Fiéis da Mãe das Dores visitam o Santo Sepulcro

Escrito por Redação ,
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Juazeiro do Norte tem pontos certos no roteiro dos romeiros do ´Padim´, que louvam, até amanhã, a Mãe das Dores

Juazeiro do Norte. Há 15 dias foi iniciada em Juazeiro do Norte uma das maiores romarias do ano. Trata-se da Romaria em louvor à Nossa Senhora das Dores, chamada pelos devotos como “Mãe das Dores”. A programação termina amanhã, com missas e a tradicional procissão. Os romeiros lotam as ruas da cidade. Fazem o exercício de fé por vários pontos dos centros de peregrinação. Um deles é o Santo Sepulcro ou as pedrinhas, denominação dada por alguns peregrinos. São cerca de dois quilômetros de caminhada, na Serra do Horto.

A fé vence o cansaço. As pedras no caminho de homens, mulheres, idosos e crianças são ultrapassadas com passos de resistência. Muitas vezes, esse momento da peregrinação pelos pontos de visitação na terra do “Padim” passa a ser o primeiro sacrifício. Ter que seguir a trilha destinada ao Santo Sepulcro, passar pela paisagem árida, típica do sertão, é quase uma obrigação. Ao chegar ao local, as provações de passar pelos pequenos espaços entre as pedras e rezar o terço nas capelinhas. Purgar os pecados e sair com a alma limpa. A sensação de cada pessoa que vai ao local é exatamente essa.

Alívio no retorno

Ao seguir a caminhada ao Sepulcro vê-se pessoas caladas, meditativas. Lágrimas, dor, sofrimento. Na volta, a respiração muda. O alívio chega, o peso da caminhada diminui. “O maior cansaço é o do sofrimento”, diz Hilda Maria, 56 anos, alagoana que, pela primeira vez, escolheu fazer o caminho, já bastante conhecido por muitos dos seus conterrâneos. E não foi fácil. Muitas paradas pelo caminho, os pés cortados, mas o destino final foi cumprido.

Os amigos de caminhada auxiliaram na retirada dos espinhos, com os garranchos de pau mesmo. “O sangue lava a alma”, diz ela. Na trilha, alguns comerciantes aproveitam para ganhar uns trocados com a venda de água de coco gelada e garapa de cana-de-açúcar. Mas há também os remédios de fabricação caseira. São xaropes, pomadas e poções milagrosas no caminho da fé romeira.

Raízes de gêneros diversos, a exemplo de “umbigo de bezerro”, para vencer o cansaço mental. “E quem não quer nessa hora vencer todo e qualquer tipo de cansaço”, diz um vendedor. Há até “pó de urubu”, para cura do alcoolismo. Difícil é ter quem se habilite a comprar. Entre as pedras, há um comerciante. Há mais de 10 anos, Jussiê Ludugero está lá vendendo os remédios apropriados a cada momento de dor. “A fé sempre é mais importante para a cura”, afirma. Os sacrifícios de muitos fiéis são testemunhados. E um deles, jamais esquecido, relatado por uma mulher que fez uma promessa para o marido não morrer assassinado. O matador chegou na casa do prometido e disparou várias vezes. O milagre é que nenhuma bala saiu. Está vivo até hoje.

Na solidão do dia, ele permanece. Sai da Rua do Horto, hoje em dia de moto, e fica até o meio-dia, período de maior movimento no local. Daqui acolá, vende alguma coisa. Mas a barraca permanecerá até o mês de janeiro, já que o ciclo de grandes romarias se estabelece a partir de agora, rumando para a maior delas, a de Finados, e depois a de N. Sra. das Candeias, em fevereiro.

Aos 70 anos, Antonieta Gomes de Azevedo parece uma criança disposta realizando o sonho de uma conquista antiga. Veio de Jaboatão dos Guararapes, estado de Pernambuco. Pela primeira vez está em Juazeiro do Norte. Está na terra do “Padim” a passeio, para aliviar as tensões da vida. Com uma amiga, percorreu em pouco tempo as “pedrinhas”.

