Sistema de monitoramento acompanha percurso das águas do Rio São Francisco ao Castanhão

Será possível detectar se há perda de água durante o trajeto, de quase 300 quilômetros, entre Missão Velha e o maior reservatório do Estado.

Escrito por Antonio Rodrigues , regiao@svm.com.br
transposição do Rio São Francisco
Legenda: A decisão de liberar a água neste mês de março foi motivada, justamente, para minimizar a perda durante o percurso

Após a liberação das águas do Rio São Francisco, nessa segunda-feira (1º), pelo chamado “eixo emergencial” do Cinturão das Águas do Ceará (CAC), a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) monitora, diariamente, o percurso pelo fluxo natural dos rios até a chegada no Açude Castanhão. O sistema foi criado a partir de seções que acompanham se há perda de volume durante o trajeto, seja por infiltração, evaporação ou retirada.

O monitoramento acontece em 14 seções instaladas ao longo dos cerca de 347,5 quilômetros de distância, desde a comporta na barragem de Jati até o Açude Castanhão. Entre o eixo emergencial, que liberou a água ao Riacho Seco, até o maior reservatório do Estado, são 294,1 quilômetros de trajeto.  

Até esta terça-feira (2), a água já havia percorrido 31,5 quilômetros do Riacho Seco e alcançou a Cachoeira de Missão Velha, na quinta seção, localizada no Sítio Lapinha. O próximo ponto de monitoramento fica no distrito de Ingazeiras, em Aurora. Equipes de campo também farão suas próprias medições.

“Algumas dessas seções já haviam sido instaladas em parceria com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, em Icó, Missão Velha”, detalha o secretário de Recursos Hídricos do Estado, Francisco Teixeira.  
A ideia de acompanhar esse trajeto da água surgiu do próprio Teixeira, em parceria com técnicos da Cogerh. “Na realidade, a Companhia, desde que iniciou os seus monitoramentos, entre 1996 e 1997, já nos deu essa experiência. Esse trabalho, já fazemos em alguns rios para acompanhar a vazão, nas bacias do Jaguaribe, Banabuiú e do Curu”, descreve o secretário. 

Funcionamento

O trabalho começa medindo a faixa da água, desde os primeiros trechos do CAC. A partir de 50Km já é possível observar se houve alguma perda. O Rio Batateira, que recebe o recurso do Riacho Seco, já estabeleceu uma seção, aproveitando as pontes ou passagens molhadas. “Esse controle é muito importante para saber o que está sendo liberado e o que está chegando. Ao longo desses quase 300 quilômetros, vamos ver onde está perdendo água. Se libera X e tá chegando, por exemplo, pouca água em Aurora ou Lavras da Mangabeira, essa água pode está sendo retirada ou perdida por infiltração”, explica Francisco Teixeira. 

A decisão de liberar a água neste mês de março foi motivada, justamente, para minimizar a perda durante o percurso. “As calhas dos rios estão bem úmidas e com algum fluxo natural, contribuindo para diminuir as perdas por infiltração, evaporação e por retiradas. Ninguém irriga na chuva. Deste modo, o tempo de viagem da água será menor do que seria no segundo semestre, com leitos dos rios secos”, completa o secretário.

De acordo com Teixeira, a liberação das vazões pelo  Projeto de Integração do São Francisco (Pisf) sempre se dará no primeiro semestre, justamente para diminuir as perdas. O tempo estimado da chegada das águas ao Castanhão é de 30 dias.  

Apesar das águas já estarem a caminho do Castanhão, as obras no CAC seguem nos lotes 3 e 4 do Trecho 1, que passam por Barbalha, Crato e Nova Olinda, que possui uma extensão total de 145,3 quilômetros e soma 65,41% de avanço físico. O percurso liga a Barragem de Jati ao Rio Cariús, que é responsável pelo aporte do Açude Orós, segundo maior do Estado. Após concluída toda esta etapa, prevista para 2024, seções também serão instaladas, antecipa Teixeira.

“Hoje, todo o processo é medido no Ceará. A Cogerh consegue gerenciar 90% da água do nosso Estado”, finaliza Teixeira. 

Vazão 

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), o volume liberado para o CAC é de 10m³/s. No entanto, em campo, será avaliado a capacidade de ampliar para 12m³/s. O custeamento da operação e manutenção do Projeto de Integração do Rio São Francisco, por enquanto, permanece arcado pela União. Porém, a cobrança pela prestação de serviço será iniciada a partir da assinatura dos contratos comerciais junto com os estados beneficiados. “Os termos finais da negociação para formalização dos contratos, no âmbito da Câmara de Conciliação e Arbitragem da Advocacia Geral da União, com previsão de assinatura do pré-acordo em março”, explicou em nota.  

O rompimento da tubulação da barragem de Atalho, em Brejo Santo, que deixou três operários mortos e outro ferido, no último dia 8 de fevereiro, não afetou o cronograma de liberação das águas do ‘Velho Chico’ para o Açude Castanhão. Na época do incidente, o bombeamento da estação EBI-3 foi suspenso preventivamente. De acordo com MDR, o envio do recurso hídrico poderá ser retomado, de modo que assegure a manutenção do nível da água na barragem de Jati, garantindo a disponibilidade hídrica para o CAC. Atualmente, a própria capacidade do reservatório já é suficiente para isso.

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