Lideranças devem endossar atuação na reta final da disputa na Capital, dizem cientistas

Com a votação marcada para domingo (15), a disputa deve ficar mais acirrada entre os candidatos da Capital que buscam vaga no 2º turno. Lideranças nacionais devem protagonizar embates na disputa, projetam especialistas

Escrito por
Alessandra Castro alessandra.castro@svm.com.br
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Legenda: Para os cientistas políticos ouvidos pela reportagem, a disputa nessa reta final deve ‘ter de tudo’, com destaque para estratégias que busquem desidratar os adversários diante do eleitorado
Foto: José Leomar

A cinco dias do pleito deste ano, os candidatos à Prefeitura de Fortaleza devem elevar o tom na disputa para garantir a ida ao segundo turno, principalmente entre os três postulantes mais bem posicionados na segunda pesquisa Ibope: Sarto Nogueira (PDT), Capitão Wagner (Pros) e Luizianne Lins (PT). Nesta reta final, inclusive, lideranças políticas com projeção nacional estão entrando com mais evidência nas campanhas, para utilizar o capital político em prol dos aliados, avaliam especialistas. 

Para os cientistas políticos ouvidos pela reportagem, a disputa nessa reta final deve ‘ter de tudo’, com destaque para estratégias que busquem desidratar os adversários diante do eleitorado. Por isso, o tom das lideranças também deve engrossar para capitanear votos para o aliado. 

Alguns desses agentes políticos, inclusive, já têm protagonizado embates na disputa em defesa dos candidatos. O tom mais ameno visto no início da campanha eleitoral já ficou para trás faz tempo. O curto tempo de campanha tem alterado as posturas na disputa. 

No último domingo (9), por exemplo, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), aliado do candidato Sarto Nogueira, subiu o tom contra o ex-ministro Sérgio Moro e disse que seus adversários na disputa deste ano tentam nacionalizar o pleito com “cabos eleitorais de fora da cidade”. 

“Se você olhar em Fortaleza, de onde é o meu título de eleitor, nós entendemos que o que está em debate é uma eleição municipal. Os meus adversários estão querendo fazer isso (nacionalizar a disputa e com cabos eleitorais de fora da cidade) lá. O Lula todo dia na televisão, o Moro entrou na televisão lá no Ceará, Bolsonaro entrou na televisão no Ceará e eu não vou”, afirmou. 

Recentemente, o ministro Sérgio Moro gravou um vídeo de apoio ao candidato Capitão Wagner, em que ele o diz que a preocupação de Wagner no motim de parte da Polícia Militar, ocorrido entre fevereiro e março deste ano, era para “encerrar” o movimento. 

“Encontrei o deputado federal Capitão Wagner, inclusive na Escola de Aprendizes da Marinha, e toda a preocupação era voltada em encerrar o movimento para atender a população de imediato”, defendeu Moro. 

A entrada do ex-ministro na campanha de Fortaleza também repercutiu entre outras lideranças do País. O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), classificou, no último domingo (8), como ruim a tentativa de Moro em se colocar como referência do campo político de “centro”. “Moro grava vídeo para um extremista líder de motim, candidato em Fortaleza. Começou muito mal a sua tentativa de se reinventar como referência do centro”, declarou.

Apoios nacionais 

Antes disso, Lula já estava aparecendo na Luizianne Lins (PT), que segue apostando na utilização da imagem do ex-presidente para tentar se manter no primeiro pelotão que lidera a corrida na Capital. No dia 6 de novembro, inclusive, Lula compartilhou um vídeo em uma rede social pedindo votos para a deputada, classificando-a como a “prefeita que Fortaleza merece”. Até a ex-presidente Dilma Rousseff também gravou vídeo em apoio à candidata. 

Ainda na semana passada, no dia 5 de novembro, o presidente Jair Bolsonaro entrou de forma mais incisiva na disputa na Capital. Em live semanal, o chefe do Palácio do Planalto mostrou uma foto de Wagner e pediu votos para o candidato do Pros, além de reforçar que uma eventual gestão do aliado seria uma 'linha direta' entre a Capital e o Governo Federal. 

