26 presos ´somem´ do IPPS e fuga pode ter sido pelo portão

Setores da Segurança Pública mantinham o fato sob segredo. Direção da penitenciária confirma só uma fuga e três sumiços

Depois da fuga ainda não explicada de dois seqüestradores (já recapturados) e de um ladrão de bancos e carros-fortes (ainda foragido), a direção do Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS) e a Secretaria da Justiça e Cidadania (Sejus) estão diante de mais um escândalo. Na última contagem feita na penitenciária ficou constatado o ´sumiço´ de mais 26 detentos. E o pior: os indícios apontam que os todos saíram pela porta da frente da maior unidade carcerária do Estado, em Aquiraz, o que levanta a suspeita do envolvimento de funcionários com os criminosos.

A constatação estava sendo mantida em absoluto sigilo pelas autoridades, mas, ontem, foi revelada, com exclusividade, ao Diário do Nordeste, por uma fonte da área da Segurança Pública. Os detentos não foram encontrados depois das últimas contagens realizadas pelos agentes prisionais com a ajuda da Polícia Militar. Os nomes dos ´desaparecidos´ permanecem sob segredo, mas sabe-se que, entre eles, estão assaltantes, latrocidas e também homicidas e traficantes.

A direção do IPPS confirma, no entanto, somente uma fuga e o ´sumiço´ de outros três presidiários. O homem já considerado foragido pelas autoridades é o assaltante paraibano Rubens Ramalho de Araújo, o ´Rubão´, 43, especialista em, ataques contra carros-fortes. Sua fuga foi constatada há duas semanas e, até a noite passada, não havia nenhuma pista concreta de seu paradeiro.

Em entrevista ao Diário, à tarde, por telefone, o diretor do IPPS, coronel PM Antônio Ferreira Oliveira, informou que a última contagem ocorreu na terça-feira passada (16).

“O que acontece é que o IPPS é muito grande. Estamos com um pavilhão (P-8) interditado para reformas e existem muitos buracos onde os presos que estão ameaçados conseguem se esconder´, disse o oficial.

O ´sumiço´ dos 26 detentos já é do conhecimento de setores de Inteligência do Estado e a informação vinha sendo tratada em nível confidencial. O intuito das autoridades agora é descobrir quem facilitou a fuga dos detentos e como estes conseguiram deixar o IPPS sem que fossem barrados pela guarda. As suspeitas revelam ainda que os presos saíram do ´Paulo Sarasate´ nos dias de visita, às quartas-feiras e domingos.

Numa sindicância que está sendo também mantida sob sigilo, a Secretaria da Justiça já teria identificado, pelo menos, quatro servidores públicos - dois agentes penitenciários e dois policiais militares - envolvidos na fuga dos seqüestradores cearenses Alexandre de Sousa Ribeiro, o ´Alex Gardenal´; e José Luciano Evangelista Casusa, o ´Barriga´, que conseguiram escapar do IPPS, em maio deste ano.

Posteriormente, os dois bandidos foram recapturados em diferentes situações. ‘Barriga´ foi cercado por uma patrulha do Comando Tático Motorizado (Cotam), do Batalhão de Polícia de Choque (BpChoque), na Praia da Iparana. Ele ainda tentou fugir dos PMs, mas não obteve êxito.

Já ´Alex Gardenal´, que estava sendo monitorado através de ´grampo´ telefônico pela Coordenadoria de Inteligência (Coin) da SSPDS, a pedido do Ministério Público e com autorização da Justiça, foi baleado e preso durante um tiroteio com inspetores da Divisão Anti-Seqüestro (DAS), da Polícia Civil, na manhã do dia 27 de junho, em Messejana, ocasião em que dois comparsas dele acabaram mortos.

Na semana passada, o secretário-adjunto da Sejus, Edilson Araújo, informou que a sindicância apontando os quatro servidores como envolvidos na trama da fuga de ´Gardenal´ e ´Barriga´ seria encaminhada ao governador do Estado, Cid Gomes, e, posteriormente, remetida à Procuradoria Geral do Estado (PGE), podendo os acusados serem demitidos de seus respectivos órgãos.

Armados

Com um excedente de aproximadamente 350 homens, o IPPS vive hoje momentos de tensão, diante de uma iminente rebelião. Na semana passada os policiais chegaram a encontrar nas mãos dos detentos uma pistola de calibre 380ACP e um revólver de calibre 38, armas que, segundo o próprio diretor, deveriam ser utilizadas num motim que vinha sendo planejado.

