Lideranças de PT e PDT tentam pacificar divergências para candidatura em Fortaleza

Pelo cenário de hoje, cada partido defende candidatura própria. Petistas e pedetistas da ala “moderada” cogitam acordo. Nos bastidores, o governador Camilo Santana seria um dos maiores entusiastas da união, que é difícil de acontecer

Escrito por Letícia Lima , leticia.lima@svm.com.br
Legenda: De um lado, uma parte do PT defendendo a tese de candidatura própria, de olho em retomar o protagonismo em Fortaleza, e, do outro lado, o PDT, que tem a máquina administrativa da quinta maior capital do País, querendo eleger um sucessor
Foto: Foto: José Leomar

Aliados históricos no Ceará, PT e PDT vivem momentos de tensão antes das eleições de outubro. O centro das turbulências é a sucessão em Fortaleza, alvo de disputa entre os dois partidos. Nesse “cabo de guerra”, alguns petistas e pedetistas atuam, nos bastidores, para pacificar os ânimos. A avaliação deles é de que o governador Camilo Santana e o senador licenciado Cid Gomes – lideranças máximas de PT e PDT – têm a capacidade de conciliar os interesses de cada uma das forças políticas e conduzir uma aliança na Capital, mesmo o cenário sendo tão adverso para uma união. 

Em Política, nada é impossível, mas, a preço de hoje, essa possibilidade defendida, principalmente, por Camilo, um dos maiores cabos eleitorais de outubro (apontado por pesquisas), é distante, tendo em vista alguns obstáculos. O primeiro deles, segundo aliados, é o ex-ministro Ciro Gomes, que comanda ao lado do irmão, Cid, o PDT no Ceará. Desde as eleições de 2018, quando concorreu à Presidência e não teve o apoio do PT na disputa, Ciro confronta o PT, embora tenha poupado o governador Camilo Santana.

Outro empecilho é a volta do ex-presidente Lula à política e a influência dele nas decisões do partido para as eleições. Petistas dizem que o ex-chefe do Palácio do Planalto estimula candidaturas. 

Conflitos

O resultado desse cenário é: de um lado, uma parte do PT defendendo a tese de candidatura própria, de olho em retomar o protagonismo em Fortaleza, e, do outro lado, o PDT, que tem a máquina administrativa da quinta maior capital do País, querendo eleger um sucessor. Muitos movimentos, é claro, miram o pleito de 2022, quando essas forças do campo de centro-esquerda pretendem disputar espaço. 

Diante disso, o deputado federal André Figueiredo, que coordena as articulações políticas junto com Cid, no PDT, foi claro: “nunca na galáxia” o partido apoiaria candidatura do PT em Fortaleza. A sigla ainda não lançou seu pré-candidato, mas já há a determinação de que deve ter postulante próprio na Capital, uma das principais cidades geridas pelo partido no Brasil. 

“Fortaleza é uma das prioridades do PDT em nível nacional. Hoje, é a principal capital que administramos. Nós não somos submissos a qualquer estratégia colocada”, sentencia o parlamentar. 

O presidente estadual do PT, Antônio Conin, também defende o “seu”. Ele disse que Fortaleza é prioridade para a direção nacional e o “sentimento” no partido é de candidatura própria. Conin não vê possibilidade de uma aliança PT-PDT, tanto que correntes do partido cogitam nomes.

"A gente não vê esse sentimento (de aliança) por parte do PDT. Quando tem dois partidos com candidatura, fica mais difícil. Temos candidatura, é isso que podemos afirmar”, limitou-se.

Em meio aos conflitos, petistas e pedetistas da ala “moderada” atuam como interlocutores nessa relação, na tentativa de acalmar os ânimos e preservar intacta a aliança no Estado. Para isso, ressaltam as bandeiras em comum entre os dois partidos e levantam a hipótese de que PT e PDT poderiam se aproximar no primeiro ou no segundo turno da disputa em Fortaleza. O governador é o maior entusiasta dessa parceria. 

Elos no PT

Camilo já defendeu, publicamente, uma aliança na Capital. Nos bastidores, comenta-se o esforço dele para discutir uma alternativa que una os dois partidos. O deputado estadual Acrísio Sena segue a linha “Camilista” e age como um conciliador no meio dos conflitos. Ele é um dos que fazem malabarismos para vender a tese internamente. 

“PT e PDT, na nova geopolítica, não estão em campos opostos. Em nível nacional, esses dois partidos têm se articulado no enfrentamento ao Governo Federal? Sim. No Estado, estão juntos no mesmo projeto? Sim. Então, qual o impedimento de dialogar Fortaleza? Esse diálogo só evolui se for capitaneado por Cid Gomes e Camilo, para se pensar em um projeto de futuro, que vá além de Luizianne e Roberto Cláudio”, defende. 

