Governo suspende edital anunciado por Alvim em vídeo associado ao nazismo
A suspensão foi confirmada pela assessoria de imprensa da secretaria
O edital de R$ 20 milhões proposto por Roberto Alvim antes de ele ser demitido do comando da Secretaria Especial da Cultura está por ora suspenso por ordem do governo. Alvim foi demitido por ter copiado frases de Goebbels, ministro de Hitler na Alemanha nazista, em um vídeo no qual anunciava justamente esse programa, que subsidiaria óperas, peças, exposições e produções literárias e de quadrinhos.
A suspensão foi confirmada pela assessoria de imprensa da secretaria. O órgão informou "que o edital do Prêmio Nacional das Artes não chegou a ser publicado no Diário Oficial da União e que "caberá ao novo secretário reavaliar a continuidade do Prêmio". Regina Duarte pode ser a próxima a assumir a cadeira, ela programou um período de teste em Brasília a partir desta quarta (22) para decidir se aceita a nomeação.
Nos bastidores, é dito que há grande chances de o programa ser cancelado definitivamente, pois ficou associado à repercussão negativa resultante da associação com o nazismo. A Procuradoria Fedral dos Direitos do Cidadão, do Ministério Público Federal, encaminhou nesta terça à Procuradoria-Geral da República recomendação para anulação de todos os atos de Alvim.
Convite a Regina Duarte
A atriz Regina Duarte confirmou, na sexta-feira, ter recebido o convite para assumir a Secretaria Especial da Cultura. Ela admitiu, porém, não estar “preparada”. “Não é a 1ª vez que sou convidada pra esse cargo, me assusta muito”.
Repercussão
O vídeo em que Alvim emula um discurso de Goebbels repercutiu na imprensa ao redor do mundo. Segundo o jornal americano “The New York Times”, a reação ao vídeo foi o mais recente caso “em um debate mais amplo sobre liberdade de expressão e cultura na era Bolsonaro”.
“O presidente fez sua campanha prometendo uma correção de curso após uma era de líderes de esquerda, que ele acusa de terem tentado impor o ‘marxismo cultural’. Críticos dizem que ele e seus aliados estão abordando de forma dogmática as artes, o sistema público de educação e os direitos sexuais e reprodutivos”, afirma a reportagem.
Na Alemanha, o caso também foi noticiado. A revista “Der Spiegel” citou a mensagem publicada pela embaixada alemã no Brasil, que afimou se opor a qualquer tentativa de “banalizar ou mesmo glorificar o tempo do nazismo”. Já o “Frankfurter Allgemeine” destacou que, apesar de ter negado a apologia a Goebbels, Alvim disse que não há nada de errado com sua frase.
O “Washington Post” definiu Alvim como “um dos maiores militantes da guerra cultural no Governo” e lembrou que o ex-secretário já comparou a esquerda a “baratas”.
O jornal britânico “The Guardian” também descreveu Alvim como um aliado do Governo Bolsonaro na “guerra cultural”, e lembrou que a mesma ala já promoveu ataques a pautas como as mudanças climáticas e o feminismo.
As emissoras de TV BBC e CNN também citaram como respostas contrárias ao vídeo a reação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e da Confederação Israelita do Brasil.
Na França, o jornal “Libération” classificou o caso como um escândalo, enquanto o “Le Figaro” lembrou que o posto de Alvim era o equivalente ao de ministro da Cultura, Pasta que “simplesmente desapareceu no Governo” depois de ser absorvida primeiro pelo Ministério da Cidadania e, depois, pelo Turismo.