Acusada de chefiar facção, movimentar R$ 3,5 mi e fazer festa para crianças no CE vai para prisão domiciliar
A Vara de Delitos de Organizações Criminosas acatou o pedido da defesa de Ana Karini Sousa Gomes, no último dia 11 de outubro, em razão da acusada ser mãe de três filhos menores de idade
Uma mulher apontada como chefe da facção criminosa Comando Vermelho (CV) em Sobral, na Região Norte do Ceará, teve a prisão preventiva convertida em prisão domiciliar, por decisão da Justiça Estadual. Segundo a denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE), ela movimentou R$ 3,5 milhões em menos de 2 anos e chegou a fazer uma festa de Dia das Crianças na comunidade onde mora, semelhante às ações do CV no Rio de Janeiro.
A Vara de Delitos de Organizações Criminosas acatou o pedido da defesa de Ana Karini Sousa Gomes de prisão domiciliar, no último dia 11 de outubro, em razão da acusada ser mãe de três filhos menores de idade - sendo que um deles foi diagnosticado portador do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Em contrapartida, a acusada terá que cumprir medidas cautelares determinadas pela Justiça:
- monitoramento por tornozeleira eletrônica;
- proibição de se ausentar da cidade onde reside;
- proibição de receber visitas sem prévia autorização judicial (salvo familiares) e de comunicação com qualquer um dos réus da ação penal;
- obrigação de comparecer a todos os atos judiciais para os quais for intimada;
- obrigação de informar ao juízo de origem qualquer mudança ou atualização de endereço;
- e comparecimento mensal à Comarca onde reside para informar e justificar suas atividades.
A Justiça já havia negado um pedido de prisão domiciliar da ré, por considerar que Ana Karini "se encaixaria na hipótese excepcionalíssima, uma vez que, seria contumaz no mundo do crime, tendo em vista já ter sido presa em flagrante por tráfico de drogas, onde teria sido exercido dentro de sua própria residência, bem como sua pela suposta condição de liderança exercida pela acusada em organização criminosa armada", lembra a nova decisão judicial.
Entretanto, o colegiado de juízes da Vara de Delitos de Organizações Criminosas reconsiderou que, "passados 09 (nove) meses, o feito principal não tomou o curso natural, diante da procrastinação da autoridade responsável em juntar as mídias no prazo legal, mesmo diante de diversas intimações".
Segundo a decisão judicial, "os relatórios dos conselhos tutelares atestam certa dificuldade dos avós maternos no exercício da guarda do menor (portador de autismo)". "De sorte que a concessão do presente pleito é medida impositiva, garantindo-se a substituição da prisão preventiva da paciente pela custódia domiciliar, cumulada com medidas cautelares diversas da prisão, dentre elas, a monitoração eletrônica", concluiu a Justiça.
A defesa de Ana Karini Sousa Gomes argumentou, no pedido acatado pela Justiça, que a cliente é mãe de três filhos e a demora da autoridade policial em juntar mídias ao processo causou um "constrangimento ilegal à acusada, justificando o relaxamento de sua prisão – ou, subsidiariamente, sua revogação".
O Ministério Público do Ceará se posicionou contrário ao pedido da defesa. "É importante esclarecer que, devido à complexidade da investigação em andamento, a análise e a inclusão desses materiais demandam um tempo maior. As mídias contêm informações que devem ser minuciosamente examinadas no contexto da fase processual atual, a qual segue seu trâmite regular", alegou.
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Facção carioca atuante em Sobral
Um grupo formado por 11 pessoas foi acusado pelo Ministério Público do Ceará, em janeiro deste ano, por diversos crimes em Sobral, na Região Norte do Ceará. Ana Karini Sousa Gomes foi denunciada por integrar organização criminosa, tráfico de drogas, associação para o tráfico, corrupção de menores e lavagem de dinheiro. A denúncia foi recebida pela Vara de Delitos de Organizações Criminosas e os acusados viraram réus no processo criminal.
Conforme a denúncia, Ana Karini assumiu a chefia do Comando Vermelho em uma região de Sobral após a prisão do companheiro e "estaria em crescente ascensão no comércio de entorpecentes na cidade de Sobral, ostentando um padrão incompatível com sua renda apresentável, considerando que a Karini é empregada de uma fábrica de calçados".
Ana Karini passou a ter papel de protagonista no crime local, e tornou-se a responsável pelo abastecimento de droga e lavagem de dinheiro na região, vindo a expandir seu território com o passar dos tempos, e hoje é uma das principais traficantes de drogas de Sobral."
O MPCE cita ainda que, "em 2023, Karini promoveu uma 'festa' de Dia das Crianças para moradores do seu bairro, e aparentemente custeou todas as despesas. Tal conduta se assemelha ao que é feito nas comunidades do Rio de Janeiro, onde há a presença ilegal do Comando Vermelho, onde traficantes aproveitam a ausência do Estado e passam a fazer o papel de provedores de serviços e ações sociais, com o único intuito de ganhar a simpatia e confiança da população, evitando assim que os moradores façam denúncias sobre o tráfico de drogas".
A Polícia Civil do Ceará (PCCE) também analisou as contas bancárias de Ana Karini, que totalizaram uma movimentação de R$ 3,5 milhões, entre entradas e saídas, em menos de 2 anos. Mesmo assim, o relatório apontou que a investigada "recebe valores do governo federal, referente a auxílio emergencial, auxílio Brasil e Bolsa Família".