Benedita da Silva, de Alagoas, decidiu pela primeira vez também percorrer a rota do Santo Sepulcro, mas descalça. A caminhada se torna mais valorizada pelo sacrifício que cada um pode oferecer. Para Eronice da Silva, 59 anos, é um dever estar em Juazeiro e fazer o caminho. Uma representação muito realista de onde Jesus passou. Essa é a sua interpretação de um local em que já esteve por mais de 10 vezes. Desde criança, quando veio com os pais, nunca mais esqueceu. “Jesus nos leva e nos trás”, diz ela. Às 4 horas, pela madrugada, saiu do rancho com a amiga, Sebastiana Maria dos Santos, 65 anos. De chapéu de palha, depois das orações, segue a trilha de volta. “Estou disposta, se possível, de fazer tudo de novo”, completa.

RECONHECIMENTO DA FÉ
Título de Basílica Menor será oficializado

Juazeiro do Norte. Uma cidade que nasceu em torno de um templo católico, com a fé na “Mãe das Dores”. A pequena capelinha se tornou um dos templos mais freqüentados do País. Amanhã será Basílica Menor, a segunda no Estado e a 23ª no Brasil. A cerimônia oficial acontece às 9h, em missa solene que oficializará o título de Basílica Menor para o Santuário Diocesano de Nossa Senhora das Dores. Milhares de fiéis de todo o Nordeste vão testemunhar o momento histórico.

O núncio apostólico, Lourenço Baldisseri, representante do papa Bento XVI no Brasil, fará a oficialização. O bispo diocesano, dom Fernando Panico, fez o convite a todos os bispos do Nordeste para estarem presentes na celebração, além do arcebispo de Fortaleza, dom José Antônio Tosi. Os preparativos para a elevação de Santuário à Basílica Menor têm acontecido desde o mês de abril deste ano, quando o anúncio foi feito pelo bispo. Um momento de ampliação da igreja e o reconhecimento do centro de romaria que representa Juazeiro do Norte, conforme o administrador do Santuário, padre Paulo Lemos.

“De Capelinha a Santuário, a Matriz de Juazeiro torna-se Basílica” foi a escolha do tema da romaria de Nossa Senhora das Dores este ano, por conta da elevação da igreja a Santuário. Uma missa simples e festiva, conforme o padre Paulo, fará parte da solenidade. Em seguida, será lido o decreto. Panfletos e textos explicativos vêm preparando fiéis e romeiros. O símbolo do Vaticano identifica a Basílica na fachada. Dentro, os brasões de Bento XVI e do bispo diocesano. As cores do Vaticano serão expostas na Capela Santíssimo Sacramento.

A capela nasceu de frente ao atual templo, numa pequena vila, diz o escritor Armando Rafael. O Padre Cícero foi responsável pela construção do atual. E também um dos grandes fortalecedores da fé na “Mãe das Dores” pelo Nordeste. O Monsenhor Murilo de Sá Barreto deu seqüência ao legado, por 48 anos à frente da Matriz. São inúmeros os peregrinos pelas ruas de Juazeiro do Norte no período de romaria. A estimativa é de 500 mil pessoas diárias, mostrando a devoção dos romeiros.

Juazeiro passou a ser um dos principais roteiros da fé no Brasil por conta dos fenômenos ligados ao Padre Cícero Romão Batista. Ele foi um dos fundadores da cidade e iniciou os trabalhos sacerdotais da Matriz.

Para merecer o título dado pelo Papa Bento XVI à igreja do Cariri, alguns critérios foram considerados, como veneração devotada pelos cristãos, história e beleza artística, arquitetura e decoração. Algumas situações no que diz respeito aos atos litúrgicos serão modificados, por passarem a ser modelo para as outras igrejas.

Perto do Papa

Ao se tornar Basílica, algumas celebrações são recomendadas, como a de 29 de junho, dia de São Pedro, também considerado dia do Papa. O fiel que participa de celebrações durante esse dia recebe indulgência, que é o perdão dos pecados. Mas padre Paulo ressalta que a igreja não deixa de ser santuário com o novo título. O sentido passa a ser de maior abrangência e ligação com o Papa. O título de Santuário de Nossa Senhora das Dores veio em 2002, como uma forma de reconhecimento direto, pela Diocese, do crescimento da população católica a cada ano, em Juazeiro do Norte, tendo a Igreja Matriz como um dos principais referenciais da fé romeira.

Mais informações:
Secretaria da Igreja Matriz, Rua Padre Cícero, 147, (88) 3511.2202
Secretaria de Turismo e Romaria de Juazeiro do Norte, Memorial Padre Cícero, (88) 3511. 4040

ELIZÂNGELA SANTOS
Repórter