Funcionário público filmado agredindo mulher é afastado de cargo no Interior do Ceará

Além das agressões à atual mulher, uma ex-companheira registrou Boletim de Ocorrência por violência doméstica

Escrito por Raísa Azevedo e Darlene Barbosa ,
montagem com imagens de agressão a mulher em rua de antonina do norte
Legenda: Testemunha registrou sequência de agressões
Foto: Reprodução

O funcionário público da Prefeitura de Antonina do Norte flagrado agredindo a companheira foi afastado preventivamente, por 60 dias, do cargo de motorista do Município no Interior do Ceará. A decisão foi publicada no Diário Municipal de Antonina do Norte e assinada pelo prefeito Antônio Roseno Filho nessa quarta-feira (25). O caso de agressão foi registrado em Boletim de Ocorrência (BO) no último dia 17.

O afastamento provisório foi determinado para "evitar influência na apuração" de processo administrativo aberto pela Prefeitura no último dia 23. Uma comissão do Município tem 60 dias para apurar "possível falta disciplinar praticada pelo servidor [...] consistente em atos de violência física e moral perpetradas contra a sua companheira [...], que demonstram comportamento extremamente agressivo, configurando possível conduta incompatível com a moralidade administrativa".

A defesa do funcionário público informou que ele "ainda não foi notificado, no entanto, está à disposição da administração pública municipal, para o que for necessário, à elucidação dos fatos".

Além das agressões à atual companheira, o homem é acusado por uma ex de violência doméstica. Em entrevista à reportagem, ela confirma ter registrado um Boletim de Ocorrência sobre as agressões na última segunda-feira (23). A vítima possui medida protetiva contra o homem. O Diário do Nordeste opta por não revelar o nome do agressor para preservar a identidade das vítimas. 

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Agressões

No último dia 17 de outubro, uma testemunha registrou Boletim de Ocorrência (BO) na Delegacia Regional de Crato após o funcionário público ser flagrado, dois dias antes, agredindo a companheira com chutes e golpes de tênis, na saída de uma residência.

Nas imagens, a vítima recebe um chute pelas costas. O homem ainda derruba uma motocicleta que pertenceria à mulher. Quando ela tenta erguer o veículo, volta a ser atacada, com golpes na região do rosto.

Ex-companheira denuncia

Após a repercussão do caso, uma nova vítima do funcionário público procurou a Polícia para registrar Boletim de Ocorrência. Em entrevista ao Diário do Nordeste, a ex-companheira do suspeito, que terá a identidade preservada, afirmou que eles começaram a se relacionar em outubro de 2017, quando ela ainda era menor de idade. Foram cinco meses de namoro e um ano e três meses de união estável. Eles chegaram a morar juntos, mas se separaram após ela engravidar, dar à luz o filho e conseguir fugir de casa.

"Infelizmente, no tempo que eu descobri a gravidez, tive que morar com ele. Eu passei nove meses sendo agredida sem poder fazer nada. Minha família era cega por ele, ele manipulou toda a minha família. Todo mundo era contra mim e foi muito sofrimento. Minha sorte é que, quando o bebê nasceu, minha madrinha ligou pra mim e falou que se eu quisesse terminar eu podia contar com ela, que dessa vez era decisão minha ficar com ele ou não. E aí eu simplesmente fugi de casa. Abandonei tudo e fugi, fugi mesmo", contou.

A vítima relatou episódios de cárcere privado e danos materiais, além das agressões físicas e psicológicas.

"Ele quebrava todos os meus celulares. Eu não podia ter celular porque ele sabia que qualquer situação que ele fizesse eu gravava e eu mandava pra quem fosse. Quando ele me batia, me deixava trancada em casa até os hematomas sumirem. Eu ficava sem contato com ninguém. A única rede social que eu tinha era o computador dele, que eu entrava escondido e conversava com algumas amigas minhas", diz.

De acordo com a mulher, os episódios de manipulação começaram ainda durante o namoro, mas ela era desacreditada pela família.

Ele sempre mostrou ter traços de psicopata. Ele me dava pontapé, chutes, principalmente quando estava grávida, ele puxava meu cabelo, me dava socos, murros, me jogava no chão, me trancava dentro do carro.
Ex-companheira de funcionário público

A vítima diz que só registrou o Boletim de Ocorrência no último dia 23 de outubro porque, no período em que estava com o agressor, sentia-se ameaçada e vulnerável sem o apoio da família.

Apesar de ter terminado o relacionamento em 2019, ela registrou no B.O. informando que, até hoje, sofre com importunações. Ele, inclusive, tentou atropelá-la em junho deste ano.

"Eu me sentia muito acuada, sem ninguém ali comigo, era exatamente o que ele queria, que eu tivesse sozinha, pra eu não ter coragem de denunciar. E das vezes que eu enfrentei, que eu falei que eu ia denunciar, ele sempre tomava a frente. E eu não ia medir minha força com ele, eu pesava 45 quilos e ainda estava grávida", conta.

A mulher diz ainda acreditar que as vítimas do agressor não denunciam os episódios de violência por causa de manipulação psicológica praticada por ele.

"Ele coloca o sentimento de vergonha que é pra ele sentir na gente. E eu acredito que as vítimas dele até hoje não vão denunciar por isso, porque ele trabalha muito essa questão do psicológico da gente, ele faz a gente se sentir culpada, sentir uma vergonha que não é nossa", acredita.

Justiça

A vítima pede justiça por ela e todas as mulheres vítimas de violência e diz que só se sentirá segura quando o agressor for preso.

"Eu tenho medo, mas eu preciso de justiça. Eu espero que realmente as autoridades trabalhem para isso, porque esse homem precisa ser preso. Não é a primeira vez que ele faz isso e não vai ser a última, todo mundo já sabe. Que a gente não espere uma outra vítima. Esse ciclo nunca vai acabar. Quando falam que nós não estamos sozinhas, a gente precisa entender o significado dessa frase", finaliza.

A Polícia Civil disse, em nota, que uma medida protetiva foi solicitada para a ex-companheira do homem. A Delegacia Municipal de Assaré está investigando "denúncia de lesão corporal dolosa ocorrida na cidade de Antonina do Norte", segundo o texto.

"O fato foi noticiado nesta segunda-feira (23), por meio de um Boletim de Ocorrência (BO), após a vítima, ex-companheira do suspeito, tomar conhecimento de uma nova agressão cometida contra a atual companheira do homem e se encorajar a denunciar. O caso anterior teria ocorrido em 2019, quando a vítima e o suspeito tinham uma relação. As ameaças, no entanto, continuariam até os dias atuais", diz a Polícia Civil.

O que diz a defesa

Procurada pela Diário do Nordeste, nesta quinta-feira (26) a defesa do funcionário informou que "ainda não teve acesso ao Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD), aberto pela administração municipal", mas que, ao término da formalização contratual, fará "a habilitação no procedimento, ainda na data de hoje".

A advogada Valéria Matias de Alencar ressaltou ainda que "os fatos alegados serão no curso do processo devidamente esclarecidos".

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