Maioria dos candidatos no Ceará são homens, pardos e escolarizados

Apesar das mudanças nas regras eleitorais, o perfil dos candidatos no Estado não sofreu grandes alterações desde a última disputa. Há uma pulverização maior daqueles que disputam os cargos, mas a diversidade ainda é desafio

Escrito por Alessandra Castro , alessandra.castro@svm.com.br
URNA
Legenda: O perfil dos candidatos no Estado é semelhante ao que foi visto nas eleições municipais de 2016
Foto: Fabiane de Paula

Com todos os pedidos de registros de candidaturas enviados à Justiça Eleitoral, o eleitor começa a analisar as opções que terá para votar, em um cenário de desgaste para a classe política. Neste pleito, mais de 550 mil pessoas estão concorrendo aos cargos eletivos de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores, em todo o País.

No Ceará, 6,5 milhões de eleitores estão distribuídos entre os 184 municípios. Cada um deles é cobiçado pelos 16.037 postulantes apresentados no Estado (7% a mais do que em 2016). No bolo fermentado entre figuras carimbadas e novidades, a maioria segue sendo de homens, escolarizados e pardos. Entre as ocupações, se destacam: agricultor, comerciante ou vereador, o que demonstra que muitos parlamentares buscam a reeleição neste ano.

ARTE

As informações constam nas declarações que foram repassadas pelos próprios candidatos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Das 16.037 candidaturas no Ceará, a maioria (79,9%) está na faixa etária entre 30 e 59 anos. As profissões mais declaradas são: agricultor (1.771), comerciante (1.151), vereador (1.055), servidor público municipal (956) e empresário (844), totalizando 36% do total.

 

Gênero

Um dos problemas crônicos do sistema político nacional, a desigualdade de gênero, fica evidenciada também no cenário cearense deste ano. Os partidos, de forma geral, apenas cumpriram a cota mínima exigida pelo TSE para mulheres - já que 67,1% dos candidatos no Estado são do sexo masculino e 32,9% do feminino. A cota é de 30%.

As estatísticas eleitorais no Ceará são semelhantes às do Brasil, já que as cinco ocupações mais frequentes declaradas são as mesmas, só que em ordem diferente, bem como o percentual de gênero, faixa etária e estado civil. No entanto, quando se trata de cor e escolaridade, o Estado se destaca frente ao País.

Já em relação ao nível de instrução, os postulantes cearenses que concluíram o Ensino Médio e aqueles que cursam ou concluíram o Ensino Superior somam 71,56%, enquanto no País eles são 66,93%.

Apesar de alguns nomes novos, o perfil dos candidatos no Estado é semelhante ao que foi visto nas eleições municipais de 2016.

Fortaleza

Quando o recorte é somente sobre o município de Fortaleza, o maior do Estado, o perfil sofre alterações em decorrência da urbanização, como apontam especialistas. A principal delas é na ocupação dos postulantes, já que as mais frequentes declaradas são: empresário (83), comerciante (70), advogado (66), aposentado (42), servidor público municipal (37), professor do Ensino Fundamental (32), policial militar (28) e administrador (28), no total.

Na Capital, 1.375 pessoas se inscreverem na Justiça Eleitoral para concorrer em novembro. Nesse cenário, 11 disputarão para prefeito, 11 a vice-prefeito e 1.353 a vereador.

Outro ponto em que a Capital se destaca em relação aos dados gerais do Estado é na escolaridade dos postulantes. Os candidatos com Ensino Médio, Ensino Superior completo e incompleto chegam a 83,54% dos inscritos. A faixa etária da maioria deles também é um pouco mais elevada: a maior parte varia entre 35 e 64 anos (78,73%).

Nos demais pontos, os percentuais são semelhantes ao do Estado, como na divisão por gênero, cor/raça e estado civil. Em relação ao pleito de 2016, em Fortaleza o cenário atual é praticamente o mesmo daquele ano, com duas diferenças: o número de postulantes casados era 4% maior do que o atual e 'estudante' aparecia em 2º lugar no ranking das ocupações mais frequentes.

Análise

Para o cientista político Cleyton Monte, que também é professor universitário e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC), o cenário no Ceará e em Fortaleza permanece quase inalterado em relação a 2016 porque quem 'dita' a organização política no Estado são lideranças e grupos que se mantêm no comando dos partidos.

"A gente tem uma série de dificuldades de representatividade, apesar de todas as críticas. Aqui, é basicamente o mesmo perfil porque os partidos e grupos políticos não trabalham com um processo de renovação. Eles escolhem de acordo com o que são mais ligados a eles", explica.

Para a cientista política Paula Vieira, também pesquisadora do Lepem, o recorte em Fortaleza mostra um perfil transformado pela urbanização, onde o latifúndio não predomina como principal atividade econômica. "Nos dados do Ceará, a maioria é de candidatos do interior, que estão ligados à agricultura. Em Fortaleza, o perfil é mais urbano, sai a figura do agricultor e entra empresários, advogados, comerciantes, servidores", completa.

Além disso, os dois ressaltam que a Capital acompanha de forma mais célere fenômenos que ocorrem no cenário político nacional. Por isso, também é comum que profissões ligadas a causas ideológicas ou a representantes nacionais cresçam, como no caso de militares e religiosos.

"A gente tem um fenômeno que não pode ser desconsiderado que é o bolsonarismo, ele de certa forma acionou esse voto conservador e mobilizou esses grupos. Então, é normal que tenha mais gente para se engajar com as temáticas e a gente vê muito essa representação nos militares e religiosos", conclui Cleyton.

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