Divisão do PT leva incertezas à sigla
Partido historicamente heterogêneo, o PT agora enfrenta o desafio de equilibrar racha interno e alta rejeição popular
Faltando poucos meses para o início da campanha eleitoral de 2016, o Partido dos Trabalhadores (PT) está novamente dividido em Fortaleza. A heterogeneidade não é novidade na história do partido. No pleito de 2012, a legenda rachou no processo de escolha do candidato a prefeito de Fortaleza. Prevaleceu a tese defendida pela ex-prefeita Luizianne Lins. Para cientistas políticos, os recentes escândalos de corrupção atrelados ao PT devem agravar a capacidade de unificação do partido.
Nas últimas eleições municipais, a ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins insistiu na indicação de Elmano Freitas como candidato a prefeito da capital cearense. Ele foi chancelado como postulante do grêmio após votação interna dos delegados no congresso do partido.
À época, o nome do governador Camilo Santana, que era secretário estadual, foi ventilado como possibilidade de candidato a prefeito de Fortaleza. A inviabilidade de chegar a um acordo oficializou ruptura entre o ex-governador Cid Gomes e Luizianne Lins. Foi nesse contexto que foi costurada a candidatura de Roberto Cláudio, apoiado por Cid, que venceu Elmano nas urnas.
A contragosto, lideranças petistas no Estado apoiaram (pelo menos oficialmente) a candidatura de Elmano a prefeito. Desafio para os próximos meses será unificar o discurso do partido, já que o governador Camilo Santana, apesar de nunca ter declarado oficialmente que apoiará candidatura de reeleição de Roberto Cláudio, encontra-se em situação delicada, pois é do grupo político de Cid Gomes, fiador da candidatura do atual prefeito e também do governador.
Democracia
O cientista político Jorge Almeida, professor da Universidade Federal da Bahia, informa que o PT conseguiu construir uma base de democracia interna que se diferencia das outras legendas na medida em que são realizadas votações internas para definir os candidatos. "Desde a fundação foram várias correntes, intelectuais, universitários, setores de base da Igreja e grupos que resistiram à ditadura militar ajudaram a construir o PT".
O docente ressalta, entretanto, que nos últimos anos ocorreu uma burocratização das eleições de modo que o PT se aproxima cada vez mais do perfil predominante dos demais partidos políticos. "Está mais comum a saída (petistas que trocam de partido por conveniência), 10% dos prefeitos saíram, em estados como São Paulo saíram 20% (...) A tendência é que aconteça com mais frequência, se assemelhando a outros partidos, em que líderes com mandato acabam impondo suas vontades aos demais".
Professor de Ciência Política da Universidade de Fortaleza, Francisco Moreira opina que o contexto atual diferencia-se do cenário de 2012, principalmente pelo grau de fragilidade do PT nos últimos anos. "O cenário atual é muito diferente, porque existe uma complexidade grande hoje por conta fragilidade do partido em termos nacionais. Isso reflete nas condições internas e locais", ressalta. "Foi muito drástica a mudança de 2012 para cá, ninguém pode perder de vista o desgaste do partido".
O cientista político ressalta que a diversidade do PT sempre foi encarada de forma positiva para amadurecimento da democracia interna da sigla, mas acrescenta que, devido ao crescimento da onda antipetista, essa divisão interna da agremiação tende a trazer prejuízos ao grêmio.
"Durante muito tempo, isso foi uma coisa elogiável, de ter as diversas situações no partido, se resolvia sempre nas disputas internas, com a maioria opinando e fazendo valer pontos de discussão. Isso o fortalecia, mas não é mais um problema interno e sim da sociedade como um todo. Você tem um sentimento muito forte (antipetista), virulento, que não se consegue explicar nem de forma racional", explana.
Estratégica
Francisco Moreira avalia ser estratégico para o PT sair com candidatos próprios em um momento que o partido precisa ser reestruturado, mas alerta para as dificuldades que a sigla deve enfrentar nos próximos meses para construir uma candidatura competitiva nas eleições.
"O PT está numa posição extremamente fragilizada para barganhar com concorrente que tenha condições de, na luta pela prefeitura, ter um candidato. A Luizianne conta com quem? É muito complicado. A minha defesa é que ele tivesse uma candidatura, porque o partido precisa ser reconstruído", opina.
O cientista político Marcos Colares, professor da Universidade Estadual do Ceará, também defende a tese de que o PT precisa impor candidaturas próprias no processo de renovação da legenda. "Sou favorável a ter mais de uma pré-candidatura (de um mesmo partido) para que haja mais discussão", propõe, avaliando que o governador Camilo Santana, mesmo alinhado ao prefeito Roberto Cláudio e aliado de Cid Gomes, deve seguir as diretrizes de seu partido, o PT.
O professor completa que o pleito de 2016 deve ser um preparativo do PT para 2018 no sentido de buscar refazer sua imagem perante a sociedade. "O momento é de reinvenção e isso vai ser pautada na escolha de candidatura de 2016 e 2018. É um momento importante de o PT para fazer essa discussão já pensando em 2018. Agora, algumas lideranças tendem a perder espaço ou sair", pontua o docente.