Aliados consideram chapa PT-PDT difícil, mas minimizam embates
O histórico mostra que o governador tenta unir dois partidos desde o pleito de 2016, mas desta vez apontam maior dificuldade para isso. Apesar da saia justa para Camilo Santana, governistas descartam possível saída dele do PT
A quatro meses das eleições municipais, o governador Camilo Santana (PT) revive o mesmo dilema do pleito de 2016: formar uma aliança do seu partido com o PDT, comandado pelos irmãos Cid e Ciro Ferreira Gomes, na disputa pela Prefeitura de Fortaleza.
Assim como naquele ano, cada sigla quer ter seu candidato em 2020, a diferença é que, de lá para cá, os embates entre suas lideranças se acirraram a nível nacional, de olho em 2022, e isso reflete nos arranjos locais. É unânime a avaliação de que o governador terá que ter muito jogo de cintura para unir essas forças na Capital, neste ano. Apesar da sinuca de bico para Camilo, descartam saída dele do partido.
Apesar das dificuldades, alguns aliados não acham que é impossível a aliança PT-PDT. Alguns apostam que o gesto de Camilo de exonerar Nelson Martins, um dos quadros mais antigos do PT, da Assessoria de Assuntos Institucionais, pode surtir efeito. Embora a sigla petista tenha escolhido, no último domingo (5), a deputada federal Luizianne Lins para ser candidata à Prefeitura de Fortaleza, o nome dela ainda será homologado nas convenções partidárias, que acontecerão entre os dias 31 de agosto e 16 de setembro.
Fortaleza
Na última sexta-feira (3), véspera do encontro do partido, Camilo se reuniu com a cúpula do PT no Ceará e sondou as condições para uma aliança com o PDT. Deles, ouviu que não existem chances do partido ocupar a vaga de vice na chapa, no entanto, disseram que se os Ferreira Gomes quiserem discutir uma composição com o PT, o nome de Nelson Martins pode ser apresentado como alternativa do partido, desde que ele tenha "compromisso" com o PT, ao contrário de Camilo, que foi uma indicação pura dos irmãos.
Nos bastidores, vários petistas afirmam que Luizianne, desafeto político de Cid e Ciro, está disposta a discutir os cenários sobre a eleição em Fortaleza. Nas palavras de uma liderança, ela está "de boa", porque sabe do risco do PT ficar isolado na corrida eleitoral. Ainda que ela tenha o recall de eleições passadas - foi a terceira deputada federal mais votada em 2018 -, o PT carrega um desgaste, em razão de escândalos de corrupção, e pode sofrer prejuízos sem o apoio de Camilo, que é apontado o maior cabo eleitoral do Estado.
Sabendo que o PT não está disposto a ceder a cabeça da chapa à Prefeitura de Fortaleza deste ano, o deputado estadual Elmano de Freitas acredita que o governador vai tentar colocar na mesa com o PDT a possibilidade de apoiar o PT, mas ele mesmo diz que acha essa conjuntura improvável. Para o petista, esse impasse que se impõe a Camilo não é um constrangimento para ele dentro do partido.
"É a regra da política. Quando a liderança da sua base tem dois candidatos disputando, ele não se mete. Ele tem condições de tentar juntar, mas quais os gestos que o Roberto Cláudio fez na Prefeitura para se aproximar do PT? Eu acho que a postura do governador é de que ambos (os partidos) tenham diálogo de que há um adversário em comum e qualquer candidato do campo progressista que vá para o segundo turno contará com nosso apoio", defendeu.
Partido
Elmano ressalta que os atritos entre os Ferreira Gomes e o ex-presidente Lula não ajudam a unir os partidos. Apesar disso, ele analisa que a relação de Camilo com o PT é tranquila, "a nossa divergência pontual é em relação a Fortaleza", cita. Já outros petistas consideram que Camilo, às vezes, não "fala para dentro do PT" e pode criar dificuldades por isso, mas que, em geral. A situação dele é boa dentro do partido.