Aliado de primeira hora de Camilo no PT, o assessor para Relações Institucionais do Governo do Estado, Nelson Martins, acha difícil a construção de uma aliança, no momento, mas aposta no diálogo entre as partes. 

“É legítimo que cada partido queira ter o seu candidato próprio, mas não se pode impor. O ideal seria que houvesse aliança, mas se não for possível, paciência, porque o Governo do Estado é parceiro da Prefeitura de Fortaleza”.

Na cúpula petista, o secretário de Desenvolvimento Agrário, Francisco de Assis Diniz, é apontado como um dos que abrem interlocução com outras forças da base governista. “Na Secretaria, a gente tem ajudado a estabelecer um relacionamento que não seja do confronto, com todas as forças. Não tenho assumido posições tão públicas, porque eu prefiro estar no anonimato”. 

Elos no PDT

Apesar das turbulências na disputa da Capital, em vários municípios do interior, PT e PDT deverão marchar juntos nas eleições para prefeito. André Figueiredo tem se reunido com Antônio Conin desde o ano passado para discutir as composições no interior. 
“Nos municípios mais importantes deveremos estar juntos: Sobral, Maracanaú, Iguatu talvez, possivelmente em Itapipoca e em Quixadá. Vamos sentar e dialogar município a município, buscando um diálogo com o PT e com várias forças de centro. A relação com o PT não é ruim. Em nível nacional, dentro do Parlamento é boa, o que temos é uma estratégia diferenciada”. 

Dentre os pedetistas, o presidente da Câmara Municipal de Fortaleza, vereador Antônio Henrique, tem perfil conciliador. Apesar de o PT ser oposição no Legislativo, o parlamentar busca manter bom diálogo com a bancada petista. 

“Hoje, vemos que a parceria desenvolvida pela Prefeitura de Fortaleza e Governo do Estado, liderados por representantes de partidos diferentes, tem contribuído para inúmeros avanços no Ceará. Esse trabalho conjunto beneficia a Capital e o Estado. Estamos dialogando e acredito que todas as decisões serão tomadas no tempo certo”. 

Ex-secretário do prefeito Roberto Cláudio, o deputado estadual Queiroz Filho (PDT) vê as semelhanças ideológicas entre os partidos, por isso acredita que essas questões serão a “chave” do debate. “PT e PDT se assemelham, principalmente, na necessidade de trabalhar em um modelo de um Estado forte e que trabalha na diminuição da desigualdade. Essa junção não é fácil, é uma relação que passa pelo presidente do PDT, Cid, e pelo governador Camilo”, analisa o parlamentar. 

Histórico 

Essa não é a primeira vez que PT e PDT enfrentam turbulências na sucessão em Fortaleza. O primeiro “racha” aconteceu em 2012, quando o PT lançou a candidatura de Elmano de Freitas, hoje deputado estadual, contra a de Roberto Cláudio, do PDT.

Luizianne, no fim do segundo mandato na Prefeitura, queria eleger um sucessor, mas Elmano acabou derrotado naquele pleito. 

Na sequência, em 2014, uma reviravolta na articulação fez com que Camilo Santana, do PT, fosse o candidato dos governistas, mas o grupo de Luizianne não apoiou os nomes articulados pelo PDT. O cenário pós-eleição ficou com um governador do PT, mas com forte influência do grupo pedetista e dos irmãos Cid e Ciro Gomes. 

Após a primeira ruptura, a eleição municipal de 2016 foi dividida novamente entre PT e PDT. O governador até ensaiou um acordo, na época, mas sem êxito. Luizianne Lins concorreu à Prefeitura contra a candidatura à reeleição de Roberto Cláudio, que saiu vitorioso. A petista nem chegou a ir para o segundo turno no último pleito municipal.

Camilo Santana

Maior liderança do PT no Estado, o governador é apontado como o condutor da relação com o PDT na eleição municipal de Fortaleza.

Guilherme Sampaio

Presidente municipal do PT em Fortaleza é peça importante na articulação com o governador e defende candidatura própria.

Cid Gomes

Presidente interino do PDT no Ceará é o pedetista mais aberto ao diálogo com o PT e travará o debate com Camilo sobre os rumos da aliança em Fortaleza.

Roberto Cláudio

No seu último mandato à frente da Prefeitura, o pedetista terá peso na discussão interna do PDT e indicação do candidato a sucessor.

Luizianne Lins

Ex-prefeita duas vezes e ex-candidata ao terceiro mandato, em 2016, é citada para a Eleição de 2020 e lidera correntes no partido.

Ciro Gomes

Uma das lideranças máximas do PDT ao lado de Cid, tem confrontado o PT em âmbito nacional e defende nome do PDT na disputa em Fortaleza.

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