Aumentam adeptos no Estado
Os motociclistas se expandem por todo o Estado, difundindo amizade, companheirismo e prazer sobre duas rodas
Quixadá. A cena está se tornando cada vez mais freqüente pelas cidades do Interior cearense. Potentes máquinas sobre duas rodas circulando em grupo pelo sertão e litoral. Luvas, botas e jaquetões de couro, com brasões nas costas, sobre 400, 500, 600, 700 e até 1300 cilindradas. São as irmandades dos motoclubes seguindo de todos os cantos do Ceará e até de outros estados para mais um encontro de quem resolveu adotar esse versátil veículo como principal suporte para um agradável estilo de vida.
Quando a motocicleta surgiu, nos idos de 1869, portanto há quase 140 anos, seus inventores, um francês e um americano, não imaginavam que, embora estivessem separados pelo Atlântico, estariam unindo batalhões de exércitos sobre duas rodas por todo o mundo. Ao final da Segunda Guerra Mundial, ex-militares e pilotos passaram a utilizar esse veículo muito útil nos fronts em busca de adrenalina, formando diversos grupos. Nessa época já usavam uma identificação e, mais tarde, foram desenvolvendo os escudos, brasões, que passaram a defender. Também adaptaram as regras da hierarquia militar às irmandades que passaram a formar.
Em 1927 surgia no Rio de Janeiro o primeiro Moto Clube do Brasil. Nos Estados Unidos e Europa alguns grupos com tendências mais rígidas começavam a aparecer. Muitos acontecimentos passaram a expor a imagem do motociclista ao ridículo. Acusavam os motoqueiros de desordeiros e arruaceiros. Essa imagem negativa se fortaleceu com produções de Holywood. Incentivavam a criar verdadeiras gangues, transformando os anos 50 numa página negra do motociclismo.
Na década seguinte, as motocicletas voltaram a ser tema do cinema americano, com Elvis Presley, Roustabout e Steve McQueen, numa série de filmes que chegou ao seu auge com Easy Rider. A partir dali iniciava-se a mudança da imagem do motociclista, perdurando até o fim dos anos 70, período que o transformou num símbolo de liberdade e resistência. Tempo em que no Brasil, São Paulo e Rio, apareciam os primeiros grupos a seguirem os novos padrões internacionais e o princípio da irmandade: amizade, liberdade e responsabilidade.
No Brasil, os motoclubes se popularizaram a partir da década de 90. Vários fatores contribuíram para isso. A disseminação de diversas marcas pelo mundo e a liberação da importação pelo então presidente Fernando Collor foram os principais. Mais recentemente, a estabilização da inflação, a queda do dólar e os financiamentos com prestações a perder de vista facilitaram o acesso a motocicletas possantes, adequadas para viagens mais prolongadas e formação de grupos, como vêm ocorrendo no Ceará. O resultado pode ser visto nos encontros semanais existentes na Capital e cidades interioranas.
Mas, quem carrega no corpo esse espírito, alerta que um motoqueiro autêntico deve ter disciplina e respeitar as regras de trânsito. Essa foi exatamente a lição que o empresário José Harnoldo de Lima aprendeu quando se apaixonou por sua primeira motocicleta. Era uma CBX. Compara essa emoção ao vôo de uma ave. Confessa nunca ter voado, embora não lhe tenha faltado oportunidade de sobrevoar pelos melhores ares do mundo para a prática de vôo livre, os de Quixadá, mas acredita ser a mesma sensação de quem levita com elegância sobre asas sintéticas.
´GAVIÕES DOS MONÓLITOS´
Casais fazem amizades em encontros
Quixadá. Eles não sabem ao certo como passaram a compartilhar do mesmo objetivo. De repente, na noite de uma sexta-feira, estavam todos juntos, acompanhados de esposas e namoradas. Sentaram à mesa, pediram refrigerantes e sucos. Nada de bebida alcoólica, afinal, estavam dirigindo, aliás, pilotando, termo correto para quem se equilibra sobre um veículo de duas rodas. Traçavam planos para cruzar o horizonte. Não imaginavam que a amizade se fortaleceria e em breve, juntos, passariam a voar em bando, que nem gaviões, cortando os monólitos de Quixadá.
Harnoldo e Liziane; Santiago e Nara; Júnior e Andreza, Roney e Sandra, Andreson e Sâmara, Edvaldo e Claudete; Thiago e Erica; Márcio e Andréia; Juvenal e Carla. Os nove casais montados em seus “cavalos de aço” começam a perceber o prazer de cortar a estrada em busca de tranqüilidade, de novos ares e amizades.
Não que os ventos da Terra dos Monólitos sejam desagradáveis. Apenas algumas chaminés incomodam. Também não há outro pretexto para justificarem os prolongados passeios, quanto mais extensos, mais prazerosos. Depois de uma semana rotineira, nada como relaxar indo de encontro ao vento. Sem falar na companhia, com a garupeira sendo a companheira de carinhos e carícias, agarradinha na cintura.
Nos passeios a outras cidades da região puderam observar que, além de unidos, os grupos de motociclistas têm regras, nomes e até escudos. O que costumavam ver nas telas de cinema estava ali diante de seus olhos e até bem diferentes dos “Bad Boys” ou “Motoqueiros Selvagens” interpretados por Tim Allen, John Travolta, Martin Lawrence e William H. Macy. Aventureiros sim. Velozes, quando a necessidade e a segurança permitirem. Ferozes, nem pensar. Simplesmente atentos e elegantes, como aves de rapina. “Somos os Gaviões dos Monólitos!”, exclama empolgado Harnoldo de Lima, idealizador do mais recente motoclube do Ceará, o pioneiro do Sertão Central. Entre uma aventura e outra pretendem se reunir, elaborar o estatuto, criar o brasão e selar oficialmente a criação do grupo.