Mas Camilo já se queixou de problemas no partido. A ausência dos ex-presidentes Lula e Dilma nas suas duas campanhas para governador do Estado foram sentidas por ele, embora não tenha expressado muito. Recentemente, falou em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste que não foi convidado para reunião com a executiva nacional do partido em Fortaleza, mostrando desconforto.
Petistas, por outro lado, minimizam essas situações e dizem que faz parte da política. Eles lembram que o partido foi importante para o governador, por exemplo, nas últimas eleições de 2018, quando o PT decidiu não lançar o então senador José Pimentel à reeleição, em prol da aliança de Camilo com o MDB. Ele apoiou o então senador Eunício Oliveira à reeleição.
Em meio a essas tensões por causa da eleição em Fortaleza, voltaram as especulações de que Camilo poderá deixar o PT, mas aliados descartam essa tese e analisam ser mais estratégico para o governador permanecer nos quadros do partido, pensando nas eleições de 2022. "Se ele sair, deixa de ser um possível elo para que o debate entre os partidos ocorra. É uma missão de risco", avalia um parlamentar da base governista.
Aliança
Sobre a tentativa de aliança com o PDT, o deputado federal José Airton (PT) disse que vê com naturalidade os movimentos do governador, mas não tem conhecimento de uma construção envolvendo o nome de Nelson Martins. "A opinião de manter a aliança com PDT é legítimo isso, porque ele é apoiado pelo PDT também, mas o PT já definiu a candidatura da Luizianne. O Nelson, se vier a acontecer essa possibilidade, não é do meu conhecimento".
Se para um lado parece difícil a costura de uma aliança nas eleições em Fortaleza, do outro lado também. O presidente do PDT no Ceará, deputado federal André Figueiredo, deixa claro que o partido não vai abrir mão de lançar candidatura em Fortaleza. Quando questionado sobre a possibilidade do PDT apoiar o PT se o candidato for Nelson Martins, o dirigente descarta a chance.
"Não é veto a um nome, é o direito legítimo do PDT indicar um candidato a sucessor de uma cidade que administra. Isso não é uma questão nacional. O PT poderia fazer uma avaliação com idas e vindas, com mão e contramão, não é só indo para ser apoiado, mas também para apoiar. Um partido apoia um município e não é querer ser apoiado em todos, mas enfim assim como o PDT apoiou o governador à reeleição, agora nada mais natural que o PDT indicar o sucessor".
Figueiredo, no entanto, nega que esses impasses sobre a eleição em Fortaleza abalem a aliança PT-PDT no Estado e prega o diálogo dos partidos. "Temos parceria em vários municípios, Fortaleza é que a situação não é fácil", admite. Já o deputado federal Bismarck Maia (PDT) avalia que o processo eleitoral deste ano pode deixar marcas. "A gente apoia o PT no governo, porque o partido não vai apoiar o sucessor do PDT", questiona.
O deputado federal Denis Bezerra, que preside o PSB no Estado, um dos partidos estratégicos para o governador na sua base de sustentação, afirma que o desafio de Camilo de formar uma grande coalizão na eleição em Fortaleza é difícil, mas acredita que pode acontecer. "A gente precisar aguardar e ver o que vai acontecer até a eleição. Se houver alguma decisão de individualidade, com certeza vai respingar em outros municípios", avalia.
O governador, inclusive exonerou Élcio Batista, filiado ao PSB, do cargo de secretário da Casa Civil, para deixá-lo à disposição dos arranjos políticos para a disputa em Fortaleza. Para o deputado estadual Audic Mota, pessebista, diz que Camilo foi inteligente ao exonerar aliados. "Para mostrar ao PT que não foi ele que não propiciou esse diálogo. Tomar uma decisão sem passar por um debate com o maior cabo eleitoral do Estado", questiona.