Paes de Andrade morre aos 88 anos em Brasília

O ex-parlamentar foi internado há mais de um mês após sofrer um infarto na véspera do aniversário de 88 anos

Escrito por Redação ,
Legenda: Paes de Andrade desembarca em Mombaça, do avião da Força Aérea Brasileira, na interinidade da Presidência da República
Foto: FOTO: CID BARBOSA

O ex-deputado federal Antônio Paes de Andrade morreu ontem, aos 88 anos, no Hospital Santa Lúcia, em Brasília. Ele teve falência múltipla dos órgãos após mais de um mês internado em decorrência de um infarto. Nascido em Mombaça, Paes de Andrade chegou a ser presidente da Câmara Federal, ocasião em que exerceu interinamente a Presidência da República. Também integrou a Assembleia Nacional Constituinte que elaborou a Constituição Federal de 1988.

O corpo do político cearense será sepultado hoje, 10h30, no Cemitério Campo da Esperança, em Brasília, depois de ser velado, a partir de 8 horas, no Salão Negro do Congresso Nacional.

O ex-parlamentar foi internado em Brasília no mês de maio, após sofrer infarto nas vésperas de comemorar seu aniversário. Ele nasceu em 18 de maio de 1927, mas o almoço do festejo, que não houve, seria no sábado, 16 de maio, na capital federal, onde fixou residência. Era casado com Zilda Paes de Andrade, com quem tinha quatro filhos.

Na Assembleia Legislativa do Ceará, ontem, deputados estaduais interromperam a sessão, que era presidida pelo deputado Danniel Oliveira (PMDB), após a confirmação da morte do parlamentar que já fez parte dos quadros daquela Casa por três mandatos, eleito ainda em 1951.

No início da trajetória, foi filiado ao PSD. Posteriormente, com o fim dos partidos, ele se tornou um dos fundadores do partido Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que se transformaria em PMDB em 1980. Paes de Andrade acumulou longa experiência no Parlamento, exercendo nove mandatos de deputado federal, cargo que ocupou de 1963 a 1999. O cearense presidiu a Câmara dos Deputados em 1989, época em que assumiu a Presidência da República interinamente por 12 vezes.

Prefeitura

Paes de Andrade disputou a Prefeitura de Fortaleza no pós-ditadura militar, mas foi derrotado por Maria Luiza Fontenele, que era filiada ao PT. Ele figurava como favorito até poucos dias antes da votação, mas a ex-petista virou o cenário e foi vitoriosa no pleito de 1985, no qual também concorreu Lúcio Alcântara.

Após a atuação parlamentar, Paes de Andrade foi convidado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu primeiro mandato, para ser embaixador do Brasil em Portugal, posto que exerceu de 2003 até 2007.

Durante o dia de ontem, Paes de Andrade recebeu homenagens de colegas com quem conviveu e de outras lideranças políticas. O governador Camilo Santana lamentou a morte do ex-deputado e decretou luto oficial de três dias. Ele lembrou a decisão de Paes, como presidente da República, de autorizar a construção do açude Castanhão.

Os três senadores do Estado emitiram notas lamentando a morte do ex-parlamentar. Tasso Jereissati (PSDB) discursou no plenário do Senado para registrar o legado de Paes de Andrade e solicitou, em requerimento, encaminhamento de voto de pesar e condolências aos familiares.

O senador José Pimentel (PT) ressaltou a luta do político pela democracia. "Em todas as atividades que desempenhou ao longo da carreira, Paes de Andrade sempre teve como objetivo a luta por um Ceará e um Brasil mais justo e democrático", salientou.

Já o senador Eunício Oliveira, casado com a filha de Paes de Andrade, Mônica Oliveira, limitou-se a dizer em nota: "o legado de Paes de Andrade, para mim, está sintetizado em uma frase que um dia o ouvi falar: o que eu vou deixar para meus netos e meus filhos são as minhas mãos limpas e a minha honra".

Reconhecimento

O presidente da Assembleia Legislativa, Zezinho Albuquerque, também se pronunciou. "Sua luta pela retomada da democracia e a trajetória que se confunde com a do próprio Poder Legislativo são dignas de reconhecimento", ressaltou. A chefe do Judiciário cearense, desembargadora Iracema do Vale, disse: "encheu de orgulho os cearenses, defensores ou não de sua cor partidária. Sua morte abre uma lacuna na representação política".

Ao Diário do Nordeste, o ex-deputado Mauro Benevides, contemporâneo de Paes de Andrade na elaboração da Constituição Federal e ao longo de várias décadas, relata que visitou o colega quatro vezes enquanto ele estava internado. "Rendo a minha homenagem a um brasileiro ilustre, democrata sincero e cearense que soube honrar tradições de bravura de nossa gente". "Muito atuante, defendeu, através de emendas, o que poderia representar avanços sociais. Esteve sempre na tribuna nos momentos arriscados", quando o Brasil estava sob o comando dos militares, completa.

O deputado Danilo Forte destacou na tribuna da Câmara Federal: "Eu, que fui seu assessor, secretário, que apreendi e tive a honra de acompanhá-lo durante toda minha vida, sempre tive em Antônio Paes de Andrade exemplo de homem público de dedicação, espírito público para referência de todos nós". Danilo é pai de David, um dos netos de Paes de Andrade.

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