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Em quais regiões e grupos Lula e Bolsonaro têm mais chances de crescer no Ceará no 2º turno

Lideranças aliadas aos dois postulantes tomam como base dados do primeiro turno para tentar preservar os eleitores já conquistados e avançar na disputa

Escrito por Igor Cavalcante , igor.cavalcante@svm.com.br
Lula e Bolsonaro disputam eleitorado cearense
Legenda: Lula e Bolsonaro disputam eleitorado cearense
Foto: Divulgação

A menos de 15 dias para o desfecho das eleições deste ano, os dois candidatos à Presidência que disputam o segundo turno fazem investidas no Nordeste. No caso do Ceará, aliados do ex-presidente Lula (PT) e do atual presidente Jair Bolsonaro (PL) tentam angariar votos no segundo turno traçando como alvos os eleitores de antigos adversários, os segmentos mais alinhados a opositores e a fatia do eleitorado ainda indecisa.

Para isso, lideranças aliadas aos dois postulantes tomam como base dados do primeiro turno para tentar preservar os eleitores já conquistados e avançar na disputa, apontam cientistas políticos ouvidos pelo Diário do Nordeste

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A ideia dos aliados de Lula é ampliar a vantagem do petista no Estado, ganhando fôlego para a disputa em regiões onde Bolsonaro é mais forte. Já o atual presidente e seus aliados tentam reduzir a diferença para o petista, reduzindo danos de uma eventual derrota no Estado.

“O crescimento de Lula no segundo turno pode vir da redução das abstenções. No Ceará, as abstenções não foram elevadas, mas há essa expectativa, assim como espera-se uma migração dos votos do Ciro, da Tebet e dos brancos e nulos. Tanto que o senador eleito Camilo Santana (PT) traçou como meta Lula receber 75% dos votos válidos, isso é possível”, avalia o cientista político Cleyton Monte, professor universitário e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC).

“No caso do Bolsonaro, há uma busca pelo voto evangélico, pelos grupos evangélicos e militares, além do eleitorado das classes C e D. Por isso a presença dele no Conjunto Ceará, é com a ideia de se aproximar dos grupos que recebem o Auxílio Brasil. A ideia não é ganhar a eleição no Ceará, mas reduzir, ajudar a estancar o estrago, não permitir que haja uma uma uma vitória tão elástica do Lula”
Cleyton Monte
Cientista político, professor universitário e pesquisador

Eleitores de Ciro e Tebet

Além de Lula e Bolsonaro, que somaram 91,29% dos votos válidos no Ceará, os então candidatos à Presidência Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) fecham a quase totalidade dos votos dos cearenses. No caso do pedetista, em seu berço político, ele foi escolhido por 6,8% daqueles que foram às urnas. Já a emedebista recebeu 1,22% dos votos no Ceará.

Nacionalmente, os dois postulantes declararam apoio ao candidato do PT, o que é visto com otimismo pelos petistas para conseguir a transferência desses votos para Lula. Ciro e Tebet tiveram, ao  todo, 435,4 mil votos no primeiro turno. Agora, esses eleitores cearenses que terão de fazer uma escolha diferente daquela que fizeram no primeiro turno.

À nível estadual, as duas principais lideranças do PDT e do MDB também estão empenhadas em atrair votos para o candidato do PT. O deputado federal eleito Eunício Oliveira (MDB), é um dos principais cabos eleitorais de Lula no Ceará e foi o ferrenho defensor de que seu partido tivesse rifado a candidatura de Tebet já no primeiro turno.

Já Cid anunciou apoio ao petista na última segunda-feira (10), durante encontro no comitê de Camilo e do do governador eleito Elmano de Freitas (PT). Ele disse que não irá sossegar “enquanto não tiver cada um dos filiados do PDT engajado nessa luta”. Além das lideranças estaduais, prefeitos e vice-prefeitos têm declarado apoio a Lula e a Bolsonaro no segundo turno.

Para o cientista político Josênio Parente, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), a conjuntura permite que os aliados de Lula estejam mais otimistas. “Pesquisas indicam que o voto da Tebet foi mais facilmente para Lula, mas o eleitor do Ciro tem resistido mais, talvez pelo fato dele ter batido muito no candidato do PT, mas acredito que, no fim, haverá essa transferência”, aponta.

