Chegada das águas da Transposição ao Ceará é motivo de esperança

A tão aguardada entrada das águas do Rio São Francisco no território cearense anima pequenos produtores e pescadores; mesmo que a sua distribuição ainda dependa do enchimento da barragem em Jati, que pode levar meses

Escrito por Antônio Rodrigues ,
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Legenda: Francisco Teixeira diz que o trecho captado pelo Cinturão das Águas pode suprir a agricultura irrigada
Foto: FOTO: NATINHO RODRIGUES

No último dia 6 de janeiro, as águas do "Velho Chico" chegavam à barragem de Milagres, no Município de Verdejante (PE), última estrutura do Eixo Norte do Projeto de Integração do Rio São Francisco (Pisf) antes do território cearense. Pouco mais de seis meses depois, finalmente, nesta sexta-feira (26), as águas seguirão ao nosso Estado, trazendo segurança hídrica para 4,5 milhões de habitantes na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Junto dela, a esperança de subsistência de pequenos produtores no seu trajeto.

De Pernambuco, o recurso hídrico segue para a barragem Jati, no Município homônimo cearense, onde passará por um processo de enchimento em três etapas, de acordo com o cronograma de segurança do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). A Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará (SRH) prevê que em 1º de agosto as águas estejam liberadas para o Cinturão das Águas do Ceará (CAC). No entanto, a expectativa do Estado é que se concentre o volume recebido durante o 1º semestre de cada ano, para ter menor perda e maior eficiência para o destino final.

Em Jati, a água será captada pelo CAC, onde percorrerá 53 km pelo chamado "eixo emergencial". "Já está pronto", garantiu o secretário de Recursos Hídricos, Francisco Teixeira. A partir dele, a água seguirá até Missão Velha, onde desembocará no Riacho Seco e, por gravidade, segue até o Rio Salgado, que deságua no Rio Jaguaribe. Pelo seu curso natural, dará aporte ao Açude Castanhão.

A Superintendência de Obras Hídricas (Sohidra) espera uma vazão de 12 m³/s. Mesmo com uma possível perda no trajeto, de 3m³/s, ela será suficiente para a garantia hídrica da RMF. Porém, o tempo de transporte depende da calha do Rio Salgado. Se estivesse cheia, demoraria cerca de 20 a 25 dias até o maior reservatório do Estado. Seca, pode levar de 40 dias a dois meses. "Ainda tem que encher e preencher o solo, que é como uma esponja. Depois de cheio, flui naturalmente", frisa o diretor de águas superficiais da Sohidra, Antônio Lucena.

Perenização

A chegada das águas no Salgado animou pequenos produtores e também pescadores que fazem dele sua subsistência. Em Aurora, a expectativa é pela perenização do rio, que costuma estar cheio apenas nos primeiros meses do ano, durante a estação chuvosa. "O rio era mais cheio. Eu pegava mais peixe. Quem sabe não volta esse tempo de fartura", torce o pescador Francisco José da Silva.

A notícia também anima os moradores das Vilas Produtivas Rurais (VPR's), que foram construídas para reassentar quem foi afetado pelo Pisf. No projeto, há a distribuição de lotes de um hectare para cada família com a promessa de que, a partir da chegada das águas, possam trabalhar com a terra irrigada. "É a nossa esperança. Nossa ideia é plantar banana para comercializar", diz a pedagoga e agricultora Maria das Dores Bezerra, moradora da Vila de Vassouras, em Brejo Santo.

Por outro lado, o agricultor Damião José Vieira, da VPR Malícia, na divisa entre Ceará e Pernambuco, crê que a burocracia para receber a água pode dificultar o acesso. "A gente tem expectativa, mas vê dificuldade. Não foi executada obra para trazer a água. Estão falando da gente arcar com a despesa da adutora para levar água até os terrenos irrigados. Desse modo, não vai ter como".

A reportagem questionou o MDR sobre o uso da água e como se dará a irrigação nas Vilas Produtivas Rurais. O Ministério respondeu que é prerrogativa dos governos estaduais o planejamento para as demandas de água, assim como a distribuição no seu território. O programa prevê a implantação de 93 sistemas para abastecer 276 comunidades rurais ao longo dos canais, na faixa de 10 km.

Quanto às águas que percorrerão o CAC, a SRH informou que os trechos perenizados são passíveis de outorga, mas o seu uso ainda será discutido. Teixeira reforçou que a utilização será "preponderante para o abastecimento humano. O projeto se dedica ao abastecimento de cidades e, complementarmente, pode aumentar e garantir a agricultura irrigada".

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