Essa nacionalização da disputa, todavia, tem viés mais do que ideológicos e buscam fortalecer aliados para a disputa em 2022. De olho no próximo pleito, inclusive, Ciro e Lula fizeram um ‘acordo de boa convivência’ em setembro e, desde então, não têm trocado farpas nas redes sociais. 

Lideranças locais 

No Ceará, o governador Camilo e outras lideranças locais também têm protagonizado embates. Dividido entre as candidaturas de Luizianne Lins e Sarto Nogueira, o governador Camilo Santana tem feito crtícias contra Wagner desde que o concorrente do Pros negou liderar o motim da PM. A declaração do postulante foi dada em entrevista ao programa PontoPoder Eleições, da TV Diário, em 13 de outubro. 

Aliado de Sarto, o prefeito Roberto Cláudio (PDT) também tem adotado um tom mais incisivo contra Wagner e Luizianne. Na disputa da Capital, o senador Eduardo Girão (Podemos) também já protagonizou embates com o governador para defender o candidato do Pros. O mais recente, inclusive, requentado pelo vídeo gravado pelo ex-ministro Sérgio Moro, o qual Girão diz “desmentir” Camilo sobre as acusações contra Wagner envolvendo o motim. 

Camilo respondeu, dizendo que o candidato do Pros tem usado “outras pessoas para falar por ele”. “Já que não consegue esconder sua liderança no motim que trouxe pânico ao Ceará, este ano, Capitão Wagner usa outras pessoas para falar por ele, como um ex-ministro e o senador bolsonarista do Ceará”. Sem acenos do governador Camilo, Luizianne tem feito ataques a Sarto e a Wagner. 

Disputa intensa 

Para Carla Michele Quaresma, cientista política e professora universitária, a “indefinição sobre o segundo turno” fará com que os candidatos utilizem “todos os trunfos” que tiverem na manga. “A reta final é o vale tudo. A gente tem um cenário que está se desenhando e que vai ser muito importante para 2022. 

Evidente que os grandes caciques devem entrar (na campanha) novamente, já que em virtude de o tempo de campanha ter diminuído (neste pleito), as campanhas negativas começaram mais cedo”, analisa. Para ela, cada um tem um tipo de técnica diferente, apesar de algumas semelhanças nas estratégias. “A Luizianne deve continuar recorrendo à imagem do Lula, apostar no símbolo do partido. O Capitão Wagner agora quer falar abertamente com o governo federal. O Sarto deve ter a inserção dos Ferreira Gomes mais forte agora, principalmente na campanha mais tradicional, com as lideranças nos bairros, porque eles sempre entram muito na reta final. O Wagner também deve fazer esse trabalho nos bairros”, destacou. 

O cientista político Josênio Parente, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), avalia que a disputa nesse ano na Capital é diferente não só pela pandemia, mas pela força que as três primeiras candidaturas também têm mostrado. Ele cita, inclusive, o acordo de boa convivência feito entre Lula e Ciro Gomes em setembro, mas que só foi revelado no fim de outubro como algo que deve pesar na eleição em Fortaleza. 

“Esses três candidatos estão com estratégias bastante interessantes, sobretudo a esquerda, porque o Lula tem muito prestígio ainda e o Ciro Gomes é uma liderança local muito grande. É muito forte essa movimentação. Essa questão do PDT e PT vai ser um indicativo para 2022, a aproximação de Lula com o Ciro foi muito importante”, explica. 

Sobre Capitão Wagner, o professor acredita que a figura do Bolsonaro não deve ser tão explorada pelo candidato do Pros para evitar desgastes, deixando as manifestações favoráveis apenas na boca do presidente. “O Bolsonaro estava apostando na vitória do Trump (nos EUA), o que não aconteceu. Então, eu acho que ele está numa fase que talvez não queira se apresentar como o candidato do Bolsonaro, mas é algo que via ser explorado pelos adversários”, ressaltou.