Redução das abstenções e dos indecisos

Outros segmentos mirados pelos aliados de Lula e Bolsonaro no Ceará são os eleitores que se abstiveram no primeiro turno ou que se mantiveram indecisos. Ao todo, o Ceará somou 17,45% de abstenção na eleição geral, o que representa 1,2 milhão de eleitores, valor abaixo da média nacional, que ficou em cerca de 21%. 

Já votos nulos foram dados por 2,26% do eleitorado cearense – somando 127,1 mil eleitores –, o voto branco foi escolhido por 1,28% dos votantes no Ceará, o que representou 72,2 mil votos. Ao todo, são mais de 1,4 milhão de votos a serem disputados por Lula e Bolsonaro no Ceará.

Em um estado onde a maioria dos votos foi dada a Lula, aliados do petista apostam nessa fatia do eleitorado para ampliar a votação do candidato do Ceará. Isso ficou claro no evento do PT na última segunda-feira, quando o coordenador da campanha do ex-presidente no Ceará, o senador Camilo Santana, fez um apelo aos prefeitos, vice-prefeitos e vereadores  para que facilitem a ida dos eleitores às urnas.

“Nossa missão é garantir a presença dos eleitores no dia da votação. Como passou a eleição de governador e deputado, há uma tendência da ausência do eleitor (...) Precisamos estimular e garantir transporte dos eleitores, porque é oficial, regular e garantido pela Justiça, para que eles possam ir às urnas e depositar o voto”, reforçou Camilo.

Conforme o cientista político Josênio Parente, a tendência é que abstenções, votos brancos e nulos diminuam no segundo turno. “Teve a questão das filas, da confusão com tantos candidatos, então é natural que os aliados de Lula tentem reduzir essa abstenção, porque a tendência é que o eleitor mais pobre, que vota majoritariamente no PT, encontre mais dificuldade de se deslocar”, aponta. 

Voto evangélico

Já aliados de Bolsonaro apostam no eleitorado evangélico como forma de conter o avanço petista. Esse segmento é mais fiel ao atual presidente e representou uma fatia significativa do apoio que ele recebeu em 2018. A própria base aliada do presidente no Ceará é formada por nomes que emergiram das igrejas, como o deputado federal Dr. Jaziel (PL), a deputada estadual Dra. Silvana (PL) e a vereadora Priscila Costa (PL), por exemplo.

Na última sexta-feira (14), a primeira-dama Michelle Bolsonaro e a senadora eleita pelo Distrito Federal, Damares Alves (Republicanos), participaram de um culto em uma igreja de Fortaleza. O evento ocorreu na véspera da visita do próprio presidente ao Ceará, que fez comício no bairro Conjunto Ceará, em Fortaleza, no último sábado (15).

Em entrevista ao Diário do Nordeste, o coordenador da campanha de Bolsonaro no Ceará, o deputado federal eleito André Fernandes (PL), explicou sobre a estratégia de mirar indecisos. “Precisamos levar informação, mostrar o que o presidente fez durante a pandemia com o Auxílio Emergencial, com o Auxílio Brasil, perdoando dívidas dos FIES, trazendo água para o Nordeste, precisamos mostrar o que o Governo Bolsonaro fez e o que o Governo do PT não fez”, disse.

O cabo de guerra em torno desse eleitorado também foi comandado por Camilo no evento da última segunda-feira. Em mais um apelo aos prefeitos, o petista pediu para que eles tentem aproximar Lula e lideranças evangélicas. “Conversem com os pastores, tenham uma conversa franca, sincera e digam que o melhor para o Ceará e para o Brasil é nós elegemos Lula presidente”, concluiu Camilo.

Para Josênio Parente, é pouco provável que neste segmento seja possível mudar o resultado do primeiro turno. “É um eleitorado engajado, que tem capacidade de mobilização e compareceu às urnas, não é um eleitorado que tenha perspectiva de aumentar do primeiro para o segundo turno. É um eleitor consolidado que, via de regra, segue orientação de um líder”, avalia.

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