Com capacidade real para abrigar 950 homens, hoje estão recolhidos ali 1.290 presidiários. Para agravar o clima na penitenciária, outro fato causou preocupação às autoridades: o retorno de bandidos que, no ano passado, haviam sido transferidos para a penitenciária federal de segurança máxima do Mato Grosso do Sul.

Na tarde de quarta-feira passada, logo após a visita, a direção foi obrigada a receber de volta três presos acusados de envolvimento em seqüestros no Ceará. Entre eles, está o também assaltante de bancos e carros-forte Francisco Fabiano da Silva Aquino, o ´Fabinho da Pavuna´, que já havia sido resgatado por sua quadrilha, em 2005. ´Fabinho´ agora está recolhido na ´Selva de Pedra´ (setor de segurança máxima), de onde seu principal parceiro, o assaltante ´Alex Gardenal´, conseguiu fugir, misteriosamente, há quatro meses.

FORTE SUSPEITA
Foragido teria comandado os assaltos

A seqüência de assaltos a carros-fortes e ´saidinhas´ bancárias, registrada nas últimas duas semanas nas ruas de Fortaleza, tem ligação direta com as fugas que vêm ocorrendo de forma sorrateira na maior penitenciária do Estado. Este é o entendimento das autoridades da Segurança Pública e, especialmente, dos setores ligados diretamente ao combate a estes tipos de delitos.

Com a fuga comprovada de Rubens Ramalho de Araújo, o ´Rubão´, da ala de segurança máxima do IPPS, a probabilidade de ele estar por trás dos recentes assaltos é real, segundo fontes da Inteligência ouvidas pelo Diário do Nordeste.

Rubens Ramalho foi capturado , em maio do ano passado, no Piauí. Com ele, foi encontrado um arsenal, que incluía fuzil modelo AK-47 (de fabricação russas) e até bananas de dinamite com os respectivos detonares. Armas de grande poder de destruição usados nos ataques a carros-fortes, uma especialidade do criminoso.

´Rubão´ já é velho conhecido da Polícia do Ceará, mas voltou a ser procurado neste Estado no ano passado, após ter comandado o assalto a um carro-forte no estacionamento de um shopping, na Água Fria, na noite de 14 de maio de 2007, ocasião em que foram levados vários malotes da agência da Caixa Econômica com um total de R$ 480 mil. ´Rubão´ foi filmado pelas câmeras do shopping e logo reconhecido pela Polícia.

Há duas semanas, a direção do IPPS constatou a ausência do assaltante de sua cela, mas demorou a admitir a possibilidade de sua fuga, já que foi necessária a realização de várias contagens e recontagens da população carcerária.

´Rubão´ foi caçado dentro dos limites da penitenciária que, atualmente, abriga 1.290 detentos. Depois de várias recontagens, ficou, então, oficializada a fuga. A própria Sejus chegou à conclusão de que o bandido havia conseguido sair da penitenciária de forma muito suspeita, já que não houve ocorrência de fuga pela muralha (com o uso cordas ou através de buracos na amurada) nem a escavação de túneis.

Ao mesmo tempo em que ´Rubão´ passou a ser procurado, vários assaltos de grande porte começaram a acontecer na Capital. O primeiro deles foi o ataque de bandidos a um carro-forte da empresa Corpvs na porta do supermercado Frangolândia, na Avenida Sargento Hemínio, no Monte Castelo (Zona Oeste).

Curta trégua

Quatro dias depois, outro blindado foi atacado em frente à agência da Caixa Econômica Federal, na Avenida Bezerra de Menezes, no bairro São Gerardo (Zona Oeste da Capital).

Após dez dias de ´trégua´, a mesma quadrilha teria realizado o terceiro ataque a carro-forte. Aconteceu na última segunda-feira (15), no supermercado Pão-de-Açúcar, na Avenida Santos Dumont, Aldeota.

Em todo os assaltos houve tiroteio de bandidos com vigilantes. Mesmo assim, os malotes foram roubados. O montante roubado teria chegado perto de meio milhão de reais, mas nem a Polícia nem a empresa de segurança revelam oficialmente os valores subtraídos.

Fernando Ribeiro
Editor