foram ouvidas três vítimas e duas testemunhas de acusação em sessão que durou 12 horas. Depoimentos violentos lembraram agressões e alvejamentos até de quem tentava socorrer vítimas feridas, na noite da chacina.

2º dia (21/06)

Na quarta-feira, foram ouvidas sete testemunhas arroladas pela defesa dos acusados, que buscaram ressaltar boa trajetória dos PMs na profissão e na vida pessoal. Ao fim do dia, chegou-se a 22 horas de julgamento.

3º dia (22/06)

Os réus Antônio José de Abreu Vidal Filho, Marcus Vinícius Sousa da Costa, Wellington Veras Chagas e Ideraldo Amâncio prestaram depoimento. Eles chegaram a se emocionar durante os interrogatórios e negaram participação nos crimes

Todos, por orientação da defesa e por direito deles, não responderam às perguntas do Ministério Público, para o qual há provas nos autos que "os colocam no local dos fatos". Eles responderam apenas ao colegiado de juízes e aos próprios advogados. O julgamento acumula 32 horas de duração.

4º DIA (23/06)

Acusação (MPCE e Defensoria Pública do Ceará) e os advogados de defesa protagonizaram os debates. A acusação dispensou a réplica e a sessão terminou com a leitura dos quesitos, momento que antecede a votação dos sete jurados.

 

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