PF foi motivo de atritos entre Moro e Bolsonaro desde o início do Governo; confira outros embates

Durante o pronunciamento, Moro falou sobre a interferência que o presidente Jair Bolsonaro queria fazer no órgão - que deve ter autonomia

Escrito por
Redação producaodiario@svm.com.br
(Atualizado às 14:30)

Em pronunciamento nesta sexta-feira (24), Sergio Moro anunciou sua demissão do Ministério da Justiça e Segurança Pública, pasta que comandava desde o início da gestão de Jair Bolsonaro. 

O ex-juiz explicou que a decisão foi tomada após a demissão de Maurício Valeixo da direção-geral da Polícia Federal, publicada no Diário Oficial da União (DOU) desta sexta.

Durante o pronunciamento, Moro falou sobre a interferência que Bolsonaro queria fazer no órgão - que deve ter autonomia. Segundo ele, isso o incomodou.

"O presidente disse que queria alguém do contato pessoal dele, para ligar, colher informações, colher relatórios de inteligência. Não é o papel da PF prestar esse tipo de investigação. Imagine se na Lava Jato ministros e presidentes ficassem ligando para o superintendente em Curitiba para colher informações”, prosseguiu.

A PF foi, inclusive, um dos principais motivos de atritos entre Moro e Bolsonaro, ainda no primeiro ano de governo. A decisão sobre quem comandaria a Superintendência do órgão no Rio de Janeiro quase derrubou, em agosto de 2019, o agora ex-ministro. 

À época, o chefe do Executivo queria o delegado Alexandre Saraiva no cargo, mas o indicado foi Carlos Henrique de Sousa, com apoio de Moro. 

Além do evidente desacordo entre membros do alto escalão do Governo, outro fato deu mais peso a esse embate: o filho do presidente, senador Flávio Bolsonaro (sem partido), é investigado pela PF-RJ por suspeita de “rachadinha”, em que funcionários do seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) lhe devolveriam parte dos salários, em um esquema de desvio de recursos.

Flávio começou a ser investigado pela Justiça após a divulgação, em dezembro de 2018, de um relatório feito pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que apontava movimentações atípicas nas contas do então deputado estadual.

O Coaf também foi um motivo de atrito, no ano passado, entre Moro e Bolsonaro. Pouco tempo após conseguir que o órgão saísse do Ministério da Economia para o da Justiça e Segurança Pública, ele teve que retornar à pasta anterior por causa de alterações feitas, pelo Senado, na Medida Provisória que estabelecia a mudança. 

As mudanças feitas no texto foram aprovadas, inclusive, por senadores da base governista.

Outro episódio que causou desconforto na relação de Bolsonaro e Moro foi a sanção do Pacote Anticrime. O ex-ministro havia solicitado que o presidente vetasse o trecho de criação do juiz de garantias, no entanto, o chefe do Executivo não acatou o pedido e afirmou que não pode "sempre dizer não ao Parlamento".

O fato foi visto publicamente como uma perda do poder e influência de Moro no governo, já que também foi acompanhado de grandes modificações, feitas pelo Congresso Nacional, no projeto de lei inicial.

Bolsonaro reforçou essa interpretação no início deste ano, ao afirmar que estudava desmembrar o Ministério da Justiça e Segurança Pública em duas pastas, mesmo a contragosto do ex-juiz. 

Moro chegou a afirmar a aliados que deixaria o governo caso o presidente não abandonasse a ideia. De fato, Bolsonaro não concretizou seu plano, mas muito mais por influência da sua base eleitoral, que reprovou a mudança.

A alteração não foi completamente rejeitada no Planalto. A prova disso é que, após a saída de Moro, o Executivo retomou a ideia e já pensa em nomes para comandar as novas pastas.