Em live com FHC, Maia e outros líderes nacionais, Camilo critica 'falta de federalismo' na pandemia
Segundo o governador do Ceará, não há coordenação entre os estados do País, que se mantêm há mais de 20 dias sem um ministro da Saúde
Em live com líderes nacionais para debater a democracia brasileira, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), criticou a “falta de federalismo” que se evidenciou durante a pandemia da Covid-19 no Brasil.
"Tenho dito que o maior exemplo de falta de federalismo que o País está vivendo é nesse momento da pandemia. A gente não vê coordenação. A gente enxerga que, há mais de 20 dias, estamos sem ministro da saúde no País", afirmou o governador durante live realizada pelo movimento "Direitos Já! Fórum Pela Democracia", na tarde deste sábado (6).
Além do chefe do Executivo estadual, participaram da transmissão ao vivo o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ); o ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (PSDB); o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB); e o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim.
Para Camilo, ainda que seja adepto ao sistema democrático, o Brasil ainda é carente de diálogo, de respeito às ideias divergentes e de mais envolvimento das instituições.
"Na democracia, precisamos, acima de qualquer coisa, defender as instituições, fortalecer cada vez mais as instituições, mas defender a democracia que sirva a todos. Essa pandemia está sendo um exercício que está expondo feridas, cicatrizes do Brasil de desigualdades enormes que existem", disse, acrescentando ainda que o País "é um dos mais desiguais do planeta".
"Novos caminhos"
De acordo com o governador, apesar de todas as dificuldades, a pandemia pode ensinar os líderes do País "a trilhar novos caminhos". Dois destes seriam, aponta ele, a reforma tributária e a garantia de uma renda mínima à população mais vulnerável.
"Que a reforma tributária não passe apenas a fazer mudanças do ponto de vista da tributação do consumo. Que tribute a renda e o patrimônio nesse País, por conta das desigualdades e da concentração de renda. Isso seria fundamental para fortalecer a democracia e o direito dos cidadãos e cidadãs brasileiras. Outro ponto é a renda mínima. Essa pandemia mostrou claramente a fragilidade da população vulnerável desse País", afirmou Camilo, citando ainda as desigualdades mais ou menos acentuadas entre as diferentes regiões.
Rodrigo Maia corroborou com a fala do governador e reafirmou que os tributos devem incidir também sobre a renda e a propriedade e não apenas sobre o consumo, penalizando os mais pobres.
"Tanto o sistema previdenciário, administrativo, tributário, comercial, todos esses sistemas foram construídos para beneficiar a elite do Brasil, seja setor público ou privado", disse.
Para o governador do Maranhão, Flávio Dino, "nenhum sistema tributário do mundo é tão regressivo quanto o nosso. Nem temos progressividade larga no imposto de renda e nem tributação de renda e herança como países capitalistas têm".
Mais participação nas decisões
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por sua vez, ressaltou a necessidade de "ampliar a democracia", dando mais condições de participação da sociedade no processos de decisão.
"Quando você é presidente, tem que exercer o papel de moderação, não deixar que os conflitos se agudizem e incluir mais gente. Radicalizar a democracia significa não apenas respeitar a Constituição, mas incluir os interesses das pessoas. (...) Você tem que ter uma democracia que sirva à maioria da população, tem que ter instrumentos para essa maioria participar desse processo decisório".