Eles não descartam a possibilidade de realizarem ainda este ano o primeiro Motofest de Quixadá. Enquanto aguardam patrocínio e adesão de outros motociclistas, partem para outras fronteiras. Eles estarão no Encontro de Ubajara, que será realizado no próximo fim de semana. O evento é promovido pelo Motoclube Gaviões da Neblina, de Ubajara. Antes de partirem, checam os equipamentos e se reúnem para um momento de reflexão. Além do capacete, toda proteção é importante, como botas e luvas.
Mais informações:
Gaviões dos Monólitos (88) 3412. 0598
gaviõesdosmonolitos@gmail.com
HISTÓRIA
O começo sobre duas rodas foi em 1869
Quixadá. A invenção da moto foi simultaneamente de um americano e de um francês. Sem se conhecerem e pesquisando em seus países de origem. Sylvester Roper, nos Estados Unidos, e Louis Perreaux, na França, fabricaram um tipo de bicicleta equipada com motor a vapor em 1869. Nessa época os navios e locomotivas movidas a vapor já eram comuns na Europa e nos Estados Unidos. Na França e Inglaterra os ônibus a vapor já circulavam.
Em 1885, o alemão Gottlieb Daimler, ajudado por Wilhelm Maybach, instalou um motor a gasolina de um cilindro, leve e rápido, numa bicicleta de madeira adaptada, para testar a praticidade do novo propulsor. Daimler, um dos pais do automóvel, não teve a menor intenção de fabricar veículos motorizados sobre duas rodas. Depois dessa máquina pioneira, ele nunca mais construiu outra, dedicando-se ao automóvel.
O motor de combustão interna possibilitou a fabricação de motocicletas em escala industrial. Em 1892, outro inventor, Alex Millet, incorporou o desenho básico da bicicleta de segurança, mas adicionou pneumáticos às rodas e um motor rotativo de cinco cilindros embutido na roda traseira.
A Hildebrand & Wolfmueller foi a primeira produção bem-sucedida de veículo de duas rodas, patenteado em Munique, em 1894. Mais de 200 unidades foram produzidas. No ano seguinte, a DeDion-Bouton apresentou um motor que revolucionaria a indústria de motocicletas, tornando a produção em massa possível. Era um motor quatro-tempos pequeno, leve e de alta rotação que podia gerar 0,5 cv. Fabricantes de motocicletas do mundo inteiro copiaram e usaram o desenho.
Logo depois surgiu a fábrica Stern e em 1896 apareceram a Bougery, na França, e a Excelsior, na Inglaterra. No início do século XX existiam mais de 40 na Europa. Muitas indústrias pequenas surgiram e, em 1910, existiam quase 400 no mundo, 208 na Inglaterra. A maioria fechou devido à concorrência.
A concorrência era tamanha que fabricantes do mundo inteiro começaram a introduzir inovações e aperfeiçoamentos, cada um deles tentando ser mais original. Quando a Segunda Grande Guerra terminou houve a invasão das máquinas japonesas no mercado mundial. Fabricando motos com alta tecnologia, design moderno, motor potente e leve, confortáveis e baratas, o Japão causou o fechamento de fábricas pelo mundo. Nos EUA só restou a Harley-Davidson. Mas, hoje, o mercado está equilibrado e com espaço para todos.
FIQUE POR DENTRO
Oração dos motociclistas pedindo proteção
Antes de sair pelas estradas a fora é importante não esquecer dos equipamentos de proteção. Além deles, é bom, também, buscar um amparo superior, pedindo a Deus que tudo ocorra bem nas viagens. Por isso, foi criada uma oração para os motociclistas: Senhor! Cada vez que subo numa moto eu sinto a liberdade e, ao mesmo tempo, tenho medo de encontrar-te num desses caminhos perplexos do mundo. Como sou frágil diante da natureza e, ao mesmo tempo, me sinto forte dono de mim quando estou numa motocicleta. Mas, Senhor, não quero perder minha vida num desses momentos. Quero que o guidão de minha moto esteja sempre firme em minhas mãos. Que o capacete que me protege a cabeça seja a segurança de que preciso, e que tu, Senhor, seja minha proteção permanente. Perdoa-me Pai se por vezes abuso da liberdade que me deste, e corro alucinado ou me perco nas emoções da velocidade em busca de respostas. Permita que, a cada dia, possa sentir a tua presença na brisa que recebo no rosto, na velocidade e na superação de meus próprios limites e na responsabilidade da vida que tu me deste. Quero sentir tua presença protetora e amiga, pois sei que estais comigo como meu caroneiro. Protege, Senhor, nossas vidas e acolhe junto de vós os companheiros que já partiram, e que eles possam viver as alegrias de estarem convosco, e que nós tenhamos a esperança de um dia, também, encontrá-los. Protege Senhor, por intermédio de Nossa Senhora Aparecida, nossas motos, nossas vidas, nossos caminhos para que na certeza de tua presença possamos dar-te glória e louvor para sempre. Amem!
Alex Pimentel
Colaborador
ENQUETE
Como o motoclube contribui no amor?
Santiago da Silva Costa
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Compartilhar duas paixões ao mesmo tempo, não é todo homem que pode viver essa felicidade.
Andreza Braga Soares
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