Para Camilo Santana, postura de Bolsonaro favorece motins nas polícias; deputados divergem
Governador considera que insubordinação da tropa pode ser estimulada por atos do presidente; tema é polêmico
Tema polêmico e motivador de debates, o risco de politização de militares, sejam das forças armadas ou das polícias estaduais, põe o Ceará, novamente, no centro do debate nacional. O mais recente episódio foi a declaração do governador Camilo Santana sobre a postura do presidente Jair Bolsonaro em relação às corporações.
A declaração foi dada nesta terça-feira (15) ao portal UOL. Para Camilo Santana, o comportamento do presidente Bolsonaro (sem partido) favoreceria movimentos como motins de policiais militares, como o que ocorreu no Ceará no início de 2020.
Além das questões relacionadas à segurança da população, os motins são motivo de maior tensão entre governo e oposição no Ceará.
Segundo o governador cearense, há lideranças politizadas nas polícias e o discurso do presidente acaba favorecendo essas posturas consideradas "ilegais". Isso, segundo ele, favorece atos como o motim dos policiais no Ceará e o último episódio em Pernambuco em que manifestantes ficaram cegos após serem atingidos por tiros por balas de borracha.
Ao pontuar que o Ceará abriu processo contra cerca de 300 PM’s e proibiu, através de lei aprovada na Assembleia Legislativa, a anistia aos que participaram do motim, Camilo reconheceu que a postura do Chefe do Executivo é um agravante.
"Aqui, até pela reação forte que tivemos, será mais difícil, porém o clima liderado pela maior autoridade do País favorece essas ações, como aconteceu aqui no Ceará e em Pernambuco. Acho que o discurso e forma como ele age favorecem isso", declarou o governador.
Repercussão no Congresso
O entendimento de Camilo, entretanto, divide os parlamentares cearenses no Congresso Nacional.
Para o deputado Danilo Forte (PSDB), a declaração do governador é "um factoide político de palanque". Para ele, "não tem nada a ver uma coisa com a outra”.
Opositor do petista, Danilo considera que a declaração prejudica a autoridade do gestor frente a tropa.
“O comentário fragiliza a autoridade que o governador tem sobre sua própria polícia. Não podemos corrigir um erro com outro erro".
Para ele, "Bolsonaro erra quando vulgariza com o comportamento público na pandemia, e o governador se nivela quando faz essa análise".
Já André Figueiredo (PDT), reitera o que disse o governador cearense. O parlamentar argumenta que atos de indisciplina “não corroboram com o histórico da corporação”.
“O comportamento do Bolsonaro está levando o Brasil a viver situações extremamente desagradáveis e perigosas, como foi o caso do motim no Ceará e outros atos, como em Pernambuco. E isso pode acirrar ainda mais o clima de ódio, caso a PM resolva tomar posicionamento político partidário”.
Também no grupo de oposição ao Governo do Estado e eleito na esteira do bolsonarismo, Heitor Freire (PSL) também critica a fala do governador, e o acusa de tensionar a relação entre a PM e a sociedade.
"É lamentável ver um chefe do executivo com um pensamento tão mesquinho frente à Polícia Militar. Eu me pergunto, qual o interesse do Camilo Santana em jogar a corporação contra o Estado e contra a sociedade?”
José Guimarães (PT) diz considerar queo presidente busca construir uma liderança "paralela".
"O Bolsonaro claramente quer construir um poder paralelo via policiais, isso fere a Constituição, as autonomias dos estados e a democracia. Precisamos estar ao lado dos governadores".
Indisciplina na tropa
Na entrevista, Camilo voltou a defender que há, dentro da coorporação cearense, uma força política que estimula comportamentos de indisciplina. O governador ainda reiterou que, em 2020, o motim da PM no Ceará foi motivado por ações políticas.
"É uma motivação que tenho colocado para o Congresso para rever a lei que permite policiais entrarem na política e voltarem para a corporação. Não é permitido nas Forças Armadas, nem no Ministério Público. Mas a Constituição permite que o policial saia para se candidatar. Nada contra, mas tem que fazer opção, ou faço parte da polícia ou da política", declarou.