“Sonhar mais um sonho impossível. Lutar quando a regra é vencer”

Para não esquecer o passado que mudou pensamentos e capturou instituições é fundamental dar sequência a luta contra a barbárie e toda forma de violência urbana

Escrito por Maria Luiza Fontenele ,
Ex-prefeita de Fortaleza
Legenda: Ex-prefeita de Fortaleza

Ser sal da Terra como integrante da Juventude Estudantil Católica (JEC) participando da Marcha do Pirambu ("Somos pessoas humanas, temos direitos que ninguém pode negar"). Dando continuidade a luta em apoio às comunidades que estavam sendo removidas das áreas “nobres” para a periferia não urbanizada. Bem como o movimento contra a fome e a carestia. A luta por “Diretas Já” levou ao enfrentamento do golpe militar, com a fundação do Movimento Feminino pela Anistia (MFPA) movimento capaz de galvanizar corações e mentes, destacando o papel das mulheres na construção de uma nova sociedade. Sonho que motivou ao longo dos anos muitas mulheres que se tornaram guerreiras na história de Fortaleza.
"Onde não há caminhos traçados, voamos!” Ou ocupamos (100 ocupações de terras que marcaram nosso desempenho parlamentar e foram regularizadas durante a Administração Popular). Já sonhávamos com a visão do meio ambiente/inteiro com a elaboração do melhor projeto de preservação do Cocó. O movimento em defesa daquele parque marcou a história de Fortaleza e elevou nossos sonhos pela desestruturação da “cidade - império do carro”. As campanhas pela preservação de parques, praças e espaços públicos tornam-se essenciais para Fortaleza ("em 1985 era a quinta Capital mais mal servida de saneamento, no Mundo").
Ocorre, então, em Fortaleza, o "Grito das Capitais", pressionando o Governo Federal por verbas para urbanização e aumentando a consciência na busca pela preservação de lugares que nos permitam encontros e perspectivas de um novo viver, além de manifestações culturais capazes de fortificar nossos corpos e encantar nossas visões. Visões se clareando e uma esperança cada vez maior de enfrentarmos, não só a maldita herança da ditadura como toda forma de violência. Este é um sonho maior. Um sonho coletivo. Sonhos coletivos não morrem, adubam a realidade e gestam novos seres, livres e conscientes. Nesta perspectiva marcamos a nossa presença na Marcha Mundial de Mulheres na China alertando para o processo de destruição dos seres humanos e meio ambiente. Portanto, a necessidade urgente de aleitarmos os nossos sonhos na construção de cidades que favoreçam a solidariedade e espaços da humana emancipação. Como destaca carta de Dom Aluísio Lorscheider – baluarte da Teologia da Libertação – que defende a relação entre as “Bem Aventuranças” e a emancipação.
Para não esquecer o passado que mudou pensamentos e capturou instituições é fundamental dar sequência a luta contra a barbárie e toda forma de violência urbana. Fruto desse sistema capitalista/patriarcal/produtor de mercadoria que se impôs no mundo pelas armas, visando o alto movimento do dinheiro, está em colapso pelo avanço tecnológico onde a máquina substitui o trabalho humano que produz o valor, provocando o desemprego estrutural.
Nós que integramos o Movimento pela Emancipação Humana afirmamos a urgência de rompermos a submissão a esse sistema destrutivo e realizarmos o sonho da construção de uma cidade igualitária com relações repletas de harmonia e solidariedade humana e ambiental.